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CRIME E IRRESPONSABILIDADE NA REDE

Tem gente forte na Internet que parece ter uma única preocupação: os Dez Mandamentos. E não é para guarda-los, muito pelo contrário. Eles querem que a Lei Mosaica seja totalmente ultrajada, talvez para não deixar o mundo virtual devendo nada para o real.

O pecado mais disseminado, com certeza, é o falso testemunho. Mentira é o que não falta. A cobiça pela mulher do próximo já é antiga na rede, a castidade então, parece que nem passou por lá. Tem gente que se acha um Deus, outros que usam o nome dele em vão, muitos só semeiam o ódio, quando deveriam amar o próximo. Ah, aquele dia sabático semanal pode esquecer, a Internet põe você a trabalhar todos os dias. E entre tantos outros pecados o mais preocupante no momento é o roubo.

As previsões apontam prejuízos da ordem de trilhões de dólares nos próximos 5 anos, só para as empresas. Segundo pesquisa global da Grant Thornton, nos últimos 12 meses foram US$ 280 bilhões, ainda abaixo dos US$ 315 bilhões no ano 2015. Os ataques comprometem seriamente a reputação das empresas, tomam muito tempo para recuperação, espantam clientes.

Investigações rastreiam os ciber criminosos pelos dois mundos. Mas não é fácil pegar. Estão envolvidos com organizações ligadas à interesses diversos, de ideológicos a puramente lucrativos.

Na onda de ataques do último mês de abril, que atingiu não apenas empresas, é onde se pode ver claramente o perfil de roubo, mesmo. Porque, pela lei penal, roubo se caracteriza pela violência do ato na hora de tomar o que é de propriedade do outro. Quando a coisa simplesmente é levada e não tem ninguém por perto, trata-se de furto. Imagine a violência de você abrir o seu computador e ver nos seus arquivos aquele monte de códigos que não dizem nada. Depois a mensagem informando que eles foram criptografados e que, se quiser abri-los, terá de pagar um resgate.

Há indícios de que o grupo que efetuou o ataque é o Lazarus, nome de um personagem bíblico que só viveu na pobreza. Quem sabe a ironia não é proposital? Nos ataques de abril eles usaram o ransomware WannaCry. Mas teriam usado outros tipos de malware para atacar a Sony Pictures, no final de 2013 e no roubo de US$ 81 milhões do Banco Central de Bangladesch, no ano passado.

LIMITAM ATÉ O DESENVOLVIMENTO

Como acontece com todo tipo de crime, muitos interesses estão envolvidos. As companhias de seguro ainda não fazem apólices para “conteúdos digitais”. Mas a indústria de defesa cibernética não para de crescer. Neste ano o mundo deve gastar US$ 93 bilhões com a segurança na rede, aponta a Juniper Research. E isso porque mais da metade das empresas ainda não investe na prevenção.

No Brasil os bancos já admitem que o risco de ataques deve reduzir a evolução de serviços bancários. Durante o Congresso de Tecnologia da Informação para Instituições Financeiras, promovido pela Febraban no começo do mês, até rotinas internas dos bancos devem mudar em função da ciber segurança. Isso sem contar a necessidade de treinamentos.

Da mesma forma que no mundo real, o crime pela Internet também pode ocorrer em função de descuidos. Como a janela que deixamos aberta em casa, ou como a ingenuidade de quem compra um bilhete premiado.

Também neste mês uma mensagem pelo WhatsApp ameaçou mais de 100 mil pessoas no Brasil em menos de 24 horas. Uma falsa promoção oferecia um cupom de R$ 70,00 para gastar na rede McDonald’s: “- É só passar para 10 amigos seus e fazer o cadastro”, uma conversa mais ou menos assim, que pode dar problemas para muita gente durante um bom tempo. Convenhamos, tem que ser muito descuidado para cair nessa (usando um eufemismo bem-educado).

Muita gente ainda não percebeu que segurança é uma condição que não depende apenas de proteção. A exposição aos riscos pode ser reduzida pelo mínimo de bom senso. É verdade que algumas pessoas são, por natureza, menos atentas do que outras. Mas no uso da Internet determinadas “pegadinhas” já ficaram velhas. Parece que o fato de estar num lugar muito seguro no mundo real – como o local de trabalho ou em casa – dá uma grande sensação de segurança também para o internauta, que não está só no mundo físico.

O uso da Internet mais frequentemente pelo celular pode aumentar muito os riscos. Tanto pela distração como pelo excesso de zelo, aquele medo de tudo, que pode levar a atitudes precipitadas.

“-MAS EU SÓ REPASSEI”

Esse é o tipo de argumento que pode revelar muito sobre um internauta. Quem ainda é capaz de acreditar que “só repassar” uma mensagem não representa nenhum risco, está entre a ingenuidade e a irresponsabilidade.

Muito antes do crime, um certo tipo de diversão perversa cresceu rápido pela rede. Talvez essa diversão tenha servido para ajudar os criminosos a conhecerem mais sobre a vulnerabilidade da sociedade.

Um caso, nem tão recente, envolve um hospital oftalmológico especializado no transplante de córneas. Uma mensagem pelas redes sociais divulgava um “excesso de disponibilidade” de córneas que estaria levando a direção clínica a descartar muitas delas, pelo tempo decorrido. Por isso conclamava a avisar os conhecidos que precisavam de transplante. Na mensagem constava o número do telefone do hospital. E era o número verdadeiro. Durante algum tempo deve ter dado até mais credibilidade à mensagem. Quem ligava e ouvia a atendente virtual anunciar que se tratava do hospital oftalmológico, muitas vezes pensava que já sabia de tudo que precisava fazer.

Porém, passado um período, o hospital precisou tomar uma providência. Programou como primeira advertência da atendente virtual uma gravação explicando que o “excesso de córneas” não era verdadeiro, apenas um trote. Mesmo assim, entre aqueles que estavam com pressa em fazer o bem (??) e resolveram “apenas repassar”, continuou o ataque à rotina do hospital. Devem ter atuado para frustrar muitas pessoas que, durante algum tempo, acreditaram que poderiam voltar a enxergar bem antes das previsões do banco de olhos. Há muitos anos isso poderia ser apenas ingênuo. Porém, com o tempo, esse tipo de displicência está caracterizando mais uma irresponsabilidade.

E por falar em coisas que já estão ficando velhas, é oportuno citar uma frase que, por mais antiga, ainda é muito verdadeira: “A segurança é você quem faz.”

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