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PROTAGONISTAS E FIGURANTES NA NOVA ERA

Um fundo de estrelas fixas sobre o qual se movimentam o sol, a lua e outras cinco “estrelas errantes”. Com base neste cenário, há mais de 6.000 anos a Astrologia tenta prever o futuro, entender as pessoas e sugerir atitudes. Do outro lado da verdade estão milhares de estudiosos, satélites, supercomputadores e aparelhos sofisticados para prever apenas quando e quanto vai chover. Tudo que os dois conseguiram até hoje foi um pequeno box para cada um em alguma página dos jornais.

Esses dois esforços futuristas só nos convenceram de que previsões servem, antes de mais nada, para influenciar. E também para gerar explicações, depois que não se confirmam.

Alguns fatos deste mês de outubro, num intervalo de pouco mais de dez dias, guardam uma relação sugestiva, com ares de presságios. Um prato cheio para previsões ou, no mínimo, especulações qualificadas.

Começando de trás pra frente, pela campanha “Milhões de Uns”, da Rede Globo. Muito oportunamente, a Direção de Negócios do grupo escolheu um período de picos de audiência para estrelar seu próprio enredo empresarial. O slogan tenta passar a ideia de que a Globo sabe mais sobre cada um, entre os “milhões de uns” que acessam suas plataformas, via TV ou mídias digitais.

Esse tipo de informação sobre a audiência tem sido exatamente o diferencial em favor das mídias digitais sobre os meios tradicionais – TV, jornais impressos, revistas, rádio. A conexão digital via Internet passa por compartilhamento de metadados, que podem conduzir a um amplo conhecimento individual da audiência.

Nesse compartilhamento os dados, obviamente em linguagem digital, ocupam seus lugares automaticamente nos diversos bancos que caracterizam cada “um”: os horários de acesso, tempo médio na plataforma, temas e formatos de preferência, palavras chaves mais usadas ou buscadas. Nos 14 milhões de acessos que as plataformas digitais do Grupo Globo recebem diariamente, obter esses dados é mole. A questão é qual o tipo de informação que a TV Globo obtém dos 100 milhões que sintonizam diariamente a programação de TV. Mesmo com sinal digital o broadcast (TV aberta) é uma modalidade de transmissão que não tem canal de retorno.

Porém, quem quiser pagar pra ver, se prepare para dobrar a aposta. Pois o Grupo Globo quer compartilhar as informações que tem e vai fazer isso em eventos específicos a partir de novembro. Sinal de que não está blefando.

TECNOLOGIAS QUE VÊM E QUE VÃO

Já existe uma solução tecnológica para obter certas informações de retorno na transmissão broadcast. É o ATSC 3.0, um sistema híbrido desenvolvido pela associação das emissoras de TV aberta dos Estados Unidos, em parceria com empresas da Coréia do Sul. Nos Jogos de Inverno que começam no próximo mês de fevereiro, na cidade coreana de PyeongChang, o sistema vai fazer a estreia global. Ele promete os poderes de rastreamento da Internet, mesmo na TV aberta.

Para o Brasil este sonho ainda está distante. Implantar aqui o ATSC 3.0 exigiria investir em mudanças mais radicais do que estamos vendo do analógico para o digital. O novo sistema primeiro tem que fazer muito sucesso nos Estados Unidos e Coréia, enfrentando comercialmente os formatos concorrentes nativos da Internet. Depois tem que confirmar essas qualidades em outros países ricos, para então ser pensado no Brasil. A EiTV já implementa tecnologias para o novo sistema, por enquanto, apenas para o mercado americano.

O impacto da Internet está abalando outras tecnologias de massa. É o caso das operadoras de telefonia móvel. Há 5 anos, era um dos negócios mais rentáveis no mundo. Os celulares já vinham evoluindo muito rapidamente. E permitiram o embarque de plataformas como o WhatsApp, totalmente baseada na Internet. O resultado é que o “telefone” celular deu espaço para a “Internet celular”. Os planos mais comercializados hoje são baseados no provimento de acesso à Rede, a telefonia móvel vem de troco. Nessa imensidão de conectados, o que viceja é o mercado de conteúdos.

A Netflix, por exemplo, só pensa em crescer. Neste ano, além do tradicional sucesso com séries, produziu 8 longas metragens. E já prevê lançar outros 80 longas em 2018. Anunciou investimentos da ordem de US$ 8 bilhões em produções para programação não linear de TV, numa estratégia que aproxima também produtores de outros países. E pra não falar mais um “8”, chegou a um total de 104 milhões de assinantes da plataforma OTT. Todo esse sucesso não intimidou os concorrentes, pelo contrário, estão tomando mais fôlego para enfrentar a líder e ocupar toda tela disponível. As mais numerosas, como se sabe, são as de celulares.

Neste cenário, fica difícil para as operadoras procurarem alternativas de negócios em produção de vídeo. Para a Vivo, o conteúdo escolhido para alavancar as margens da empresa são os games. Há pouco mais de uma semana a empresa anunciou o lançamento da plataforma Vivo Games4U. Assumiu o patrocínio de uma equipe brasileira de eSports e ainda vai produzir uma websérie sobre gamers brasileiros.

Até o Governo Federal está engajado no mercado de games e eSports. O Recine, um regime tributário especial, que incentiva investimentos na cadeia cinematográfica brasileira, agora vai valer também para os desenvolvedores nacionais de jogos eletrônicos.

O BONDE QUE NÃO PASSA MAIS

A presença crescente da Internet nas atividades humanas em geral atinge leis e regulamentos em níveis cada vez mais elevados. Na semana passada o Governo Colombiano enviou ao parlamento um projeto de lei que unifica a autoridade reguladora para Tecnologia de Informação e Comunicação, TV e Rádio. Dois órgãos reguladores atuais devem desaparecer. Vão dar lugar à Comisión de Comunicaciones, que terá como objetivos atender as “dinâmicas atuais do setor” e facilitar o “relacionamento entre os agentes, assim como entre os usuários e o Estado”.

O Financial Times divulgou nesta semana um vídeo sobre as estratégias governamentais para o controle de fluxo de dados. Elas passam pela exigência de uso de servidores locais e políticas de privacidade restritivas, cujo interesse principal seria novo tipo de protecionismo.

Um exemplo citado seria o provimento de peças de reposição para equipamentos de alta tecnologia. As matrizes das empresas podem disponibilizar impressoras 3D nas filiais espalhadas pelo mundo e enviar por e-mail as soluções demandadas, em arquivos para rodar as impressoras. Os governos não têm controle sobre esse fluxo e não teriam como tributar a entrada desses bens.

A Internet, portanto, mais do que a “convergência” tecnológica, está promovendo uma verdadeira “absorção” das soluções para a mundo real. Ela não apenas derruba fronteiras, como delimita novos domínios, regidos pelo conhecimento. Assim, uma nação fisicamente continental, como o Brasil, pode ser reduzida às pequenas ilhas de excelência que conseguem sobreviver ao despautério da gestão pública.

É o que se vê no caso da operadora Oi. Acumula uma dívida maior do que o orçamento de grande parte das nações da América Latina e tem 55 mil credores. Não consegue homologação para uma recuperação judicial porque não quer abrir mão do controle acionário e nem da falta de governança interna. São justamente os dois prováveis centros geradores da crise atual. Então o Governo Federal, que já apoiou muito a Oi via BNDES, resolve que vai editar medida provisória para socorrer a empresa falimentar.

É o esforço que se faz para não perder mais um bonde da história, sem perceber que o tempo não passa mais pelos trilhos do bonde.

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