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PRAGMATISMO SIM, MAS A LONGO PRAZO

E se o Brasil se tornasse uma grande franquia? Muda a logomarca (um ícone na bandeira), o layout da maioria das regiões, um pacote de gestão mais moderno, muitos manuais de boas práticas. Com certeza, tudo ficaria sob total supervisão da franqueadora, de antemão autorizada a mudar o que ela quiser.

Tecnicamente a medida até poderia ser defensável sob o ponto de vista estritamente econômico. Mas o que pega é esse finalzinho aí, essa coisa de “supervisão da franqueadora”, que faz aqui o que quiser. O embaraço deve estar no DNA humano. Gente é um tipo de bicho que só sente segurança quando está num espaço próprio. Olha para os lados e reconhece o chão, a paisagem, até o jeitão do céu. Entende o que se fala, entendem o que ele fala, suas paixões, do que gosta e porquê gosta.

Esse gosto é o que vai na música, na dança, vai na tela e no pincel, na pedra e no cinzel, na roupa e no chapéu. E por que não vai na máquina? No prédio e no remédio, no carro mais caro, num engenho mais preciso, no artigo e no inciso? Trovas a parte, o que se espera é que tenhamos a nossa cara em boa parte do que usamos ou consumimos. Até nas normas que cumprimos.

O Brasil já passou a fase da substituição das importações. Hoje se faz muito, mas se cria cada vez menos. São marcas multinacionais, que reproduzem aqui a tecnologia que desenvolveram bem longe daqui. A globalização veio com o apelo de que cada um produzisse aquilo que faz melhor. As outras coisas, que tragam de fora. Chegamos a produzir, por exemplo, uma fibra óptica de vanguarda para a época. A pesquisa nacional levou a um impulso enorme também na agricultura. Sem contar os aviões da Embraer, demandados pelo mundo todo. Mas a fibra óptica brasileira parou no tempo, mudou de país, os aviões da Embraer voaram no cartel da Boeing e, na agricultura, agora pagamos royalties pelos cultivares que plantamos. Sim, desenvolvidos aqui, mas adquiridos por outros capitais.

Não tem nada de ideológico nessa abordagem. É apenas uma grande vontade de competir, de entrar no jogo. Por que sempre na arquibancada… ou pior, na geral? Uma corrente de pensamento na política nacional parece entender que nada mais vai mudar no Brasil. Nem o Censo Demográfico precisa mais, já sabem como tudo está. É torcer pelas commodities e correr para o abraço. Isto é, um ano ou outro.

O caso concreto do momento é a Ceitec, uma estatal brasileira, fundada em 2008, com o objetivo de produzir chips de computadores no Brasil. Com sede em Porto Alegre, a Ceitec tornou-se a única fábrica de chips da América Latina. Começou pelo chip que se usa no boi para rastreamento da produção. Desenvolveram também o chip para passaportes e outros, também mais simples, para serem usados em larga escala. Mais importante foi a oportunidade para uma mão de obra altamente especializada aqui no país. O atual governo fez as contas, concluiu que a empresa dava “prejuízo” e resolver extinguir.

Num placar acirrado, de 4 a 3, o Tribunal de Contas da União resolveu suspender o processo por 60 dias. Prazo para que o Ministério da Economia prove que a liquidação da empresa – já em andamento – é a melhor solução. Deve ser considerado também o interesse enquanto política pública para desenvolvimento nacional. Afinal o chip e semicondutores são, por assim dizer, os “parafusos” da cibernética. Tem em tudo, em versões mais simples ou mais complexas. Num mundo onde tem chip até no vale alimentação, por que o Brasil não investiria nesse conhecimento? Por que os governos não compraram os chips para passaportes, não cumpriram a promessa de se tornarem clientes dessa tecnologia, agora com inteligência nacional? A EiTV é uma empresa 100% nacional, uma startup nascida entre alunos da Unicamp, que decidiu inovar, produzir tecnologia nativa. Sentiu bem de perto a dificuldade para conseguir espaço no cenário mundial. Em princípio, foi uma marca desconhecida que apareceu entre gigantes internacionais renomadas. E hoje ostenta o conceito de empresa inovadora, comprometida com a excelência na geração de tecnologias altamente competitivas. As várias premiações de inovação, conquistadas junto à Finep, evidenciam o que o mercado já havia respondido desde os primeiros produtos lançados.

No caso da Ceitec, a contabilidade desses primeiros 12 anos não parece ser suficiente para mensurar um investimento desse tipo. Gestores da estatal afirmam que a fábrica só ficou pronta para produzir com eficiência em 2016. E mostram, nos balanços, como o azul está se aproximando. Desde o começo, os recursos, para um mesmo projeto inicial, foram chegando a conta gotas. Se a Embraer, ainda estatal, ou mesmo o Proálcool, fossem medidos apenas pela contabilidade nos 15 primeiros anos, teriam fechado sem gerarem todos os benefícios que veem trazendo, até hoje, para a Economia e Tecnologia nacionais.

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