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TECNOLOGIA, COMO MODA, É CARA E INEFICAZ

Carro e microcomputador. Duas máquinas que mudaram o mundo. Aqui no Brasil já teve tempo que muitos proprietários serviam mais ao carro do que o inverso. Toda tarde de sábado dedicada a dar aquele trato, lavar, polir, aspirar, “cosmética” automotiva dos pneus ao painel. Pouco usam o carro, é mais um enfeite na garagem, uma joia pra brilhar na porta da casa da sogra, em alguns poucos lugares. Hoje menos, mas ainda se acha desses personagens por aí.

De certa forma, com os computadores acontece algo parecido na maioria das empresas. A máquina está lá, mas a maior parte do potencial que poderia desempenhar, não está em uso. É o que consta de um estudo divulgado nesta semana pela Dell Technologies. Um levantamento feito em 45 países, Brasil inclusive. Por aqui se observa uma explosão de dados disponíveis por empresa, tanto em quantidade como em variedade, acumulando em alta velocidade. Uma preciosidade, no entanto, transformada em problema. Sem conhecimento técnico nem ferramentas adequadas para tratar esse conteúdo e obter informações relevantes, ele só atrapalha.

Não por acaso resolveram batizar o estudo de Data Paradox. Dentre outras conclusões, no Brasil apenas 20% das empresas sabem gerenciar seus dados. A tão falada “transformação digital” ainda não começou nem em metade das empresas do país. E a razão seria principalmente a falta de dinheiro. Para Diego Puerta, que está no comando da Dell aqui no Brasil, precisa encarar a informatização como investimento. E um investimento que tem o potencial de manter a empresa no mercado. Ele faz coro às várias dificuldades que os empresários narram hoje no Brasil e em boa parte do mundo. Mas, é uma questão de saber o que é essencial e investir. Nada de se encantar com a última moda hi-tech. Tem que ser o estritamente necessário.

Também nesta semana a GSA, a associação global de fornecedores de celular, informou que hoje, no mundo todo, existem 176 redes 5G, implantadas em 72 países. Causou surpresa o fato de que somente 13 operadoras utilizam redes 5G SA (standAlone), a mais sofisticada do mercado. É a rede que o Ministério das Comunicações decidiu como única autorizada no Brasil. A mais cara entre as opções de 5G, que já é um serviço caro. Aliás, quem afirmou e repetiu isso nesta semana foi Carlos Baigorri, conselheiro da Anatel. Durante uma live promovida pelo portal Telesíntese ele afirmou que, “…É uma preocupação operacional mesmo, 5G é caro e de elite". E ele nem estava falando especificamente do 5G SA. A opção brasileira seria um modismo caro?

É inegável que as vantagens que só o 5G SA pode oferecer são encantadoras. Num mundo onde o celular é considerado “indesconectável” por grande parte das pessoas, uma Internet imediata é como um sopro de ar a mais que se respira. Porém, no mundo cibernético, uma certeza sempre permanecera: tudo vai mudar muito rápido.

A versão seguinte ao 5G SA já está pronta. Outras tecnologias paralelas podem vir a garantir um mesmo efeito 5G, a um custo menor. O wi-fi 6E pode atender muitas necessidades da indústria 4.0. Os R$ 37 bilhões do leilão, que vão estornar às empresas vencedoras, são destinados a conectar as áreas mais remotas e mais pobres do Brasil. Mas essas operadoras terão até o ano de 2029 para fazer isso. É o que está no edital do leilão. Quantas voltas as novas tecnologias darão até lá? Será que, ao menos, esse prazo vai ser cumprido? As empresas vencedoras começam por atender as capitais brasileiras, depois todas as cidades com até quinhentos mil habitantes – até aí, só praças muito rentáveis – e a faixa populacional vai reduzindo até chegar às cidades com menos de 30 mil habitantes. E depois, se essas pequenas cidades não sustentarem a manutenção dos serviços? Quem ficará com o custo das redes deficitárias?

Antes desse futuro, muitas dúvidas estão no presente. Quem calculou os bilhões de dólares que, segundo o Ministro Fábio Farias, só o 5G SA pode trazer para o Brasil? A rede subfluvial da Amazônia, que começou em 2015, já tem uma tentativa com 935 Km de fibra óptica instalados. Segundo dados do próprio TCU, a rede está praticamente inoperante e não foram atingidos os objetivos de inclusão digital. As barreiras naturais são severas. Serão superadas agora? As frequências que vão a leilão para o 5G valem R$ 45 bilhões, com diz a Anatel, ou R$ 130 bilhões, como afirma o Ministro Aroldo Cedraz, do TCU? O edital do leilão dá condições práticas de participação de outras grandes operadoras internacionais ou limita apenas à participação das 3 grandes atuais do Brasil? O país tem só 60 cidades viáveis comercialmente para o 5G? Será que o 5G SA, da forma como está sendo proposto pelo TCU, é o mais interessante para o Brasil? O placar da votação no tribunal foi de 7 a 1. Lembra alguma coisa?

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