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FORÇAS QUE AINDA NÃO SABEMOS CONTER

O auge do Boxe na mídia de massa foi no tempo do Mike Tyson. As lutas nem duravam tanto. Mas o espetáculo começava muito antes, semanas ou meses. Eram provocações pelos jornais, depois as entrevistas, pesagem, encaradas. No dia da luta tinha a entrada colossal dos lutadores no estádio, as inspeções antes de entrar no ringue, a apresentação de cada um nos corners e então…  10 ou 15 minutos de luta. Um jab que entrou ali, outro aqui, adversários “se estudando”. Um clinch, mais um, lutador encostou o outro nas cordas, os golpes ficando mais contundentes. Não pode isso nem aquilo, público vibrando e logo acabava. De novo, só daqui a alguns meses.

Demorava para acontecer outra luta porque o ritmo do boxe só encantava quando era entre os máximos do máximo. Quer dizer, os melhores da categoria mais pesada. Fora isso, não tinha muito apelo. A luta é muito técnica, às vezes vira um tédio. O MMA – Mixed Martial Arts, ou artes marciais mistas, mudou isso. Só foi mantido o ritual midiático. A modalidade também é muito técnica mas, se um vem para o clinch, o outro joga no chão, pega no pescoço, tem pontapé, cotovelada, joelhada. É porrada de todo jeito, em todos os pesos e até entre mulheres. A variedade de golpes é muito maior, alguns inovam, surpreendem. E o público gosta de coisas novas, de ser surpreendido.

Aqui a luta em destaque é na alta tecnologia. Tão disputada, tão combativa, que guarda algumas semelhanças com esses dois momentos do esporte. De um lado lembra o boxe, com muito poucos protagonistas. No caso, lá em cima está o grupo do gafam. Ou famag, mafag, qualquer sopinha que se invente com as letras iniciais das marcas Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft. Por outro lado é muito mais MMA. Golpes de todos os tipos, vindos de todos os lados. E o juiz fica mais limitado, cada vez menos consegue interferir.

O que algum órgão de defesa econômica pode fazer, por exemplo, contra o Google? “-Você não pode mais ficar com 92% dos acessos a sites de buscas no mundo. Proibido criar robôs mais inteligentes, não pode aceitar tanta publicidade, vai ter que vender alguns ativos…”. Nesse último caso, tudo bem, eles escolhem umas empresas do grupo, ficam com as equipes mais criativas e vendem o patrimônio, patentes. Depois inventam um monte de outras coisas.

Excetuando a solução chinesa, discricionária em seu território, ainda não inventaram alternativas negociadas para impedir esses oligopólios. Até pandemia joga a favor, no caso dessas cinco grandes empresas. Matéria do site Convergência Digital trouxe dados do portal Finbold, que estabelece como referência o período entre 2019 e 2020. Quando compraram 35 empresas potencialmente concorrentes, algo que representa um aumento de 69,78% em relação às aquisições realizadas no período anterior. No período seguinte, entre o primeiro trimestre de 2020 (começo da pandemia) e o primeiro trimestre de 2021 (fase mais grave nos países desenvolvidos), as aquisições cresceram 125%. A mesma matéria cita pesquisa publicada em 2009 – logo na depressão econômica gerada pela crise do “sub prime” – constatando que aquisições de empresas durante fases críticas da economia costumam gerar mais retorno. Coisa de até três vezes maior do que em fases normais.

Dirão que, por outro lado, as empresas menores são muito mais ágeis para inovar, por isso podem surpreender a qualquer momento. Pois são essas mesmas que as grandes estão engolindo. Como o Facebook fez com o WhatsApp. Nessa onda recente de aquisições, em plena pandemia, o foco das gigantes esteve sobre “tecnologias emergentes” como inteligência artificial, realidade virtual, serviços em nuvem e cadeia de suprimentos. Sem contar aquela área de negócios da vez, a indústria de entretenimento, incluindo jogos. É assim para as cinco grandes. No presente trabalham em seus produtos que já fazem sucesso, e compram um futuro prontinho para se manterem na ponta.

Enquanto isso, no final da semana retrasada, ministros da economia do G7, grupo que reúne os sete países mais ricos do mundo (exceto a China), fecharam um acordo em torno de uma reforma tributária “adaptada à era digital”, segundo informou o portal UOL. Foi um encontro característico do momento traumático que o mundo vive. Suscitou frases quase poéticas sobre as mudanças propostas, como “uma boa notícia para a justiça e a solidariedade fiscais”.

A mudança teria alcance global, por isso vai ser levada à cúpula do G20, no mês que vem. A ideia é que os impostos sobre as grandes multinacionais sejam cobrados, em parte, sobre os lucros obtidos em cada país onde atuam, e em favor dessas nações. Pelos critérios propostos, vão incidir principalmente sobre as grandes americanas de tecnologia. Hoje elas registram suas sedes em paraísos fiscais para pagarem menos impostos. Com as mudanças, essa vantagem desaparece. E o governo americano também vai arrecadar mais. E espera reduzir o ímpeto oligopolista dessas gigantes, dando fôlego para concorrentes menores. Os planos são esses. Mas a criatividade fiscal dessas gigantes da tecnologia ainda pode surpreender.

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