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COMO CHEGAR LÁ POR INTEIRO

Maria mora a 50 metros da estação Praça da Árvore do metrô de São Paulo. Ela trabalha numa agência bancária e entra às 10 horas. A agência fica a três quarteirões de uma estação do metrô na avenida Paulista. No trajeto, Maria precisa descer na estação Paraíso para pegar a linha ao lado, que vai até a Vila Madalena. São poucas estações até chegar à Paulista. A rotina do João é outra. Ele mora na Zona Leste de São Paulo, numa área irregular. Toda manhã anda cerca de 600 metros até chegar à primeira rua asfaltada. Toma um ônibus que vai até a estação do Itaim Paulista, linha Safira da CPTM. De trem ele segue até a estação do Brás, faz a baldeação para o metrô e desce na Luz. Troca de linha e segue pela Norte Sul até a estação Santana, onde toma um ônibus que para a dois quarteirões da distribuidora de água mineral, onde trabalha. Ele entra às 8:00h da manhã.

Tanto Maria como João têm o mesmo gasto mensal com passagens por causa do vale transporte. Mas a conexão de casa ao trabalho é completamente diferente de um para outro. Na Internet também é assim. A conexão com o mundo virtual pode ser bem diferente. Um internauta pode ter seu acesso limitado se houver instabilidade na rede, baixa velocidade, franquia de dados. Assim, muito do que a internet pode oferecer, fica fora do alcance. Como também ficam fora do alcance do João fazer uma faculdade à noite, além de várias opções culturais e de lazer.

Na internet, onde não dá para ver os hubs lotados de dados e outras limitações de tráfego, é mais prático ter atenção ao conceito de “conectividade significativa”. A ideia surgiu em 2020 a partir de um estudo desenvolvido pela UIT – União Internacional de Telecomunicações, em parceria com o G-20. Desde então conexão com a internet não é uma coisa só. O estudo fez uma avaliação do que seria necessário para conectar toda a humanidade. E só considerou a conectividade significativa como uma resposta suficiente para esse desafio. O conceito reúne algumas referências como a velocidade certa, o dispositivo apropriado, com franquia de dados suficientes (ou ilimitada) para um acesso regular à Internet. Para dispositivos móveis o 4G seria hoje um dos requisitos. Na Internet fixa, a banda larga passou a ser considerada o acesso com velocidade de pelo menos 10 Mbps.

A conectividade significativa foi um dos pontos que chamou atenção no Plano Nacional de Inclusão Digital – PNDI, cujo Grupo de Trabalho inicial foi criado nesta sexta-feira. O presidente não disse exatamente assim, mas especialistas notaram que “nunca antes na história deste país” um documento do governo federal considerou essa referência. É um bom começo. O Grupo de Trabalho criado hoje tem 90 dias para produzir uma proposta para o PNDI, podendo dobrar esse prazo se necessário.

O GT ficará sob a coordenação do Ministério das Comunicações e contará também com a Casa Civil. O documento que ele vai produzir trará um diagnóstico da realidade atual apontando um conjunto de indicadores e métricas objetivas a serem consideradas. O passo seguinte será a definição de estratégias e metas para propiciar “… acesso adequado à internet, a preços razoáveis, de qualquer ponto do território nacional, como ferramenta para integração social e econômica”. O PNDI deve prever todas as etapas, desde o letramento digital, em direção à promoção de habilidades digitais, com foco principal na educação e na saúde. Ao promover a inclusão digital para o desenvolvimento do país o Plano firma compromisso com a preservação da pluralidade e diversidade de gênero, de renda e racial. O Grupo de Trabalho prevê a criação de câmaras setoriais com técnicos de vários ministérios e convidados.

Estudos recentes mostram que muitas pessoas não acessam a internet por falta de dinheiro. Muitas outras não o fazem porque não se sentem aptas a usar. Quantas, entre as várias que alegam “desinteresse”, também não estariam entre as inaptas? A quantidade de serviços públicos e empresariais que podem chegar a muitas pessoas com a internet é imensa. Além dos vários outros horizontes do mundo virtual. Agora, a grande dúvida fica em torno da forma de abordagem. O dispositivo mais presente é o celular, que pode facilitar a aproximação de falsos instrutores, com riscos muito sérios para os cidadãos. Num programa desses, o desafio não é apenas superar a falta de informações, mas também uma série de resistências ainda sem explicação.

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