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GUERRA DOS MUNDOS

Você sempre foi mais “software” do que “hardware”. Quer dizer que você interage muito mais dentro do seu pensamento do que no mundo concreto. É lá, no seu pensamento, onde está a maior parte do mundo em que você vive. Independentemente das vezes em que você pode ter visto pessoalmente Barack Obama ou o Papa Francisco, William Bonner ou Ivete Sangalo, com certeza cada um deles está mais presente na sua vida do que a grande maioria dos seus vizinhos. Até o seu chefe possivelmente está mais no seu pensamento do que à sua vista. Sim, existir é um fato abstrato, uma experiência virtual.

Isso explica, em parte, porque o mundo virtual da Internet cada vez mais absorve as pessoas, permeia tantas vidas. Num mundo sem limites de tempo ou espaço, sem distâncias, onde seu círculo social está tão presente quanto o seu trabalho, onde todas as bibliotecas do mundo chegam à sua prateleira, quase tudo fica muito mais fácil. É o mundo de software, que agora disputa as horas do seu dia com esse mundo “hard” onde você respira. A prova pôde ser vista mais uma vez na CES – Consumer Eletronics Show, a exposição anual de dispositivos de consumo (todos reais, com volume, peso e cor) que aconteceu durante a semana em Las Vegas. Uma feira de hardware, dominada pelo software, principalmente programas de acesso à conteúdos e serviços da Internet. O motivo é que, para as empresas eletrônicas, o espaço no mundo virtual já vale mais do que o espaço no mundo real. Algumas empresas já fizeram as contas e os números são incontestáveis.

NÚMEROS ABSOLUTOS

A Samsung, que disputa posições top nos segmentos de celulares e TVs, já começa a migrar para o mundo da Internet. E o motivo é simples. Em 2010, para cada dez smartphones vendidos, 9 custavam mais de US$ 200,00. No ano passado, os preços desses hardwares eram inferiores aos US$ 200,00 para mais da metade dos novos modelos. No segmento de TV a queda foi maior ainda, com um faturamento em 2014 inferior ao do ano anterior. Nem a Copa do Mundo salvou as vendas da queda. É que agora as TVs são digitais, assim como os celulares. Os fabricantes de aparelhos estão investindo em máquinas cujo hábito de uso vai ser direcionado pelo Google, pela Apple, pela Netflix. São os fabricantes de softwares que definem o maior ou menor interesse pelos novos aparelhos.

Mas afinal, o que não é digital hoje em dia? Ou ainda, o que nunca será digital? Diante dessas perguntas, fabricantes de carros estão assustados. E também os fabricantes de casas inteligentes e dos mais diversos produtos de uso pessoal. Google e Apple já disputam os painéis dos carros. Uma versão do Android já está em vários modelos, interligando-os ao smartphone, por isso a Apple corre atrás com o CarPlay, um sistema similar lançado em março. A tendência é que, muito além dos pneus, os ocupantes dos carros trafeguem cada vez mais pelas facilidades e atrativos que desenvolvedores vão criar para o ambiente dos veículos. Thilo Koslowski, vice-presidente da área automotiva do Gartner, alerta para o risco de a indústria automotiva se tornar uma fabricante de “impressoras”, onde o Google apareceria como PC.

UMA GUERRA E UMA ESPERANÇA

Casas inteligentes, cada vez mais vão ser ambientes povoados por equipamentos digitais, desde as luminárias até o chuveiro. Todos tendem a estar integrados, via Internet, para conversar com os moradores sobre as comodidades mais oportunas, a gestão de energia, de resíduos. A pressão arterial de cada morador, o sono do bebê ou o horário do remédio dos idosos, tudo tende a acontecer quase que espontaneamente, pela integração de plataformas onde circulam as mais diversas informações.

Por enquanto, a tendência é de que essas conversas aconteçam pelos sistemas mais universalizados, como o Android, da Google, o IOS, da Apple e até o Windows, que começa a crescer nos dispositivos móveis. Eles devem estar nos “cromossomos” dos engenhos virtuais que desenvolvedores vão criar no mundo real, para replicarem indefinidamente no mundo virtual, dos softwares.

A grande esperança nessa guerra dos mundos é que, pelo flanco virtual, os sistemas otimizem os mais diversos recursos do mundo real, como a energia, os transportes e até a produção de alimentos. Isso pode representar uma esperança concreta de que os conflitos e as nefastas guerras do mundo real sejam minimizadas.

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