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DE VOLTA PARA O FUTURO DA TV DIGITAL

O Brasil se transformou na maior praça da TV aberta do mundo porque, aqui, o televisor sempre foi um vendedor dentro de casa. Vendia a ideia de se ter algo e as pessoas contavam o tempo para ir até a loja. Quanto mais o povo comprava dos anunciantes, mais as emissoras ganhavam. E elas souberam investir em conteúdos que mantiveram o público ligado, comprando cada vez mais.

Com a TV a cabo não era assim. O público pagava pelo conteúdo, para ver o que queria, nada de anúncio quebrando o clima. Aos poucos os “reclames” foram pisando cuidadosamente nas TVs a cabo e nem por isso o público desapareceu. O tempo está apontando – e a tecnologia customizando – o televisor em sua plena vocação de vendedor. Para vender mais do que a ideia, fechar negócio mesmo. A verdade é que sr. e sra. consumidores gostam mesmo é de comprar. Se pudessem, trariam um shopping para dentro de casa. E é mais ou menos isso que a tecnologia digital está preparando.

A Rede Globo, em parceria com as Casas Bahia e com a agência de publicidade Young & Rubicam, estão lançando o primeiro projeto do gênero no Brasil. Uma iniciativa que precisa ser meticulosamente analisada, para projetar os desdobramentos possíveis, que podem assumir dimensões além das fronteiras brasileiras. O projeto de T-Commerce começa a acontecer em edições do programa “É de Casa” – nome sugestivo para esse tipo de projeto! – que vai ao ar nas manhãs de sábado. Em determinados momentos do programa aparece na tela uma pequena imagem do site das Casas Bahia. Peças do cenário, ou similares, estarão disponíveis para compra, além de outras promoções. Quem estiver interessado, clica num botão do controle remoto, a área de interatividade se expande e a compra prossegue. Nas edições do programa os apresentadores já estão fazendo demonstrações.

Moderninho, né!? Só que não. A tecnologia necessária para essas tele compras está disponível na TV aberta brasileira há 10 anos. Aquele televisor antigo, quadradão, com um conversor digital e qualquer versão do Ginga, são suficientes para fazer essas compras pela TV. Para especular sobre as razões dessa modernidade retroativa, precisa uma visão mais contextual.

Por volta de 2010, quando pesquisadores brasileiros decidiram desenvolver o sistema mais avançado de interatividade, o Ginga, exclusivo para broadcast, comprar pela TV não era uma tendência. A TV aberta estava jurada de morte e a Internet – o broadband – era a grande promessa para o entretenimento e novos canais de comunicação, inclusive para vendas. Assim, a ideia de vender pela TV aberta não se mostrou atraente, parecia não ter futuro. Ninguém quis arriscar.

De lá para cá o Netflix, que tem cara de TV aberta, cresceu exponencialmente e a onda OTT avançou. A capilaridade da TV aberta se revelou importante, principalmente pelo Jornalismo mais ágil, voltado para as questões locais, mais próximas. Por fim, a smartTV pôs no mercado o hardware ideal para a convivência broadcast e broadband. Esses dois lados, agora se respeitando mutuamente, entenderam que tinham algo a oferecer um para o outro. E a TV 2.5 (nova versão do Ginga) foi criada para ser o estado da arte da “plataforma audiovisual doméstica”, legítima sucessora do que foi o velho televisor.

Utilizar agora um sistema antigo (a versão do Ginga de 2010) para iniciar o T-Commerce parece um treinamento do consumidor, uma forma de evidenciar que, pela TV, também se compra. Tanto que a parceria escolhida para esse projeto não foi uma grife de roupas finas ou chocolates suíços, mas as Casas Bahia, a maior e mais popular rede varejista do Brasil. Preparem-se para promoções imperdíveis exclusivas para compras pela TV. Chamativos para formar o hábito de se comprar pela TV. A TV 2.5, que pode entrar em operação nos próximos meses, vai exigir televisores smart de alto desempenho, com a última versão do Ginga, o DTVPlay. Qualquer compra vai ser muito mais fácil e ágil. Porém, no começo, pouca gente vai dispor de TV desse nível na sala. Já nas compras pelo “É de Casa”, ou em outros programas que devem se engajar, estima-se que existam 35 milhões de aparelhos aptos para interagir, segundo o site TelaViva. Assim dá pra ganhar escala, alcançar a massa.

Nesses nossos dias a TV aberta está crescendo e os canais por assinatura perdem clientes mês a mês. Como maior praça da TV aberta, o Brasil é o laboratório ideal para esse tipo de experiência. Se funcionar aqui, não vai ser difícil replicar em outros países. Resta aguardar os próximos passos desse projeto. E manter a certeza de que, em se tratando de tecnologia de massa, tudo pode mudar do dia para a noite.

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