sexta-feira, 19 de junho de 2015
“Em uma empresa de inovação, tudo que você sabe pode virar fumaça de um projeto para outro. Quem quer inovar tem que querer aprender.” Seria apenas uma resposta lógica se não representasse uma reviravolta tão grande na carreira que um engenheiro da EiTV planejou desde a adolescência. Uma história que, no passado, seria trágica. Como foi para telegrafistas, calibradores de carburadores, escaneadores de cor e tantos outros que assistiram “on line” ao desaparecimento de suas profissões.
A interatividade na TV Digital quase sumiu. Foi um dos desafios de origem da EiTV. O Playout, um dos primeiros produtos da empresa, habilita tecnicamente a interatividade na transmissão digital, é um produto para emissoras. Para o público interagir, o receptor tem outra solução tecnológica. São as implementações do software Ginga, o “middleware” desenvolvido no Brasil, de código aberto. Desde o lançamento, na década passada, a equipe da casa sabia que os pesquisadores que criaram o Ginga ainda não tinham uma suíte de testes, nem todos os padrões prontos. Mesmo assim a missão era “tunar o motor” daquele protótipo que não parava de rodar pelo mundo. Foi preciso “gingar” pra valer…
O aprofundamento no sistema Linux foi só o ponto de partida. Outras linguagens, quase desconhecidas, foram destrinchadas pela equipe e um trabalho árduo permitiu a organização do código Ginga para as implementações. Criou-se na empresa até o emulador para rodar os aplicativos em PCs. Muito trabalho depois, pouco tempo mais tarde, a primeira implementação do Ginga capaz de interagir com aplicativos chegou aos set-top boxes brasileiros. A provedora era a EiTV!
TUDO PRONTO PARA O GRANDE DIA
A marca da empresa ostentou o pioneirismo nos principais momentos do Ginga no Brasil. O primeiro aplicativo a ir ao ar no país foi sintonizado em muitos lares graças ao EiTV Middleware. Foi durante a novela “Caminho das Índias”, um dos grandes sucessos da história da Rede Globo. Depois veio o EiTV Developer Box, mais uma vez, a primeira plataforma para desenvolvedores de aplicativos Ginga. Enquanto isso, as implementações da casa também foram licenciadas para grandes clientes nacionais e internacionais. Como o Ginga praticamente tomou conta da América Latina e de alguns países na África e Ásia, uma fabricante chinesa embarca em seus televisores e set-top boxes as implementações EiTV Middleware para o mercado do Sistema ISDB-T. São milhões de aparelhos, colocando a marca em cada canto do mundo onde se sintoniza o sistema.
O EiTV Middleware alavancou outros projetos. A quarta maior fabricante de televisores do mundo, sediada no Japão, encomendou um aplicativo para o segmento de hotelaria nos países do Sistema ISDB-T. Através da tecnologia EiTV os hóspedes de hotéis que usam os televisores da marca podem escolher uma refeição pelo controle remoto, enquanto assistem à TV. Vários outros serviços desses hotéis ficam disponíveis no aplicativo.
O refrão desse samba é que a EiTV deixou pronta toda a tecnologia para suportar a interatividade no Brasil e países do Sistema ISDB-T. Faltava apenas as emissoras criarem esse novo hábito na audiência.
A INOVAÇÃO NOSSA DE CADA DIA
O Ginga foi reconhecido mundialmente pelo ITU como o melhor middleware para TV Digital, mesmo sem ter um “pacote” completo. Isso foi o bastante para destacar a tecnologia brasileira, ao mesmo tempo que desestimulava os países desenvolvidos a investirem na “interatividade broadcast” de seus sistemas. Afinal, o nosso é o melhor. Porém, para concorrer no mercado, nós temos apenas o Ginga e eles, as tecnologias para celulares, tablets, notebooks; nós temos a maior TV aberta do mundo, eles, usam sistemas por assinatura, mais completos; nós temos as piores e mais caras conexões de Internet e eles, as melhores e mais em conta; acima de tudo, nós temos uma renda per capta desfavorável e uma desigualdade social gritante.
Enquanto inventávamos, a cada dia, um novo pedaço do Ginga, apostando no futuro, o chamado Primeiro Mundo faturava a cada gadget que punha no mercado. Principalmente o celular e tablet conseguiram lugar cativo na sala de TV, fazem a chamada “segunda tela”, o outro caminho por onde a interatividade começou a acontecer. As smartTvs facilitaram mais ainda. Mas, para quem não pode pagar por tudo isso, como a maioria dos brasileiros, o Ginga ainda poderia ser uma alternativa barata.
A última grande chance para o melhor sistema de TV Digital do mundo foi o projeto Brasil 4D, proposto pela estatal EBC – Empresa Brasileira de Comunicação. A interatividade chegaria, com todo seu potencial, aos 14 milhões de lares atendidos pelo Bolsa Família. Sem custos para o Governo, apenas por conta das compensações das operadoras de celulares. Até o último momento para decidir, o aceno do mercado era “não”. A equipe Ginga da EiTV já sabia que “engenharia de televisão” deixaria de ser a carreira para profissionais da casa que fizeram tantos planos. Por outro lado, todos estavam conscientes de que toda inovação tende a ter um ciclo curto. São preparados para mudanças desse tipo. Em cada projeto o empenho tem que ser pelo primeiro lugar, na qualidade e na ordem de chegada. Assim é possível compensar todo o investimento da empresa e ainda trazer um retorno satisfatório, mesmo que o ciclo daquela tecnologia seja muito curto.
Quando ninguém mais esperava a história do Ginga teve uma reviravolta, com um final feliz para a EiTV, raramente vivido em uma empresa. Numa atitude governamental inédita de valorização da tecnologia brasileira, o Ministro Ricardo Berzoini negociou uma solução para a “interatividade inclusiva”. Nos próximos anos o mundo vai assistir a um marco histórico da tecnologia de televisão. Podem apostar!
Quanto ao nome da carreira que o engenheiro da equipe EiTV Middleware planejava, segundo ele, vai demorar um pouco pra saber: “-Só me perguntem daqui uns 30 anos, depois que eu aposentar.”
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