sexta-feira, 24 de março de 2017
É o Pato Donald que aparece na capa de todos os gibis da franquia, no título dos desenhos animados da série. Mas o que seria dele sem Huguinho, Zezinho e Luisinho, seus sensacionais sobrinhos!? Eles nunca foram meros coadjuvantes, mas protagonistas, ainda que com menor espaço. Atuam de maneira decisiva para que as tramas façam a alegria do grande público.
A televisão brasileira tem uma emissora “Pato Donald”, com maior visibilidade, presença marcante, destaque entre o público. Mas este entretenimento criativo, o mais consumido pelo público brasileiro, seria um porre tremendo se não houvesse outras opções no ar.
Esse fato vem sendo ignorado pelas operadoras de TV por assinatura no Brasil. Para elas, basta pagar para ter a Globo no line up e as outras que se acomodem no espaço que sobrar. É a chance delas continuarem na disputa pelo segundo lugar.
Tudo bem, se a gente não vale nada, então nada, mais nada, mais nada, pela aritmética básica é igual a nada. Não é esse número que aparece na calculadora do Ibope. Somando-se a audiência apenas do SBT, Record e RedeTV! ocupam-se 20% da massa de assinantes na cidade de São Paulo. E com dois dígitos não se brinca.
Pois são elas, SBT, Record e RedeTV! as três emissoras que resolveram negociar em grupo com as operadoras. Formaram a Simba Content, uma joint venture que nasceu no final do ano passado, com a responsabilidade de negociar o conteúdo total das três redes junto às operadoras. Elas esperaram até a data do switch off (encerramento definitivo do sinal analógico de TV aberta) na Grande São Paulo – para iniciar as negociações. Agora elas têm voz. Como já dizia o velho ditado, “a união faz… dois dígitos”.
FALA-SE EM DOBRAR A RECEITA
Quando a Simba Content foi formada houve uma forte pressão contrária por parte das operadoras. Elas temiam ser “abusadas” pelas, até então, inofensivas pequenas redes. Foi necessário que o CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica – analisasse a situação. Uma das condições para a autorização da parceria comercial foi o uso de 20% do faturamento da Simba para a produção de novos conteúdos.
As três redes não viram nenhum problema nessa imposição. E até já fazem planos para um outro segmento de negócios da joint venture. Em pouco tempo deve iniciar o empacotamento de conteúdo adquirido de outras produtoras, que vão para a mesma prateleira onde estarão as produções conjuntas do grupo. A venda de séries que já foram ao ar pode também ser oferecida para comercializar no menu de VOD das operadoras.
A expectativa é de que o switch off analógico em São Paulo seja o embalo para a Simba negociar a programação das três emissoras em todo o país, onde existem cerca de 19 milhões de assinantes das várias operadoras. A receita estimada pode chegar a um valor equivalente ao que SBT, Record e RedeTV! faturam na TV aberta com publicidade.
Embora o otimismo tenha tomado boa parte dos executivos das três redes ainda não dá para fazer altas apostas. Com o sinal digital gratuito está crescendo um outro fenômeno observado no mundo todo: é o chamado cord cutter, o cancelamento das assinaturas de TV, já que a qualidade do sinal aberto digital ficou pelo menos igual ao enviado por cabo ou satélite. Essa grande jogada das três redes tem potencial para mudar, no médio prazo, o cenário do setor televisivo no Brasil.
JOGANDO SEMPRE “NA BOLA”
No mercado de TV aberta não há como pensar em parceria entre as emissoras. A relação é direta com o público, então é cada um por si. Mas as operadoras vendem pacotes de emissoras e isso abriu espaço para um pacotinho disputar lugar entre tantas estrelas. Se a fórmula for nova pode inspirar experiências semelhantes em outros países.
Um dos apoios que a Simba Content espera trazer para a disputa são os simpatizantes mais identificados com a imagem que cada uma delas construiu. São quase “torcedores” da emissora, tanto no caso do SBT, como da Record e até de outras redes menores. Um fenômeno que as redes sociais parecem ter fortalecido. Por algum motivo, parcelas do público acabam assumindo uma defesa desta ou daquela emissora. Talvez, para o telespectador, valha como uma prova de que ele foi capaz de descobrir um valor que outros estão demorando para perceber. Mais ou menos como apresentar aos amigos uma cachaça que você descobriu num pequeno sítio e que é melhor do que os rótulos mais caros. “-Ah, aquela cachacinha do Lelo!”
Até aí seria uma mobilização legítima e muito pertinente. Tomara que fique assim. Porque alguns comentários acusam estratégias inadequadas, que ninguém quer acreditar que sejam verdadeiras.
Uma publicação recente fala de uma autêntica chantagem que estariam urdindo no contexto de uma jogada imoral. Seria baseada no PLC 79, que já foi barrado numa tentativa sorrateira de aprovação por parte de congressistas, no final do ano passado. O projeto de lei complementar altera a Lei Geral das Telecomunicações com benesses inexplicáveis para as operadoras de telefonia. Pode somar quase R$ 100 bilhões em benefícios, incluindo anistia a multas que as teles vem acumulando há anos.
De acordo com a publicação, como as teles atualmente também operam TVs por assinatura, elas seriam pressionadas pelas três emissoras da Simba Content a aceitar a inclusão do pacote em suas programações. Caso contrário, as três redes sairiam em campanha para denunciar a imoralidade que o PLC 79 carrega.
Comentários desse tipo mancham o brilho de uma hábil e criativa composição empresarial. O pacote televisivo tem potencial para se sustentar pela qualidade. Não haveria motivo para trair dessa forma a audiência.
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