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MUITO BOM PRA SER VERDADE!?

Então a TV aberta passou a ter som e imagem de alta definição, acabaram as interferências, ficou interativa, reduziu o uso do espectro eletromagnético e até o consumo de energia. E ainda continuou grátis. Pronto, então agora vai acabar. “-Como assim??”

Essa conversa de que a TV aberta iria acabar nunca teve muita lógica. Ficou mesmo uma profecia das mais cabalísticas, aquelas coisas que não tem por que acontecer e mesmo assim alguém sai anunciando, só pra chamar atenção. O curioso é que, pelo menos nas três últimas edições da NAB Show e da SET Expo o número de mensageiros apocalípticos só aumentou. Este blog tem sido um defensor irredutível do bom senso, razão pela qual questionou tantos argumentos sobre o tema. Agora, são dados concretos que se impõem. Numa palestra durante a última CES, a maior feira de produtos eletrônicos para consumo, Steve Burke, CEO da NBC Universal, reconheceu que subestimou a TV aberta. Ele disse que o engano aconteceu nas previsões que ele tomou por base quando da fusão com a Comcast, a maior operadora de TV por assinatura dos Estados Unidos.

“Éramos pessimistas com o broadcast. Na época, avaliamos a NBC em quase zero”, disse Burke, para uma plateia surpresa. O fato é que a unidade broadcast do grupo faturou no terceiro trimestre de 2015 quase US$ 2 bilhões. E, pra não deixar dúvidas, arrematou: “-O broadcast é bom negócio. As quatro grandes redes fazem mais dinheiro hoje do que há 20 anos.”

PESSIMISMO OU SIMPLESMENTE AUTO DEFESA

A TV aberta americana, tradicionalmente secundária, num mercado onde 85% dos lares eram assinantes de canais fechados, ainda está descobrindo a nova realidade. Lá, os radiodifusores já tomaram até alguns “puxões de orelha” pela apatia diante da nova realidade que o sinal digital aberto representa. Mas os tempos já começaram a mudar. Durante a palestra na CES, Burke enfatizou que a publicidade não é mais a única receita da TV aberta. As emissoras vendem conteúdo, fazem distribuição para VOD, descobrem novas fontes de faturamento. Possibilidades que surgiram com as novas tecnologias, que já foram consideradas ameaças ao broadcast.

Por outro lado, as razões de tantas suspeitas quanto ao futuro da TV aberta, também estão evidenciando os verdadeiros motivos. O número de assinantes de canais pagos está diminuindo continuamente nos Estados Unidos. E uma pesquisa recente mostrou ainda que a maioria dos assinantes está mais interessada na banda larga, que faz parte do pacote dos assinantes. As grandes distribuidoras de sinal de TV estão sofrendo com o crescimento do fenômeno “cord cutters”, ou seja, as pessoas estão preferindo usar o Netflix, muito mais barato, para aquilo que era o “conteúdo premium”. Já a TV do dia a dia fica por conta das redes abertas, uma vez que o sinal digital garante a mesma qualidade do sinal a cabo.

Na realidade brasileira, onde a grande maioria dos assinantes paga apenas para ter uma imagem melhor dos canais abertos, a expansão do sinal digital promete um efeito mais categórico. As grandes redes estão investindo também em aplicativos, para smart TVs, celulares e tablets. Um “Netflix aberto”, que traz também muitos recursos dos canais por assinaturas. Falta o quê?

AS VERDADEIRAS TENDÊNCIAS

Quanto mais o tempo passa, mais a qualidade do conteúdo se revela soberana. É o que vai determinar a escolha do usuário. Os meios de veiculação podem se multiplicar, no começo o novo atrai a curiosidade, mas sempre vão se consolidar a partir da qualidade do conteúdo. A eficiência do meio pode contribuir, na medida em que traga mais oportunidades de escolha do conteúdo, que seja fácil de usar e que garanta fidelidade técnica à produção exibida.

Outro parâmetro de peso é o custo para o consumidor final. As tecnologias estão reduzindo drasticamente os custos e são produzidas dentro de estratégias de massificação. Não se inventa mais nada para “poucos e bons”. Tem que produzir pra massa, em grande escala, com abrangência planetária. Então o preço tem que cair. Dentro desses critérios, difíceis de serem ignorados, a TV aberta não tem concorrência. Tem, no mínimo, a melhor qualidade audiovisual entre todos os meios, é a mais massificada e o custo para o consumidor final é zero. Num mundo globalizado, grandes marcas dependem de um meio como a TV aberta. Os lançamentos mais importantes precisam da visibilidade que só o broadcast pode garantir.

O maior conforto no hábito de uso, a melhor experiência, estão ganhando mais peso junto aos consumidores. E é aí onde os set-top boxes, as famosas “caixas”, prometem acrescentar muito. Grandes players, como Apple e Google, investem no aprimoramento das próprias caixas. Muitas outras empresas pelo mundo – inclusive a EiTV – estudam os caminhos para a melhor experiência audiovisual, combinando funcionalidades de forma cada vez mais criativa. Pensar na aposentadoria precoce de tecnologias é uma grande falta de bom senso. O desafio é descobrir todo o potencial de cada uma delas e ter competência para usa-la de forma a melhorar a experiência do consumidor.

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