sexta-feira, 01 de maio de 2020
Muita gente em casa enquanto a covid-19 está pelas ruas do Brasil. A TV, que há anos é o lazer mais consumido no mundo, passa a ser o caminho natural para se ver e ouvir algo além do que passa pelas janelas. De fato, a audiência da TV digital aberta cresceu. Também cresceram as plataformas OTT, como o Netflix, que atingiu o dobro, em nível global, do que previa para o período. E a TV por assinatura (cabo ou parabólica DTH), que vinha registrando quedas de clientes…, continuou caindo!
Em março, o setor perdeu 89 mil assinantes. Metade desse total foi durante o período de quarentena. Em fevereiro a queda tinha sido praticamente a mesma, enquanto a covid-19 quase não aparecia no noticiário, dominado pelo carnaval. Entre os possíveis motivos do cancelamento de assinaturas estima-se que esteja a necessidade de gastar menos, num período de muita instabilidade econômica. Também a concorrência dos serviços OTT continua erodindo o faturamento das operadoras tradicionais de TV por assinatura. Mas um dos motivos inaceitáveis dessa queda é a pirataria. São tecnologias capazes de sintonizar um grande número de canais sem passar pelas linhas das empresas que empregam milhares de pessoas, recolhem impostos e remuneram a produção cultural com o pagamento de direitos autorais.
A pirataria como um todo é um dos problemas a serem atacados no Brasil pós-covid, de que tanto se fala. Formadores de opinião comentam que não dá mais para continuarmos improvisando providências sérias, como moradias dignas, construídas em bairros projetados, com os equipamentos urbanos necessários. Mas não vai haver receita nem no mercado de trabalho e nem no poder público para produzir esses benefícios, enquanto o furto puro e simples, para enriquecimento de pessoas inescrupulosas, for aceito.
Mazelas à parte, o modelo de negócio das TVs por assinatura precisa mesmo ser repensado. O serviço do tipo DTH, que utiliza uma pequena parabólica, é o que mais vem caindo. A infraestrutura é mais simples, mesmo assim sai caro para o assinante, que também não encontra muitos atrativos na programação. A TV a cabo, que investe na construção de extensas linhas, tem a vantagem de poder usar essa infraestrutura para outros serviços, como banda larga. É por aí que chega a concorrência da TV por assinatura.
Os contratos de banda larga fixa no Brasil ultrapassaram, pela primeira vez, os de telefonia fixa, segundo dados estatísticos divulgados pela Anatel nesta semana. A curva ascendente da banda larga fixa teria cruzado a curva descendente da telefonia fixa ainda no último mês de fevereiro, de acordo com informações publicadas pelo site Teletime. O fator surpreendente continua sendo o crescimento dos pequenos provedores ISPs, de atuação regional, mas espalhados em várias regiões do país. Juntos, representam o maior conjunto de contratos do mercado de banda larga fixa, se comparados individualmente com as grandes operadoras de telefonia. Em segundo lugar, vem a Claro.
Os pequenos provedores oferecem serviços mais em conta e de qualidade, muitos deles com suporte 24 horas por dia, 7 dias por semana. Praticamente 60% das redes de fibra óptica dedicadas ao acesso à Internet – melhor tecnologia no momento – são operadas pelos pequenos provedores. Não é por menos que a tendência de alta dessas empresas continua. Isso sem falar na possibilidade de surgimento de alguma tecnologia que viabilize a oferta de mais serviços a partir desses provedores. Entre as hipóteses, a distribuição de canais de televisão por assinatura.
Quem continua com boas perspectivas de crescimento, fazendo sombra para toda a concorrência, é a boa e velha TV aberta, agora com sinal digital. Os dados sobre tecnologias da informação e comunicação na última PNAD-C, referentes ao ano de 2018, indicam que ela está presente em 96,4% dos lares brasileiros. A TV digital aberta está tomando até parte do espaço das grandes antenas parabólicas domiciliares, tecnicamente conhecidas como TVRO. Essas antenas captam sinal de satélite pela banda C, o que pode atrapalhar parte da implantação da tecnologia 5G de Internet móvel. O uso de TVRO é mais importante na zona rural, onde atende dois terços dos lares com televisores, principalmente porque o sinal digital aberto não chega em muitos desses locais.
A tecnologia DTVPLAY ou Ginga D deve aumentar o interesse pela TV digital aberta, principalmente pelo fato de viabilizar uma programação comercial randomizada. Ela permite que a cada intervalo comercial sejam enviados anúncios diferentes para muitos grupos de espectadores, de acordo com o interesse desses grupos (idade, faixa de renda, escolarização etc). O preço do espaço publicitário fica reduzido para o anunciante. E isso aumenta muito a quantidade de anunciantes e a receita das emissoras. O DTVPLAY combina o sinal de TV com a banda larga e pode representar mais um espaço de atuação para pequenos provedores de banda larga.
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