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QUANTO CUSTA A FALTA DE INTELIGÊNCIA

O Agronegócio e a Mineração somaram pouco mais de 45% das nossas exportações em 2022. Isso foi muito bom para os nossos concorrentes internacionais na indústria. Pois é em cima das matérias primas brutas – como o Brasil exporta – que a indústria gera valores centenas de vezes maiores. Também é lá fora que nossas matérias primas geram muitos empregos, salários, renda, impostos, …

Mais números ajudam a entender o contrassenso. Da porteira para dentro o agronegócio brasileiro empregou pouco mais de 4 milhões de pessoas. É muito pouco para um total de mais de 80 milhões de trabalhadores empregados no país. Os valores exportados pelo agronegócio foram praticamente idênticos ao exportado pela mineração. Que emprega menos de 210 mil pessoas no Brasil, ou 5% do que o agronegócio emprega (que já é pouco!). Esses valores não ficam aqui porque a indústria brasileira vai mal. Desde o ano de 2009 começou a ser observada uma redução no faturamento industrial, na produção, empregos, investimentos, exportações. Não é simples saber por onde começar a retomada das fábricas.

Um olhar mais analítico está sendo lançado sobre as tecnologias digitais avançadas presentes na indústria nacional. O IBGE realizou uma pesquisa nas indústrias de grande e médio portes do país, tomando como critério as que têm mais de 100 empregados. São quase 9.600 empresas. A conclusão é de que 85% delas usam pelo menos uma ferramenta digital avançada. A pesquisa também levantou dados relacionados a teletrabalho e cibersegurança. Não será necessariamente o investimento em tecnologias digitais avançadas que vai resolver todos os problemas da indústria brasileira. Mas já faz algumas décadas que o mundo vem observando as vantagens que a informatização traz para todas as áreas de produção. Portanto, convém olhar com atenção para essas ferramentas e avaliar como elas podem ajudar a indústria brasileira.

A tecnologia digital avançada mais comum entre as indústrias pesquisadas é a computação em nuvem, ou cloud, como é mais conhecida comercialmente. Ela está em 73,6% das empresas consultadas. Tem um solavanco para a segunda tecnologia, a internet das coisas (IoT), que está em menos da metade das indústrias da amostragem (48,6%). Outro solavanco até a robótica, a terceira tecnologia digital avançada, que aparece em 27,7%. Na sequência vêm análise de big data (23,4%), manufatura aditiva (19,2%) e, na lanterna entre as pesquisadas, com 17%, a inteligência artificial. Inteligência, diga-se, não tem sido o forte das indústrias brasileiras ultimamente. Desde a mais importante, a natural, que envolve criatividade e agora, também a artificial chega modestamente. Uma realidade que não é algo isolado no Brasil como um todo.

Desde que surgiu a indústria, a inteligência passou a ser algo cada vez mais caro. Não apenas para o desenvolvimento de máquinas, mas também para a gestão, metodologias de produção, logística, a visão de negócios, marketing, estratégias de crescimento. Tem que investir em equipes que tragam essas ideias. E hoje é nas equipes, na inteligência natural, onde está o principal gargalo do crescimento econômico nacional. No último mês de maio o MBC – Movimento Brasil Competitivo, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços divulgou um cálculo aproximado do chamado “Custo Brasil”. Seriam os gastos que as empresas instaladas no Brasil têm além da média de gastos das empresas em países da OCDE. O valor corresponde a cerca de um quarto de todo o PIB nacional. E o maior impacto nesse custo é o Capital Humano. Em outras palavras, é o que se pode chamar de “inteligência natural”.

A parte técnica do cálculo, com apoio da FGV, considerou 12 eixos responsáveis por onerar a atividade econômica no Brasil. Os seis principais, além do capital humano, envolvem financiamento do negócio, infraestrutura disponível, ambiente regulatório, integração de cadeias produtivas globais e tributos (não necessariamente nesta ordem depois de capital humano). Juntos, representam 80% do custo Brasil, o dinheiro jogado fora.

A inteligência artificial vai ajudar, com certeza, mas nunca vai preencher sozinha as carências do capital humano. Até porque não se trata de um investimento a ser feito num balcão, olhando para uma prateleira. São necessários muitos critérios para a escolha, que pode ser bem diferente de uma empresa para outra.

A reforma tributária, já aprovada, tende a ser um fator importante no esforço de aumentar a competitividade brasileira. A implantação ainda demora, mas já é um passo dado. Quanto às soluções digitais avançadas e outras carências, o problema continua o mesmo e o prazo para solução não aumenta em nada. Afinal, a economia de um país não para pra trocar pneu.

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