sexta-feira, 27 de maio de 2016
“Nossa propriedade tem sido confiscada e passada gratuitamente para novos competidores para que eles tenham vantagem, apesar de um mercado robusto e competitivo.” Pode parecer, mas isso não é uma bronca da esquerda. O protesto é de Michel Powell, presidente da NCTA, a associação americana das empresas operadoras de TV por assinatura. Ele criticava a FCC, órgão regulador do setor nos Estados Unidos.
É a maior crise política que o setor já viveu naquele país. Wall Street está na briga. Especialistas da Bolsa de Valores acusam a FCC de ser defensor do Google. A analista Marci Ryvicker, do Wells Fargo Securities, cita uma postura agressiva da FCC “contra todos os entes regulados, do cabo à televisão, passando pelas empresas de telecomunicações.” E para a Internet, nada de regulação. O auge da crise foi durante o INTX 2016, o evento do setor nos EUA, que aconteceu em meados deste mês de maio em Boston. As operadoras falam de um “ataque regulatório incansável”. A Comcast, maior operadora a cabo americana, tentou há alguns anos comprar a Time Warner Cable, mas não conseguiu aprovação. As condições impostas para a fusão entre a TWC e a Charter foram consideradas duras. Isso dá aos investidores a sensação de que não há pra onde correr. Ainda por cima a FCC impõe obrigações como a aceitação, por parte das operadoras, dos set-tops de terceiros para a distribuição de conteúdos desses concorrentes.
O que este blog antecipou em 2014 parece estar se confirmando como visão do governo americano. A TV a cabo seria um passivo tecnológico, uma solução que não tem mais utilidade, diante de tantas alternativas que a Internet trouxe.
A TEORIA DA CONSPIRAÇÃO
Como as operadoras a cabo também distribuem o sinal de Internet, ficam numa posição suspeita. É como um adversário que tem a obrigação de primeiro entregar a espada ao oponente. É isso que inviabiliza uma solução técnica já testada que, teoricamente, funcionaria. As operadoras ofereceriam um pacote mínimo, os “skinny bundles” e o lado Premium da programação estaria disponível num cardápio. O problema é que cada um teria que baixar suas escolhas pela Internet. Na prática, se o hábito pega, logo outros concorrentes podem dominar justamente o lado Premium dos pacotes.
A disputa tecnológica, para a FCC, é entre a TV por assinatura e as alternativas OTT que estão surgindo. Ao que parece, a FCC quer que a tecnologia tradicional comprove as vantagens competitivas para o consumidor. Por outro lado, o ATSC 3.0, novo sistema digital da TV aberta americana, deve ser adotado em todo o país até o final desta década. Os recursos já anunciados são revolucionários e mais novidades ainda podem ser agregadas. Ele chega, oficialmente, para “descongestionar” o ar, porque vai reduzir o uso do espectro eletromagnético pelas emissoras de televisão, abrindo mais espaço para o uso de outras aplicações digitais. Porém, sob este raciocínio, seria melhor reduzir a qualidade do sinal aberto, e não viabilizar a transmissão 4K. Quem quisesse qualidade, pagaria a assinatura de alguma operadora. Por essas e outras, permanece a hipótese do interesse estratégico do Governo Americano sobre a comunicação via Internet. Uma plataforma sobre a qual ele já demonstrou um razoável controle.
POR CIMA DE TODA A CONFUSÃO
Nessa briga, o único lado que só sai ganhando são os produtores de conteúdo. Não importa para qual sistema será transcrito, a forma que vai ser entregue, porque a propriedade intelectual vai ser paga. Por isso, todos os meios desenvolvem tecnologias cada vez mais a prova de pirataria. Eles ganham em cima da entrega do conteúdo, tem que protegê-lo com todo cuidado.
A constatação tem levado todo o mercado a buscar a verticalização nessa indústria. A Comcast, assim como o Netflix, são grandes produtores de conteúdo. A Verizon, que já comprou a AOL, deve fazer uma oferta pelo Yahoo a qualquer momento. E os investimentos em conteúdo só crescem. A Comcast, atual proprietária da DreamWorks, anunciou uma equipe de 4,5 mil profissionais para a cobertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro. Conteúdos jornalísticos exclusivos para os assinantes sem nenhuma possibilidade de entrega por OTT, garante a empresa. Aos poucos, algumas “constantes” vão se firmando na complexa equação do mercado da Internet, que começou com muitas “variáveis”. A mais consistente delas é sobre a proteção de conteúdos. A pirataria tende a se tornar um crime cada vez mais combatido. Portanto, se você sonhava com seu filho enriquecendo como engenheiro, é melhor prestar mais atenção no desempenho dele no teatro da escola.
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