sexta-feira, 03 de junho de 2016
Depois que a gente sai da barriga da mamãe, a única coisa indispensável que a natureza não vai deixar no jeito pra todo mundo é roupa. Desde que Adão e Eva adotaram o histórico modelito folha de figueira, viver em sociedade exige roupa. E o que mais? Celular, com certeza! Já se disse antes que no mundo tem mais celular até do que óculos. Um olhar mais filosófico revela que celular é sinônimo de conexão. É só medir o tempo de uso de um celular em chamadas telefônicas e comparar com o tempo dedicado à Internet no mesmo aparelho.
Até aí, nada de novo. Será!? A cada dia surge uma prova mais contundente de que alguém muito antenado ainda não tinha percebido isso. No mês passado, quem descobriu o celular foram as empresas americanas de TV a cabo. Elas até convidaram a AT&T, recém proprietária da DirecTV, para falar no INTX 2016, o principal evento de TV a cabo por lá. Veja bem o que isso significa: no universo da TV paga (ou TV por assinatura) a tecnologia a cabo concorre com a tecnologia DTH – essa que usa uma anteninha parabólica – como é o caso da DirecTV, da Sky, dentre outras. E hoje, nos Estados Unidos, a segunda maior operadora de TV paga é justamente a DirecTV, tecnologia DTH. Em primeiro lugar ainda está a Comcast, que só opera cabo. Pois é, os tradicionais adversários se uniram para enfrentar exatamente os celulares.
A grande força dos celulares eclodiu quando eles se tornaram digitais. Desde então, a cada novo programa, a cada novo aplicativo, novos poderes. Como o WhatsApp, por exemplo, que tirou até o telefone do próprio celular. Ficou de graça a comunicação de pessoa pra pessoa, é só se encostar num Wi-Fi da vida e pronto.
Agora um outro tipo de aplicativo para celulares promete surpreender mais ainda. Pode mudar hábitos que se repetem por longas décadas. Uma história impactante!
A HISTÓRIA EM TRÊS ATOS
O enredo dessa história é simples e passa por três cenários diferentes. O primeiro é um emaranhado de antenas, a protagonista pode ser a AT&T, uma das operadora de telefonia que viu na tecnologia móvel seu caminho natural. Empresas desse tipo são conhecidas como “teles”, aquelas que “se achavam”, porque conectavam os celulares. E que só faturavam, sem agregar nada a mais.
Com o tempo a tecnologia digital e seus aplicativos trouxeram para a tela do aparelho os serviços para habilitar ligações telefônicas via Internet. Foi justamente na chegada do WhatsApp e similares – que além de ligações telefônicas, trocam conteúdos gratuitos gerados entre comunidades – onde tudo ficou mais claro ainda: a importância de qualquer conexão está intimamente ligada ao conteúdo. Daí a gente entende por que uma tele gigante como a AT&T resolveu comprar uma TV por assinatura. É que elas já tinham percebido essa importância do conteúdo há algum tempo. Tanto que o sonho de consumo de toda tele é ter uma TV por assinatura, caso da Claro TV, Oi TV, Vivo TV…
O segundo cenário logicamente é uma tela. O protagonista agora é o tal “aplicativo surpreendente”, um legítimo OTT Móvel. Ele conecta o celular a uma espécie de Netflix, para o usuário baixar filmes e séries. Tem ainda vantagens típicas da TV por assinatura, como acesso a programação de TV ao vivo, serviços de DVR como catch up, biblioteca de VoD, dentre outros. É o grande temor do momento… para as teles e TVs pagas.
O MELHOR E TAMBÉM MAIS BARATO
A AT&T/DirecTV tem o pensamento fixo no celular. John Stankey, CEO da AT&T Entertainment, deixou isso claro ao afirmar que “queremos ser um provedor de entretenimento premium e trazer isso para o mundo móvel, com a possibilidade de estar em todas as plataformas…”. No INTX 2016, perante os mais recentes aliados (os antigos concorrentes a cabo) ele vaticinou que a TV paga tem de estar em todas as plataformas para ser competitiva. Pode-se traduzir isso por “estar em todas as telas”. Afinal, tela é audiovisual. E considerando os cinco sentidos que os humanos tem por enquanto, não há recurso mais poderoso do que o audiovisual para apresentar qualquer conteúdo.
A tela móvel, cujo representante mór é o celular, rompe a limitação decana de lugares próprios para conteúdos. Nem sala de cinema, nem sala de estar, o conteúdo tá-na-mão. É quando aparece o terceiro cenário dessa história, quase celestial. É a nuvem, o ambiente cloud, que pode levar o conteúdo até onde a tela móvel quiser se esconder. É o ambiente quase infinito integrado ao OTT Móvel. As plataformas mais avançadas de TV na nuvem, como a EiTV CLOUD, tem os recursos para necessários para habilitar as verdadeiras experiência de TV everywhere. Qualquer empresa produtora de conteúdo, desde emissoras de TV até universidades, pode personalizar o próprio aplicativo e disponibilizar na Apple Store, no Google Play ou outras lojas.
Que fique claro: aqui ninguém está falando do que vai desaparecer do mercado. Trata-se apenas de uma reflexão sobre o que tende a liderar. Há 2 anos este blog, contra todas as correntes majoritárias, questionava a lógica do “fim da TV aberta”, apostando no contrário, numa TV aberta mais competitiva. Pois o que se tem visto nos EUA e Europa é o conteúdo local, gerado por TVs abertas, se aliando ao Netflix, para concorrer com as TVs pagas. E o que tem garantido essa iminente dianteira das TVs abertas são os avanços da transmissão digital e os aplicativos do tipo OTT Móvel. As emissoras estão personalizando esses aplicativos, a exemplo do Globo Play aqui no Brasil, para disponibilizar desde a programação ao vivo até uma extensa biblioteca com o arquivo digital da emissora. Está tudo lá na nuvem digital, a maior parte gratuita, alguns conteúdos são cobrados caso a caso.
A raiz disso tudo está no modelo de negócio da TV aberta, consagrado por todas as novas tecnologias. É o financiamento através da publicidade, que também pode ser aplicado nos aplicativos OTT. Nenhuma das grandes TVs pagas americanas projeta o futuro sem a receita de publicidade. É na disputa da atenção dos consumidores com um leque infinito de produtos e serviços, que vai se firmando a lógica de tanta aparente gratuidade.
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