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O FUTURO QUE SE VÊ NA TV

O anúncio do tvOS12, para bons observadores, permite ver mais do que imagens com qualidade 4K HDR, sob som tridimensional imersivo Dolby Vision ou Dolby Atmos. Traz vestígios de um futuro próximo, pelo menos daquele no qual a Apple acredita.

Foi no início desta semana, durante a abertura da WWDC, a conferência anual de desenvolvedores Apple. O tvOS12, sistema operacional da Apple TV 4K, apareceu com novidades não apenas para o cliente final, que tem o set-top box do produto. Mas também para as operadoras de TV por assinatura, que podem adotar o equipamento como conversor para seus clientes.

No começo deste século, quando as “caixas” (os set-top boxes) surgiram no mercado americano, tinham um jeito de concorrentes das TVs por assinatura. Afinal, Roku, Chromecast, Fire TV, Apple TV, dentre outras, oferecem alternativas de conteúdo audiovisual na TV. Acontece que a TV está se sofisticando, exigindo mais “inteligência” do set-top box, e esse não é o expertise das operadoras, que estão mais para empresas de telecomunicações.

Para a Apple essas empresas de telecomunicações se tornaram parcerias especialmente interessantes, observa Paolo Pescatore, da CCS Insight. Ele vê esse movimento de aproximação no mesmo rumo das parcerias que o Netflix tem feito com operadoras. É uma ampliação do acesso ao cliente final. Para a Apple tem ainda a vantagem de representar um mercado também para o hardware que ela fabrica. Com o tvOS12, a Apple TV vai ser o conversor da Charter Communications, a segunda maior operadora de TV a cabo dos Estados Unidos.

O sistema tem um atrativo especial para essa união. É o zero-sign-on, que permite à Apple TV reconhecer a banda larga do usuário e autentica-la automaticamente. Ele funciona quando o provedor de TV é o mesmo provedor de Internet – o que é comum em países como Brasil ou Estados Unidos. Basta abrir qualquer aplicativo do Apple TV e o usuário já estará logado, sem precisar repetir senhas ou configurar detalhes.

O Canal +, primeiro por assinatura da França, fechou uma parceria, em maio, que permite aos seus clientes alugar o Apple TV 4K por 6 euros, sem precisar de qualquer outro conversor. Na Suíça, também neste ano, o provedor Salt entrou na telefonia fixa e ofereceu o serviço de TV por assinatura baseado no Apple TV 4K como conversor.

ALARGANDO POSSIBILIDADES

A banda larga é um desafio especial desses tempos. Tornou-se uma infraestrutura que não tem refletido toda sua importância no faturamento dos provedores. Principalmente depois que as teles, as empresas de telefonia móvel, passaram a oferecer o sinal na modalidade sem fio.

No caso das operadoras de TV o sinal de banda larga chegou como um serviço secundário oferecido aos clientes. Os milhares de quilômetros de cabos se tornaram as freeways naturais do sinal de Internet. Hoje, em alguns mercados, é a banda larga que mantém essas empresas.

Também a banda larga móvel era uma praticidade a mais nos telefones celulares. Com os aplicativos de voz os celulares deixaram de ser telefones e a receita das teles afundou. Elas passaram a ser fornecedoras de uma infraestrutura fundamental para enriquecer empresas que desenvolvem aplicativos ou oferecem serviços através deles.

Essa aproximação, portanto, parece natural – entre provedores e desenvolvedores de aplicativos. Mas demorou um pouco para que os provedores percebessem isso. Em princípio, acostumados que estavam a negociar diretamente com olhos (TV por assinatura) e ouvidos (celulares), nem pensavam em ter clientes enviesados por uma infinidade de códigos que não dominam.

Ainda bem que os desenvolvedores não guardaram rancor dos tempos em que foram perseguidos, até sabotados, pelos provedores. E agora chegam para oferecer parcerias em novos negócios. Tirando essa visão de conto de carochinha, as possibilidades para o futuro desses negócios são infinitas. Até porque novos players devem invadir esse cenário a qualquer momento. O IoT é um deles, com potencial econômico e empresarial incomensuráveis.

É por aí onde a Apple parece ensaiar mais alguns passos com o tvOS12. O sistema tem suporte para plataformas de controle doméstico, como o Crestron, já instalado aqui no Brasil, e o Control4. Essas plataformas gerenciam automaticamente a iluminação, ventilação, segurança e outros recursos importantes para residências e empresas.

Nos países desenvolvidos, com condições climáticas muito diferentes das nossas, esses serviços são bem populares. Com novos recursos que estão surgindo e as mudanças nos hábitos pessoais e de trabalho, a tendência é de que esses serviços ganhem importância em outros mercados, como no Brasil.

IDEIAS QUE ABREM CAMINHOS

A importância da infraestrutura teve uma demonstração severa aqui no Brasil até há poucos dias, com a greve dos caminhoneiros. Aquelas coisas mais corriqueiras, aparentemente naturais, como o alimento na gôndola do supermercado, simplesmente desapareceram. O país esteve à beira de um colapso.

Esses dias ajudaram a compreender melhor como funciona essa coisa que faz todas as outras coisas funcionarem. A maioria das pessoas, que vive nos grandes centros, não sabia que só 20% das estradas brasileiras são asfaltadas. Portanto, a qualidade dos caminhões e a competência dos condutores ganham importância quando se fala em infraestrutura de transporte como um todo. É o “aplicativo” compensando algumas carências da “rede”.

Não dá para saber de quais infraestruturas e em que dimensões vamos precisar nos próximos anos. Recursos naturais importantes estão chegando ao limite, há um hábito de desperdício generalizado e os padrões de conforto não podem ser reduzidos. Tudo isso aponta para a necessidade de sistemas mais eficientes, geridos de maneira integrada. Quais, exatamente?

Se você tem muito dinheiro para apostar no que será o mundo daqui a cinco anos, talvez prefira gastar esse dinheiro agora com algo que lhe traga alguma satisfação. Como as grandes empresas não têm essa alternativa, acabam desenhando cenários cada vez mais curiosos. Os produtos que surgem desses “ambientes de prancheta” acabam influindo muito no rumo que a sociedade vai seguir. Assim como a invenção do tear, da luz elétrica ou do automóvel, mudaram tanto o mundo que existia antes deles.

Diferentemente das infraestruturas mais tradicionais, a Internet é uma estrada que nos coloca a uma única distância uns dos outros. Lugares passam a ser apenas combinações de sinais, que podem ser inventados a cada instante. Muitos bens, de importância vital, já trafegam por ela. Não é o caso dos alimentos, mas o conhecimento de um médico americano já pode mover um bisturi na África, para operar um paciente.

Observar essa realidade já não causa tanto espanto. O que admira é perceber, na configuração de uma caixa de TV, os acessos que estão sendo criados para as marcas de hoje, nas necessidades do amanhã.

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