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A NOVA TECNOLOGIA QUE CHEGA E JÁ É URGENTE

O que você faz com um guarda-chuva num dia ensolarado? Há quem entenda que, nesse caso, o guarda-chuva é totalmente inútil. Não, ele está cumprindo um papel. Muita coisa existe para cumprir um papel numa determinada situação e isso não significa que, até lá, sejam coisas inúteis. Ambulâncias, bombeiros, policiais fazem parte de estruturas que ninguém quer usar. Mas estão lá, faça chuva ou faça sol. Nunca são inúteis.

Os recursos digitais têm essa “capacidade relativa” bem acima da real necessidade de uso. A diferença é que, no mundo TI, tudo, absolutamente tudo é feito com bits, para bits. Uma característica que aumenta demais a possibilidade de um recurso ser transformado de uma coisa em outra e vice-versa, em frações de segundo. Mais comum ainda é ser, ao mesmo tempo, uma coisa e outra também. As possibilidades são tantas que, em alguns casos, demora para que as pessoas percebam o potencial que está lá parado, esperando ser descoberto.

No entanto a economia, uma ciência bem mais antiga, tem se encarregado de dar um “presta atenção” permanente quanto às possibilidades de racionalização de recursos. Ou, melhor ainda, monetização de recursos estocados. O ritmo de inovação exige investimentos frequentes e, para ter competitividade, é indispensável qualquer centavo que se possa faturar a mais. Um movimento neste sentido parece estar ganhando mais força no setor de TI recentemente. Por exemplo, a criação das redes neutras na telefonia. Empresas que não são operadoras compram e mantêm linhas de transmissão, que passam a servir várias operadoras ao mesmo tempo. Até a indústria de satélites está pensando em padronizações para que várias empresas possam trabalhar em parcerias.

A TV 3.0, ou Next Gen, está se encaixando nessa lógica. A TV aberta tem como característica a emissão de um sinal do tipo um-para-muitos, num sentido único. É o broadcast. As grandes redes vão se estendendo ao máximo, chegando às regiões mais distantes, para que o máximo de pessoas possa captar aquele sinal. Como é regra em tudo que é digital, há uma sobra de banda. E essa sobra tem sido utilizada aos poucos. Na TV 3.0 o sistema está preparado para enviar também dados de vários tipos, para empresas e instituições que precisem alcançar os pontos mais remotos. Dentre os potenciais clientes estaria a indústria automobilística. Os modelos mais atuais precisam de atualizações de softwares com alguma frequência. Os testes demonstraram que a TV 3.0 distribui essas atualizações com muita eficiência. Por enquanto, é o sistema mais prático e mais barato para esse tipo de aplicação. Lideranças da TV aberta americana estão pensando em desenvolver o marketplace mais eficiente para levar essa alternativa para o maior número de clientes. No momento, eles sabem que a indústria automobilística ainda não exige tantas atualizações. Mas o agronegócio é um setor que já tem essa necessidade para determinadas regiões agrícolas. Outra possibilidade já considerada é a distribuição de vídeos curtos em várias situações. Por exemplo, um lance importante num jogo que está sendo transmitido ao vivo. Tipo um pênalti ou posição de impedimento, no caso do futebol. Pelo celular todos no estádio podem ter a imagem, em altíssima definição, para conferir na arquibancada.

A NAB, associação que representa os broadcasters americanos, vê nessas possibilidades um sustentáculo importante para pequenas emissoras em regiões remotas. Elas poderiam contar com mais essa fonte de receitas, nesses tempos em que a TV aberta sofre uma forte concorrência da Internet.

A “luta pelas pequenas emissoras” também tem sido tema de conversas entre as grandes empresas brasileiras do setor. Porém, como destaca Raymundo Barros, diretor de Estratégia e Tecnologia da Globo, os grupos de mídia têm “uma relevância no Brasil que não existe em outro lugar”. Quer dizer, mais de 60% do consumo de mídia fica por conta da TV aberta. Mesmo assim Barros acredita que é necessário repensar a TV aberta nos moldes da TV 3.0 americana. O segmento de publicidade de performance (“varejão”) depende da tecnologia para anúncios endereçáveis. E a publicidade de performance é hoje a mais rentável, que mais cresce.

O vice-presidente para Assuntos Institucionais e Regulatórios do SBT, Roberto Franco, é mais enfático na necessidade da atualização do sistema. Ele entende que a TV aberta tem que ser revista como um todo. Acredita até que a TV aberta vai acabar, se não houver investimentos para se chegar a um padrão 3.0. Nos Estados Unidos a tecnologia de TV 3.0 é opcional. As emissoras que se interessam têm de investir num sistema totalmente diferente de captação e geração de som e imagem. Da mesma forma, os clientes interessados precisam adquirir televisores específicos para a nova tecnologia. Nos Estados Unidos, essa adesão atualmente beira os 60%. No Brasil tende a ser da mesma forma. Com isso, as emissoras terão de ser suficientemente atraentes para convencer o público a fazer esse alto investimento. Para chegar a 50% esse “guarda-chuva” caro vai ter que ser tão divertido quanto aquele com que se dança o frevo.

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