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MAIS FORÇA PARA O FUTURO

O Brasil é o quinto maior país do mundo. Hoje essa afirmação nem precisa de mais detalhes porque, além do território, a nossa população também é a quinta maior, pelo menos na atualidade. Na Economia, já estivemos em sexto, mas em outros rankings chegamos ao primeiro lugar. Falando apenas dos bons primeiros lugares, um deles é no serviço de TV aberta. Nenhum outro país tem a preferência tão marcante pelos canais gratuitos.

Pra quem é do tempo em que garoava em São Paulo, não é difícil lembrar de notícias do tipo: “a partir de hoje o sinal da nossa emissora também está chegando a mais uma cidade!” Lá vinham aqueles nomes estranhos, de cidades desse Brasil tão grande, multicultural. A conta dessas expansões às vezes ficava para a emissora, às vezes a prefeitura da cidade ajudava, ou assumia tudo. Ia assim. A radiodifusão desbravou os ares brasileiros sem que o telespectador colocasse a mão no bolso. Nos países que adotaram o modelo americano, de canais a cabo, eram os assinantes que bancavam essas expansões. Onde existia demanda, a TV chegava, porém com um sinal melhor e muito mais opções de canais.

Veio a TV digital e parece que ficamos numa boa! A qualidade do sinal aberto chegou no limite máximo, as opções aumentaram muito com os set-top boxes. Será que vai ser tão fácil assim?

CAPÍTULOS DA MESMA NOVELA

Não vale olhar pelo lado de que a história que vai ser tratada aqui é velha. Porque a ação de alguns protagonistas faz tudo começar de novo a cada lance. O desligamento do sinal analógico da TV aberta estava previsto há quase uma década. Aconteceria por etapas, entre 2015 e 2018. Todos os radiodifusores do setor sabiam disso e estavam de acordo. Depois o Brasil passou por um grande crescimento econômico, exaltado no mundo todo, e muitos desses radiodifusores programaram os investimentos para implantar o sinal digital em toda área de abrangência da emissora. Outros, porém, deixaram para a última hora. O Governo Federal também assumiu compromissos em cima desse calendário. Vendeu uma banda de frequência para as teles (operadoras de celulares), contando com a solução técnica da TV digital.

A cidade de Rio Verde, em Goiás, deveria ser a primeira a ficar apenas com o sinal digital. A data do desligamento estava marcada para o ano passado, quando alguns radiodifusores começaram um movimento para adiar a mudança no resto do território brasileiro. No começo, a culpa era da crise. Mas agora, a versão vencedora é a falta de capacidade técnica para se instalar tantos transmissores, em locais tão distantes, em tão pouco tempo. Dizem que não há técnicos suficientes pra isso. Na semana que passou uma reunião foi realizada no Gired, o grupo de implantação da redistribuição do sinal digital. Mudou tudo. A proposta que está valendo agora não é mais a do calendário original. O desligamento do sinal analógico, nos próximos dois anos, vai acontecer apenas em cerca de mil cidades. É onde o tráfego de frequências é mais intenso e precisa “limpar” a banda que as teles compraram. E também onde mora a maioria da população brasileira, onde circula a imensa maioria dos reais, dólares e tantas outras moedas. Nos outros 4,5 mil municípios brasileiros, a TV digital vai chegar até 2023.

FÁCIL PRA BATER

O Gired é um órgão oficial e aceitou a proposta de mudança do calendário. Mas o Ministério das Comunicações ainda precisa dar a palavra final. O curioso é que, se todo mundo sabia que o Brasil é tão grande, que o sinal terrestre demandaria tanto trabalho para ser trocado, por que mantiveram o calendário até a última hora?

É nessas situações que o governo se torna o “travesseiro” mais sonoro que existe. Travesseiro, porque é macio pra bater. E sonoro, porque repercute tanto, que todo mundo ouve, todo mundo acha bonito. Mas a verdade é que, na implantação da tecnologia digital, o Governo Federal fez tudo certinho. Reuniu todos os setores envolvidos, formatou órgãos para debater as mais diversas questões. Tudo sempre foi consensual, respeitando as várias posições. O Governo não teria que ter criado um “ministério da TV digital” para resolver coisas que a iniciativa privada pode e precisa fazer. As emissoras privadas tem todos os especialistas necessários, conhecem o Brasil, os detalhes técnicos. E, dessa vez, tinham também voz.

O resultado é que a maior parte desta quinta população da Terra terá TV digital até 2018. Mas a maior parte do quinto maior território do mundo não vai ter. O principal disso tudo é saber agora qual TV digital vamos ter.

Pelo acordo anterior, todos os beneficiários do Bolsa Família deveriam receber, como compensação das teles, set-top boxes com o Ginga C. É o que garante o melhor nível de interatividade. E isso significa inclusão digital e muitos serviços públicos eletrônicos pela TV. Como esses set-top boxes não vão mais para as 4,5 mil cidades, a proposta é aumentar a distribuição nas mil e tantas cidades contempladas (as maiores). O critério passaria a ser set-top boxes gratuitos para os beneficiários do Bolsa Família, e set-top boxes sem interatividade para os inscritos no chamado Cadastro Único, que recebem atendimento social menor. A EBC (Empresa Brasil de Comunicação) do Governo Federal, que utiliza ativamente aplicativos interativos voltados para a população de baixa renda, está propondo que os set-top boxes para o Cadastro Único tenham uma versão mais simples do Ginga. Garantiria alguma interatividade, a custos bem menores. Se o “canto” do sinal digital não pode ser tão vigoroso e pleno, que possa, pelo menos, existir, ainda que timidamente, como uma promessa para o futuro.

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