sexta-feira, 25 de março de 2022
O tempo de contos de fadas está acabando para a TV paga. Literalmente! Na semana que vem as TVs por assinatura do Brasil não vão mais contar com vários canais infanto-juvenis da Disney. A mágica é migrar todos para a plataforma de streaming da própria Disney.
O movimento é mundial, na esteira de uma tendência dos grandes estúdios – inclui “streamers raiz” – de distribuir seus conteúdos pelas próprias plataformas na Internet. Os relevantes-serviços-prestados pelos canais por assinatura não levam nem um “muito obrigado” da Disney. Depois de décadas enriquecendo por conta da lista de clientes pedagiados por todo tipo de conteúdo, as TVs pagas ficam agora com o beijinho-beijinho-tchau-tchau (despedida que, ainda por cima, nunca passou pela TV paga…).
Nada de surpreendente, é o caminho natural no mundo dos negócios. Afinal, dinheiro não é brincadeira. Ainda que brincadeira seja dinheiro, cada vez mais. Nos castelos da Disney o personagem nativo que mais manda é o tio Patinhas. (para quem não conheceu, é um pato quac… lionário que só pensa em ganhar dinheiro). Isso é o máximo de fantasia que o departamento financeiro aceita.
A TV por assinatura está enfrentando um dos desafios mais sérios de sua história. É o bicho TI que sai pelo mercado tomando lugares aparentemente cativos de determinados setores, atividades, sistemas e até simples componentes. Os cabeça-branca vão se lembrar dos carburadores de automóveis. Também foram “eletronificados” os fichários, romaneios, bips, fax, telefone fixo e até telefone celular (a linha), pra falar o mínimo do mínimo. Agora é a TV por assinatura. A sorte dela é que é TV. O velho hábito de sentar-se numa poltrona ou sofá e dizer: “-decifra-me, ou mudo de canal”. Aquela telona na sua casa, lugar aconchegante, cheio de memórias impregnando as paredes. É esse o lugar do lazer mais consumido na Terra.
O Kantar Ibope divulgou há alguns dias os primeiros dados de consumo de streaming no Brasil. A participação é expressiva, mas a TV, tanto aberta quanto paga, sustentam marcas de longevidade. Segundo a coluna de Ricardo Feltrin, no portal UOL, a medição está sendo feita por share. A CEO da Kantar, Melissa Vogel, afirma que, no futuro, a medição pode passar a ser feita por pontuação, como acontece com as TVs. Daqui do outro lado a gente fica pensando na imensidão de interesses que rondam esses números e as maneiras como podem ser interpretados. Em todo caso, vamos ficar com a interpretação da CEO. A medição divulgada foi uma média “estática” e o dado principal anunciado é que 22% dos brasileiros (com base nas amostras das 15 maiores regiões metropolitanas do Brasil) consomem conteúdo em streaming (ou vídeo) 24 horas por dia. Confuso, né!? Mas atenção, isso não significa que 22% dos brasileiros consomem conteúdo em streaming 24 horas por dia (sim, é exatamente a frase anterior). A explicação é de que se trata de “…um resultado do universo dos aparelhos ligados”, passando por todos os possíveis, do celular ao televisor, mais tablet, notebook, PC doméstico. Então, as horas somadas de todas essas telas, seriam equivalentes a 22% da população ligada o dia inteiro.
Algumas comparações diretas da pesquisa são mais simples de entender. Na faixa de 12 a 17 anos de idade 42% consomem streaming e 58% estão ligados à TV (aberta ou paga). Na faixa dos 50 a 59 anos o streaming cai para 15% e as programações de TVs saltam para 85% do que está no ar nos televisores ligados. Dos 60 para cima, 9% no streaming e 91% para as TVs. Considerando o tamanho do universo de consumidores de audiovisual, as proporções são admiráveis, tanto para TVs como para o streaming. Ao contrário do que possa parecer para muita gente. No momento, o que se vê é uma tendência de crescimento para a TV aberta e um encolhimento das alternativas por assinatura, que devem encontrar um novo patamar de equilíbrio mais abaixo do que se esperava. Importante considerar que o Brasil é caso único no mundo. Entre os países que não são considerados muito pobres, somos o último a receber a TV paga e o número de assinantes começou a cair na última década. Nos demais países é a TV aberta – que já existe muito timidamente – que agora começa a dar as caras como alternativa audiovisual.
A variável que trouxe tantas surpresas e deve continuar tumultuando esse mercado é a vontade que os humanos têm de consumir audiovisual. Algo que parecia mensurado pelo cinema e a TV, começou a superar a média com a TV por assinatura, depois o VHS, o DVD e disparou no streaming. Disparou sim, porque ninguém sabe onde vai parar.
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