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O FÔLEGO DOS PEQUENOS PROVEDORES NO BRASIL

Você olha para uma foto de uma grande cidade do primeiro mundo e acha aquilo muito bonito. Em seguida olha para uma foto de uma grande cidade brasileira e não parece tão bonita assim. Então observa as construções, a via pública e tudo lhe parece equivalente. Hmm… se procurar melhor, vai perceber que boa parte do choque estético está nos fios presos aos postes. Não é exagero, pode notar. Aquele monte de fios esticados parecem as rugas mais deformadoras da paisagem urbana.

De uma década para cá não precisa nem olhar para cima. Os fios estão cortados, pendurados até o chão, fazendo curvas pela grama. Em alguns postes a confusão é tanta que faz pensar se, por aquela bagunça, passa algo que possa ser utilizado por alguém. De fato, parte dos fios que estão nos postes não são mais usados para nada. São redes antigas, desativadas, que ninguém se preocupou em tirar dali. Isso já virou um problema nacional e, mais do que um quebra cabeças, está arranhando a barriga de muitas empresas que arrastam a situação.

Nesta semana representantes da Abrint, a associação que reúne empresas provedoras de pequeno porte (PPPs) se reuniu com o ministro Juscelino Filho, das Comunicações. Falaram também sobre inclusão digital e alguns outros programas sociais com os quais a Abrint está envolvida. Mas o assunto principal foram os postes. O sistema sempre funcionou a partir das concessionárias de energia elétrica. São elas que colocam os postes nas ruas e, lá em cima, peças de metal e cerâmica por onde vão passar os fios elétricos. Alguns recebem também a sustentação para transformadores. Tem ainda a fiação para iluminação pública. A rede de telefonia fixa pagava um valor para passar os cabos de telecomunicações.

Com o tempo veio a TV a cabo. Depois as grandes operadoras de celular precisaram estender suas redes como provedoras de internet. A concorrência entre essas empresas foi tornando mais acirrada ainda a concorrência por espaço nos postes. E por que você não viu nada disso naquele cartão postal de uma grande cidade europeia, por exemplo? Porque lá as redes correm por baixo da terra, principalmente nas áreas mais adensadas, que demandam mais infraestrutura.

Mauricélio Oliveira, presidente da Abrint, pediu ao ministro que seja criada uma gestora nacional para ocupação de postes. Essa proposta já vem há algum tempo e, em breve, deve ser objeto de uma resolução conjunta a ser assinada pelas agências reguladoras de energia elétrica e de telecomunicações (Aneel e Anatel). Oliveira afirma que o uso dos postes é o principal entrave para o crescimento das PPPs. De acordo com o site Teletime, a Abrint afirma que seus associados pagam mais caro pela instalação dos cabos, se comparado com as grandes operadoras. E ainda, seus projetos de instalação demoram muito para serem liberados. Eles acreditam que uma gestora autônoma garantiria a isonomia no tratamento de todos.

Os provedores de pequeno porte constituem hoje uma força significativa no Brasil. Juntos, eles formam a maior rede de internet do país, se comparada individualmente com cada uma das três grandes operadoras. Foram os primeiros a expandir as redes de fibra óptica e somam muito menos reclamações de clientes do que as grandes. No Brasil são cerca de 32 mil empresas provedoras de Internet, das quais 20.161 estão em operação, segundo a Abrint.

A denominação “provedores autônomos” é mais apropriada para esse grupo, que também se apresenta como sendo das “operadoras competitivas”. Competitivas porque não contam com as garantias que as grandes têm, em função do tipo de serviço que prestam, em rede nacional, também com telefonia móvel. E não são necessariamente de pequeno porte, uma vez que várias dessas empresas, inicialmente com um perfil de atuação local, cresceram e atendem regiões com dimensões até estaduais. Parte delas tem ações negociadas em bolsa.

Curioso é que essas empresas se constituíram sob essas particulares dificuldades e cresceram oferecendo preços menores do que os praticados pelas grandes operadoras. E a gente fica, do lado de cá, pensando quanto faturam essas empresas enormes, que têm tudo para racionalizar seus custos e são muito mais conhecidas no mercado. É um outro milagre – não exatamente brasileiro – que grandes empresas estrangeiras, inclusive estatais, só conseguem fazer aqui neste inexplicável Brasil.

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