BLOG

ENTRETENIMENTO E ALGO MAIS

A que horas você vai ligar sua TV hoje? Ah, tá. Já vai estar ligada quando você chegar em casa? Hmm… então ao quê você quer assistir hoje? Por maior que seja o número de leitoras e leitores deste artigo, só “traço” não têm respostas para essas perguntas. Assistir à TV é um hábito diário mais frequente do que trabalhar. Que o digam os 8,7% da população economicamente ativa do Brasil que ainda estão desempregados, por exemplo. Aposentados desse lazer também não existem.

Tão presente assim em nossas vidas, a TV é um mistério. Ou alguém sabe responder por que ela se entranhou tanto no cotidiano? Essa e várias outras questões bem complicadas foram discutidas ontem no “Seminário TV Câmara 25 anos: O Futuro da Televisão”. O último painel do evento teve como tema “Para onde vai a Tecnologia da Televisão”. Na mesa, três dos principais especialistas do Brasil no assunto.

Sobre tecnologia, o começo da resposta é fácil: o futuro é a TV 3.0. Um equipamento bem mais sofisticado do que o que você tem em casa, que pode ser resumido em algumas características principais. É uma tele-visão que vem, mas também volta, quer dizer, total interatividade de áudio e vídeo; é uma TV que pode chegar pela internet (broadband) e pelo sinal da antena (broadcast), ou seja, você tem tudo de TV e tudo de internet numa tela só; qualidade de som e imagem ultrapassam o limite que seus sentidos físicos são capazes de perceber. A imagem da tela é mais precisa do que você pode enxergar e o áudio… bom, o áudio, imersivo, vai estar distribuído espacialmente em cada lugar do ambiente. Mesmo saindo de uma única caixa, o sistema tem a capacidade de emular o ambiente da imagem na sua sala. Uma característica mais importante para as emissoras – que precisam sustentar o negócio – são os intervalos direcionados. A cada intervalo o sistema envia anúncios diferentes para os telespectadores, de acordo com o perfil de cada um. Em cada intervalo, as emissoras podem faturar dezenas, ou centenas de anúncios diferentes. Bom também para o público, que recebe anúncios mais relacionados às necessidades de cada um.

Com um pequeno esforço de imaginação é fácil prever o quanto um sistema desses é pode impactar a sociedade. A começar pelo fato de que as emissoras vão saber tudo que se passa na sua tela. O que você vê na TV, o que vê na internet, quando, como e com o quê interage. Do outro lado estão as dificuldades para as emissoras abertas, se acotovelando com as TVs por assinatura, também com o streaming. Marcelo Moreno, professor da UFJF e pesquisador visitante da Fraunhofer IIS, um dos três especialistas da mesa do painel, citou a concorrência dos canais FAST. São os canais de streaming gratuitos para o consumidor, pagos por anunciantes. Eles concorrem com as emissoras e com a operadoras de TV por assinatura, mas não seguem nenhuma regulamentação. É uma assimetria que desequilibra a concorrência. Outro especialista, Roberto Franco, do SBT, lembrou que os governos demoram a regulamentar novas tecnologias. Costumam esperar um bom tempo, que pode ser muito prejudicial a um dos lados. O terceiro especialista, o Jornalista Samuel Possebon, editor dos sites TelaViva e Teletime, também citou a regulamentação. Mas preferiu enfatizar outra questão, ligada mais diretamente à evolução do meio. Ele acredita que a TV aberta muda mais lentamente por ser uma mídia de massa e por ter o compromisso de inclusão. Por isso ele acredita que os canais de streaming devem experimentar mais e inovar as características do que irá ao ar. A mediação do painel foi de Paulo José, da TV Câmara/ UnB.

Ao que parece, a experiência brasileira tem de ser preservada e servir de exemplo para outras nações. A TV aberta no Brasil foi responsável pela alta nacionalização do conteúdo. As telenovelas competiram com muitas produções de Hollywood. Em outros países na mesma faixa de desenvolvimento a TV a cabo cresceu mais rápido. Muito conteúdo estrangeiro dominou a programação. No caso brasileiro, pelo menos uma emissora, a TV Globo, cresceu a ponto de se fortalecer e hoje marcar presença no mercado de streaming, inclusive internacionalmente. Emissoras abertas fortes contribuem muito para uma dinâmica na informação nacional que vai muito além dos alertas de desastres.
Desempenham um papel muito importante na difusão cultural e integração nacional.

ARQUIVO DE POSTAGENS

Bitnami