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VIVENDO E APRENDENDO A JOGAR

Quem já pendurou as chuteiras há muito tempo deve lembrar. Bem antes das escolinhas de futebol de hoje, tinha a categoria fraldinha. Criançada bem nova vestida com meião, chuteira, camisa e calção, pareciam miniaturas. Nos finais de semana tinha jogo, a família ia em peso. Começava a partida e todas as crianças corriam atrás da bola. Só os goleirinhos espiavam de longe e guardavam suas posições. Quem jogava na linha disputava a bola onde ela estivesse, contra todos os adversários. E até contra boa parte dos companheiros.

Com crianças bem novas é assim ainda hoje e sempre será. Tem que alcançar a bola e chutar. A conclusão é de que a diversão é a bola. Aquele objeto pode reagir de forma surpreendente quando a gente chuta. O tempo vai passando e o jovem boleiro, cada vez mais pensante, busca formas de curtir ao máximo aquela brincadeira. Um dia ele descobre que a diversão está no jogo e a bola é apenas uma parte daquele jogo. Existem posições táticas e cada um vai se adaptar, de acordo com as características que melhor desenvolver. Os mais velozes, os mais altos, os mais fortes, os mais hábeis. O jogo se torna algo apaixonante e por isso, no mundo todo, existem estádios enormes, campeonatos, copa do mundo.

Essa lógica domina todas as estratégias de eficiência. Cada um procura uma parte do campo onde melhor se adapte. Então se especializa, se esforça ao máximo para alcançar o melhor rendimento. As telecomunicações brasileiras já estão entrando no jogo com a melhor formação. O nome é “redes neutras”. Ainda bem, pois isso derruba os argumentos de alguns “atacantes” que querem fazer cada gol deles valer por dois.

Empresas especializadas em infraestrutura constroem redes que podem ser utilizadas por qualquer operadora. Nos Estados Unidos e em outras regiões do planeta esse arranjo já funciona há algum tempo. Aqui também só cresce. De fato, é uma racionalização um tanto óbvia que evita a duplicidade de um tipo de investimento que pode ser compartilhado. Ora, se o compartilhamento direto com a concorrente soa estranho, que cada uma contrate uma empresa neutra, especializada em infraestrutura. Ela será responsável pela integridade no cumprimento do contrato.

Neste mês foi inaugurada a Siena Brasil, voltada para redes subterrâneas. A previsão é investir R$ 1 bilhão até o ano de 2028 para a construção de 6 mil quilômetros de redes no estado de São Paulo. Com os parceiros que a empresa pretende atrair a meta de entrega das redes pode ser antecipada em 3 anos, prevê o empreendedor. As redes subterrâneas são mais caras porém, com a crescente disputa por espaço nos postes, elas podem ser uma alternativa mais segura. A rede de fibra óptica deve dar suporte aos usos B2B e B2C, também no apoio para redes 5G. A infraestrutura deve correr por 4 dutos, tendo um exclusivamente para a Americanet e os outros para oferecer ao mercado. O projeto também prevê uma central de comando e controle para gerenciamento e manutenção.

A Americanet é um provedor regional de Internet. Embora seja uma empresa concorrente de potenciais clientes, os negócios da Siena Brasil vão ser administrados de forma independente. Ademais, hoje são milhares de pequenos provedores pelo Brasil. Não há que se falar em privilegiar este ou aquele em detrimento de outros. O crescimento das redes neutras num país como o Brasil pode representar um movimento de interiorização intensivo das telecomunicações. As três grandes, ao adquirirem bandas de frequência no leilão do 5G, se comprometeram a levar a Internet para regiões remotas. É mais um mercado enorme para empresas de infraestrutura.

Se isso é verdade para o Brasil, muito mais para a Europa, onde a concentração populacional é maior. Por isso, ao questionarem o CAPEX para atendimento da demanda gerada pelas big techs, as operadoras europeias de telefonia estão se esquecendo desse tipo de solução. Não se trata de uma desoneração total, mas de uma redução considerável no custo de atendimento de clientes. A propósito, custo de atendimento de clientes é para ser o mais bem vindo na contabilidade de qualquer empresa. Se as big techs geram demanda, é porque geram também clientes para as operadoras em geral. Questionar essa lógica é pôr em cheque as regras mais elementares do mundo dos negócios.

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