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O APAGÃO NAS BOLAS DE CRISTAL

Computadores não ajudam a fazer previsões. De certa forma, eles as destroem. Quando a prova disso vem de grandes fabricantes da indústria de informática, fica mais difícil contestar.

No ano passado, ainda no prenúncio da pandemia, Bob Swan, Presidente Executivo da Intel, teria dito ao site PCWorld que temia os efeitos para o mercado de PCs. A previsão, à época, era de que as vendas teriam uma forte queda. Na semana passada, numa apresentação para analistas de Wall Street, a empresa divulgou uma receita de US$ 20 bilhões no quarto trimestre de 2020, com lucros de US$ 5,9 bilhões. Quem puxou esse faturamento foram as vendas para as fabricantes de PCs.

A história da Intel se confunde com a dos PCs. Hoje a empresa é a segunda maior do mundo na fabricação de chips semicondutores. Os desktops e notebooks das grandes marcas representam o principal mercado para os componentes que ela fabrica. Com a chegada dos smartphones e tablets na década retrasada, a migração de usuários para essas pequenas plataformas fez parecer que os PCs ficariam muito restritos no mercado. Em breve eles se juntariam a relíquias digitais como formulários contínuos, disquetes, zipdrivers, CDs. Qual o quê!

As adaptações durante a pandemia anteciparam um movimento que tende a concentrar várias funcionalidades no lar. Sem falar no home office, a robotização das tarefas domésticas, a gestão de algumas rotinas, devem ser favorecidas por um controle centralizado. O PC vai ter um papel nisso. Principalmente por causa da inteligência artificial. Os horizontes de aplicações dessa tecnologia ainda são insondáveis.

Quem chama atenção para esse detalhe é outro participante da mesma comemoração de Bob Swan. Diego Puerta, líder da Dell Technologies do Brasil, em artigo publicado no site ComputerWorld, fala numa “ressignificação” do PC. E a inteligência artificial, para ele, terá um papel decisivo nesse processo. O executivo lembra ainda que monitores, som, teclados e outras interfaces vão melhorar continuamente a experiência de uso dessas máquinas. E isso vai exigir dimensões otimizadas para cada função. Uma tela, que responde ao principal sentido físico humano – a visão – nunca terá num celular o tamanho capaz de proporcionar o maior conforto.

A Dell é a segunda maior fabricante de microcomputadores do mundo, o que torna os números do mercado tão inspiradores para Puerta. No quarto trimestre do ano passado foram vendidos 79,4 milhões de PCs no mundo, ou 10,7% a mais do que no mesmo período de 2019. Em todo o ano de 2020 foram 275 milhões de unidades, crescimento de 4,8% no período, o maior índice registrado na última década. Ninguém esperava por isso. É a nossa prova de que computadores e previsões não se entendem.

A exceção talvez esteja na famosa Lei de Moore, enunciada por Gordon Moore, justamente um dos fundadores da Intel. Em 1965, três anos antes da fundação da grande fabricante de processadores, Moore publicou um artigo científico onde constava a previsão de que “o número de transistores dos chips teria um aumento de 100%, pelo mesmo custo, a cada período de 18 meses.” A previsão foi se confirmando no tempo, de forma que passou a ser uma meta para o setor. As concorrentes do mercado se viam na obrigação de fazer cumprir o que Moore previu. E bilhões de dólares foram investidos em pesquisa e desenvolvimento.

Definitivamente, não estamos em tempos de previsões. A própria pandemia, seis meses antes do reconhecimento da OMS, ninguém poderia imaginar e nem seria capaz de convencer alguém de que isso era uma possibilidade real nos dias atuais. Com a situação instalada, todas as previsões que se seguiram foram trituradas pelos fatos. Só tiveram utilidade os relatos científicos, baseados em experiências anteriores com vírus, particularmente os coronavírus.

Esses relatos encareciam a necessidade de cautela, uma vez que o comportamento dos vírus em geral é muito instável. Os ensinamentos da gripe espanhola, vivida há mais de um século, foram mais certeiros do que qualquer outra previsão feita nos dias atuais.

Excetuando esses casos mais fenomenológicos, são os computadores, ou melhor, a TI como um todo, que destrói previsões. Depois que esses apetrechos digitais se espalharam pelo planeta, aceleraram de forma impressionante todas as atividades. Principalmente as científicas. Isso fez coisas surgirem de um canto qualquer do mundo, com potencial para virar grandes corporações de cabeça para baixo. Não é esse o caso do WhatsApp? Pergunte às operadoras de telefonia. O que a indústria midiática achou do surgimento do Facebook ou do Google? Que esses vencedores não se entreguem ao ócio da glória. Pois sempre estarão no risco de verem seus antecessores renascerem, como está acontecendo com o PC.

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