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ALGUÉM JÁ “ROBÔ” SEU EMPREGO?

Olhe bem para o seu carro. De cada três parafusos que você vê, um foi apertado por um robô. É só uma maneira figurativa para dizer que, em média, cada produto industrializado no Brasil é resultado de apenas 67% de trabalho humano. Os outros 33% ficam por conta das máquinas. Considere essa proporção em toda a estrutura que está por traz da produção de cada item.

Sabendo disso o susto é menor. Porque daqui a 5 anos, portanto, em 2025, no Brasil, 53% do trabalho na produção industrial será fruto da atividade das máquinas e só 47% serão trabalho humano. Quer dizer, se a coisa vai ficar bem complicada, não será tão mais complicada do que já está.

Os números fazem parte de um relatório do Fórum Econômico Mundial, intitulado “O Futuro dos Empregos 2020”. Nos 26 países estudados estima-se uma perda total de 85 milhões de empregos. Pra não dizer que o emprego não tem tanto futuro assim, o estudo estima que 97 milhões de novas vagas vão ser criadas na economia de cuidados, nas indústrias com perfil 4.0 (com novas bases tecnológicas) e na produção de conteúdo, dentre outras. Mais objetivamente, o trabalho humano vai crescer em gerenciamento, aconselhamento, tomada de decisões, aquelas coisas que precisam das “grandes sacadas”, do tal feeling, sexto sentido, insights. Fala-se também de vagas na economia verde, ciência de dados, inteligência artificial, Internet das coisas, computação em nuvem, nesses empregos da moda.

Do lado daqueles 85 milhões de empregos a serem robotizados estariam os

escriturários, secretárias administrativas e executivas, contadores, montadores, operários de fábrica. É aí que o robô se transforma no vilão. Pois a qualificação média para os novos empregos elencados, está consideravelmente acima da qualificação dos empregos que vão sumir. Quer dizer, o operário de fábrica, a secretária administrativa, os escriturários, não serão aqueles que vão se tornar especialistas em transformação digital, em inteligência artificial, nem vão ocupar funções de aconselhamento ou de tomadas de decisões. Se hoje, no Brasil, já existem vagas em profusão para programadores, desenvolvedores de sistemas, e ainda assim não são preenchidas, a tendência é que o mesmo aconteça em relação a esses novos empregos.

Já houve um tempo em que determinados profissionais eram treinados intensivamente para determinadas funções. Um torneiro mecânico, por exemplo, não se preparava do dia para a noite. Era necessária muita experiência, desenvolvimento de habilidades, eram os grandes “artesãos do Século XX”, sem os quais as indústrias não produziam. Hoje, cada máquina nova, chega com muito mais funcionalidades. O treinamento do operador é bem mais rápido, mais simples, e em poucos anos pode ser inútil para a nova geração de máquinas que virá.

Por essas e outras é que se observa o surgimento de numa nova espécie de mão de obra: são os trabalhadores globais. Aqueles que, em algum canto privilegiado do mundo, são reunidos em equipes geridas por grandes especialistas. Lá eles produzem a tecnologia de ponta que será replicada no mundo todo. Um bom exemplo são os módulos de vídeo – telas LCD ou superiores para celulares, computadores, televisores. Todos esses módulos são produzidos em alguns poucos países do mundo. Eles estão na Ásia, onde alguns projetos se desenvolveram ao longo de décadas para aperfeiçoar essa tecnologia. Os televisores americanos, telas de notebooks e celulares das grandes marcas, todos usam esses módulos. Essa tela, na qual você está lendo, foi produzida por trabalhadores japoneses, sul-coreanos, chineses. São grupos de trabalhadores globais.

Outras tecnologias são produzidas em fábricas mais dispersas pelo mundo porém, todas elas provêm de países mais desenvolvidos. Nações onde ciência e tecnologia não são os primeiros itens a serem cortados pelos governos, em caso de crise. Onde os investimentos em educação são ambiciosos. Parece mais provável que essas diferenças se acentuem. Difícil é acreditar que, nos próximos 5 anos, 50% dos trabalhadores sejam requalificados, como está proposto no estudo do Fórum Econômico Mundial.

O estudo mostra ainda que, nessa crise gerada pela pandemia, as previsões para essas substituições de mão de obra humana por sistemas automatizados, foram antecipadas. Afinal, o que era quase impossível, aconteceu. As empresas sentiram a dificuldade de produzir sem poder contar com grande parte da mão de obra. Agora querem se afastar desse tipo de risco o quanto antes. Uma missão a ser assumida por países que acreditam no potencial humano da própria população e investem pesadamente em inovação.

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