sexta-feira, 18 de março de 2022
A tecnologia promete muitas coisas. No entanto é comum acontecer de, ao final, … vir muito mais. A TV digital é um caso clássico no Brasil. No começo foi a promessa de um salto de qualidade de som e imagem, fidelidade quase total na transmissão, sem ruídos. Entregou tudo. Telas muito maiores, economia de energia nos aparelhos, possibilidades de up-grades sucessivos, como a imagem 3D, o 4K, som imersivo, … Também entregou. E é na transmissão do sinal – que também já teve uma economia de energia surpreendente – onde agora aparece mais um ganho, com a otimização do espectro. Nome complicado para dizer que a capacidade instalada permite colocar (muito) mais canais no ar.
Isso tudo está acontecendo não apenas porque a tecnologia está avançando nos grandes centros de desenvolvimento. Mas porque um processo gerencial muito eficiente, aqui no Brasil, está sabendo capitalizar ao máximo esses avanços. A tecnologia nacional é muito importante nesse contexto para adaptações à realidade brasileira.
Esse processo gerencial foi deflagrado em 2012, quando as operadoras de telefonia móvel, as teles, pediram ao Ministério das Comunicações para antecipar a implantação do 4G. Para isso, precisaria antecipar a liberação de faixas de frequência que eram utilizadas pela TV aberta. Ora, o Brasil estava implantando a TV Digital aberta, cuja tecnologia permitiria liberar faixas de frequência para outros usos. O então ministro Ricardo Berzoini juntou uma coisa a outra, reuniu todas as partes interessadas – e aí está a razão do sucesso! – e chegou-se a um acordo. Seria realizado um leilão das faixas de frequência que as teles precisavam. Quem participasse precisaria contribuir com a formação de um fundo de mais de R$ 5 bilhões para atender todas as “compensações”, desde conversores para famílias carentes até transmissores para algumas emissoras cujos canais ocupavam as faixas leiloadas. Duas empresas privadas com fins específicos foram criadas para administrar o fundo e o Fórum SBTVD ganhou maior dinamismo. Hoje, o que mais chama atenção é o protagonismo que o Fórum SBTVD assumiu nesse processo. Destaque também para o entusiasmo que o atual Ministro Fábio Faria demonstra, por meio de uma atuação firme na expansão do sinal digital pelo Brasil.
O sucesso do Fórum vem justamente da união de representantes de todos os setores envolvidos: emissoras de TV, academia, centros de pesquisas, teles, órgãos governamentais, representantes de ministérios, representações setoriais, indústria de equipamentos, empresas de informática etc. É aquilo que, no passado, seria considerado um balaio de gatos de onde não seria possível tirar nada de útil. A grande diferença é que, nesse caso, antes de tudo havia um bom projeto inicial.
É verdade que teve o chororô das teles, das emissoras, vários setores puxando a sardinha pra lá e pra cá. Mas havia um propósito, metas claras, bom senso e persistência. Foi sob essa coordenação, encabeçada pelo Fórum, que todas as metas foram atendidas e estão sendo alcançados maiores avanços. O Brasil já tem projetos altamente competitivos para sistemas de TVs 2.5 e 3.0. Com o programa Digitaliza Brasil, criado pelo atual ministro, mais 1627 municípios já formalizaram adesões e a TV Digital vai chegar a 100% do território nacional. Algo que não parecia ser possível para os próximos 15 anos, pelo menos. Quanto custou? Em dinheiro público, praticamente zero!
O Brasil, como maior praça de TV Digital aberta do mundo, passará a ter uma das maiores redes de sinal digital do planeta. Com os vários recursos que essa rede permite, vai ser possível dinamizar a economia nos locais mais distantes dos grandes centros urbanos. Muitos serviços vão chegar até populações que hoje vivem quase num isolamento. Sem contar o caminho que essa rede está abrindo para a Internet. Nesse cenário, as empresas que há alguns anos temiam ver seus negócios fracassarem, hoje vivem a expectativa de ampliarem seus horizontes, de fortalecerem seus caixas. Em recente matéria do site TelaViva especialistas revelaram um clima de ansiedade entre as emissoras, para negociação do espaço de transmissão que estão ganhando.
É curioso observar que o Fórum não tem poderes para decidir ou impor qualquer rumo, em qualquer nível. É o que se pode chamar de uma “instância de consenso”, uma vez que é pela via do entendimento que tudo está acontecendo. Desenvolvimento tecnológico também se faz assim. Não existe “aparelho” ou qualquer sistema eletrônico capaz de construir alternativas tão eficientes quanto aquelas produzidas por diálogos inteligentes.
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