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MAIS INTELIGÊNCIA PARA ADMITIR CIDADES INTELIGENTES

Se alguém quisesse convencer você a transformar seu município em uma cidade inteligente poderia usar vários argumentos. Um deles pode ser decisivo: cidades inteligentes gastam menos com os serviços públicos. Quanto menos? Dá para fazer as contas em cada caso e prever o valor. Por exemplo, com iluminação pública, reduzindo a energia das luminárias onde não houver movimento de pessoas e veículos. Você já imaginou quantos postes estão “brilhando no último” durante a madrugada, em várias ruas vazias da sua cidade?

Mas a questão não é convencer você. É convencer prefeitos, vereadores e assessores técnicos, mesmo mostrando todas as contas para eles. Essa foi uma das questões em debate no Painel Telebrasil Innovation, que aconteceu nesta semana em São Paulo. Operadoras de telefonia que desenvolvem esses projetos garantem que o negócio é muito interessante para elas. Mas há quem pense em desistir por conta da dificuldade em obter decisões por parte dos municípios potenciais clientes.

Pelos comentários durante o debate os prefeitos e vereadores não são contra. A dificuldade está em definir um projeto para implantar as inovações. Prefeituras resistem em fazer mudanças, mesmo para adotar medidas que obtiveram grande sucesso em outras cidades. Profissionais que atuaram nesse tipo de negociação vêm dificuldade pelo fato de as cidades trabalharem de forma muito isolada. É uma base de clientes muito fragmentada, como se a necessidade de um não tivesse qualquer semelhança com o que outro precisou. Por outro lado, Marcelo Motta, Diretor de Cibersegurança e Soluções da Huawei, fez um comentário que, de certa forma, justifica o desafio que se apresenta agora. Ele explica que “as camadas de trocas de experiências…” definidas num plano estratégico na China, facilitaram muito as transformações nas cidades. Porém, o plano estratégico chinês é federal. Uma centralização que é típica do estilo de governo chinês. No Brasil, mesmo com maior liberdade para os entes federados, algum planejamento em nível nacional poderia servir como modelo ou referência. Organizações como o Fórum Inova Cidades, da FNP – Frente Nacional de Prefeitos, foram lembrados como potenciais articuladores.

As cidades inteligentes são caracterizadas por um alto índice de sensoriamento. Esses sensores retornam informações – por exemplo, “rua vazia” – que podem deflagrar providências – tipo “reduzir intensidade da luz”. Uma macro internet das coisas. A inteligência artificial, se aplicada nesse tipo de projeto, pode aprimorar procedimentos e criar outros. Diante do cidadão são alterações quase invisíveis que melhoram o ambiente e diminuem custos para os cofres públicos e até para as pessoas, de maneira direta. Portanto, não há desafios quanto “a tecnologia nem a disponibilidade de infraestrutura de cobertura”, como observou Rafael Marquez, diretor de receitas da operadora Ligga. Para ele, o que falta é um “ecossistema” onde os atores desse mercado criassem suas interfaces e atalhos. Num raciocínio semelhante, Paulo Humberto Gouvea, da Tim, afirma que isso seria facilitado num modelo de serviço: “cada cidade investir em aquisição com risco de propriedade e de obsolescência não é um modelo ideal, ainda mais com a tecnologia mudando tão rapidamente”, considerou. Por meio de parcerias as operadoras podem fornecer não apenas a conectividade, mas também os equipamentos a serem instalados.

Os tipos de serviços que uma cidade vai instalar não são necessariamente os instalados em outras. O Rio de Janeiro, por exemplo, há alguns anos monitora os chamados “mapas de calor”, que indicam os locais onde há mais pessoas. Para muitas cidades esse tipo de serviço pode não ter muita utilidade. Já o controle da iluminação pública tende a ser interessante para a maioria dos municípios.

Num mundo que está chegando a uma população de 8 bilhões de pessoas a inteligência passa a ser um requisito cada vez mais demandado. Água, energia e outros bens, se otimizados em alguns países, podem resolver problemas sérios de outras nações. A racionalidade que se aplica à gestão de cidades inteligentes tende a mudar alguns paradigmas da administração pública. A melhor orientação do trânsito, pode reduzir a necessidade de construção de viadutos. No entanto, sabemos que, até por uma questão de visibilidade, de fixação de marcas do gestor, políticos gostam de adotar obras como soluções. Aí seria o caso de incrementar a inteligência da gestão. Se uma obra de trânsito passar a ser desnecessária, outras obras haverão de ser realizadas. E obras até mais marcantes uma vez que, numa cidade inteligente, a administração tende a ter maior disponibilidade de caixa.

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