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ESCOLHENDO BEM AS PRÓPRIAS COMPANHIAS

Para quem acha que as PPPs – parcerias público-privadas – são a grande sacada para fazer avançar a infraestrutura no Brasil, é melhor ver o que uma PpP – “parceria puramente privada” é capaz de construir. Na próxima sexta-feira, dia 15 de janeiro, a fabricante de máquinas e equipamentos agrícolas John Deere, em parceria com a operadora Claro, lançam o programa Campo Conectado. O programa vai levar cobertura de Internet ao campo, “um aumento de alcance para mais 15 milhões de hectares produtivos em áreas rurais”. A afirmação é de José Felix, presidente da Claro, que falou ao site Convergência Digital.

A operadora diz ter uma cobertura de mais de 85 milhões de hectares no Brasil. A imensa maioria desse total é em áreas urbanas. Os 15 milhões de hectares do novo programa constituem um território onde a conversa será principalmente entre máquinas e o assunto vão ser dados. Por meio de sensores e equipamentos específicos são obtidos temperatura, umidade do ar e do solo, evapotranspiração e outros dados da saúde das plantas. Mais informações relevantes disponíveis na Internet, como boletins de meteorologia, também fazem parte dos sistemas. Os dados são cruzados em tempo real (analytics) e organizados em bancos de dados para o autoaprendizado das máquinas (machine learning). Por meio de sistemas de inteligência artificial, as máquinas tomam decisões no manejo do campo. Coisas como ligar a irrigação, a quantidade de água, quanto de adubação, em qual período do dia etc.

Tudo começa numa das 270 concessionárias da rede John Deere. O interessado adquire o sistema, que conta também com outras soluções para silos e agricultura digital em geral. O fabricante afirma ter disponíveis 40 mil máquinas com toda a tecnologia embarcada para a agricultura de precisão. Quem tiver máquinas mais antigas vai receber um kit de conexão. A parte da Claro vai ser a instalação de torres e antenas para a integração do sinal.

Os 15 mil hectares previstos representam cerca de 17,5% da cobertura atual da operadora. Mas, diante da área agrícola total brasileira, são mais de 20%. Um levantamento da Embrapa realizado em 2017 apurou que o Brasil utilizava quase 64 milhões de hectares com lavouras. Os dados bateram com o apurado pela NASA e o Serviço Geológico (USGS) dos Estados Unidos. Fotos de satélites obtidas durante duas décadas, em imagens de alta definição, cobriram o mundo todo. E foram estudadas por pesquisadores do Global Food Security Analysis, com o objetivo de orientar ações de segurança alimentar. A automação agrícola, no nível em que o programa Campo Conectado pode oferecer, tem o potencial de adicionar muito valor à atividade.

Cleber Soares, Diretor de Inovação do Ministério da Agricultura, disse durante um evento, realizado no ano passado, que os ganhos no campo com a Internet são muitos. De acordo com cálculos que ele apresentou, se metade da área cultivada no Brasil estivesse conectada, em 2 anos seria adicionado um valor de R$ 50 bilhões à atividade. Isso refletiria em todo o país. Para cada 10% de ganho de produtividade na agricultura brasileira, o PIB Nacional como um todo cresce 2,5%. O dado foi anunciado por José Gontijo, diretor de uma das áreas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Essa “parceria puramente privada”, entre uma operadora de telefonia e uma fabricante de máquinas agrícolas, demonstra que a presença de um ente público nem sempre é necessária, ou sequer desejável. No caso especial da agricultura, aqui no Brasil, a análise envolve detalhes importantes. A atividade movimenta muito dinheiro, tem um número muito grande de empreendedores e principalmente, conta com muita competência. Isso forma um típico ambiente de alta competitividade. Quer dizer, um espaço privilegiado para negócios, onde não dá para ficar esperando o governo.

Muitas vezes, para criar um “palanque” de destaque, políticos sugerem programas ou medidas de incentivo em determinados setores. Normalmente isso envolve redução de impostos, linhas de crédito mais baratas e algumas outras facilidades. Por outro lado, esse ambiente artificial de negócios, tende a reduzir a competitividade. Cria-se uma dependência dessas facilidades e um estilo de gestão mais atrelado à dinâmica da política. O tempo passa, os nomes mudam, as cadeiras dançam e os negócios esfriam.

Programas de incentivo podem representar soluções importantes para determinados setores. Mas precisariam de um planejamento rígido, indicadores de eficiência e recursos garantidos. Não é o que costuma acontecer por aqui. O mais seguro é buscar alcançar a competitividade, com base em muita criatividade e alta qualidade na gestão. Assim, as parcerias tendem a acontecer de forma natural, com outras empresas, cujo sucesso depende também do seu sucesso.

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