BLOG

PAIXÕES, OPINIÕES E A NECESSIDADE DE DECISÕES

Time de futebol, cada um escolhe o seu. Mas nem por isso precisa rejeitar a lógica. Para não criar melindres entre os torcedores brasileiros, o exemplo vai ser escolhido na Europa. Digamos que você fosse espanhol, torcedor do Atlético de Madrid. Não seria sensato você dizer que, hoje, o seu time é o melhor da Espanha. No dia do jogo contra o Barcelona você vai torcer para o seu amado Atlético, vai observar circunstâncias do momento, ficar na expectativa de erros do adversário. E até poderá sair do estádio comemorando uma vitória. São coisas do esporte. Mas esse fato, de forma isolada, não muda a realidade.

Saltando para o mundo das escolhas objetivas, criteriosas, o efeito passional não desaparece totalmente. Principalmente nesses tempos em que a camisa da seleção está sendo usada em monumentais mobilizações populares, desta vez, relacionadas à política. Foi neste jogo, onde nunca se sabe quem está com a bola, que apareceu uma crítica à Secretaria do Audiovisual, ligada ao Ministério da Cultura. O motivo seria a criação da “Netflix brasileira”, voltada à exibição de um acervo de 30 mil títulos, entre filmes, documentários e séries de programas culturais. O acesso a esses conteúdos será pela TV aberta, mesmo sem conexão com a Internet. No caso, utilizariam recursos próprios da tecnologia de transmissão digital de TV (DTV). Na prática é um serviço de entrega de vídeos, de acordo com a demanda de cada telespectador em particular, o que o Netflix faz comercialmente pela Internet.

A crítica velada se faz por conta do orçamento previsto para a implantação do sistema, em torno de R$ 10 milhões. Será que isso é caro? Ou será que é um valor compatível com o mercado? Há possibilidade desse gasto praticamente desaparecer das preocupações do contribuinte, em função do custo benefício? É o ponto a ser avaliado.

A UTILIDADE DA ARTE OCULTA

Catalogar, digitalizar e indexar um acervo de 30 mil produções não é uma tarefa simples. Falar nesses R$ 10 milhões parece já caber nessas tarefas. Mas a questão principal é o custo para disponibilizar esse acervo a milhões e milhões de brasileiros: quase zero! Uma possibilidade que o Sistema Brasileiro de TV Digital mantém no ar já há alguns anos, e que está aparentemente inútil.

Vamos a outros dados significativos. Só a Ancine – Agência Nacional do Cinema, ligada ao mesmo ministério, tem um orçamento anual de cerca de R$ 70 milhões. Dinheiro público para ser investido na produção de cinema no país. As críticas que se ouvem a este respeito vêm no sentido inverso. Reclama-se do pouco disponibilizado a uma expressão cultural tão importante para uma nação como o Brasil que, ainda, oferece um potencial empresarial incomensurável. Muito bem! Se esse dinheiro público pode ser investido para produzir audiovisual, por que uma fração dele não pode ser aplicada, uma única vez, para que as produções sejam vistas? Ou existe algum outro motivo para se produzir audiovisual, que não seja a exibição?

A promessa é, dentro desse orçamento, oferecer também alternativas pela Internet. O público “cult” vai vibrar com esta possibilidade. E poderá também utilizar a alternativa via TV, desde que procure no mercado conversores digitais (set-top boxes) com o Ginga C. Uma maneira de valorizar essa plataforma de comunicação poderosa que já está implantada. E continua sendo negligenciada, em função dos interesses das grandes corporações de tecnologia.

O DIREITO SAGRADO DE DISCORDAR

No contexto da mesma crítica ao programa federal, muitos reagem contra a “doação de conversores para os usuários do Bolsa Família e de outros programas sociais”. São esses conversores que viabilizam tecnicamente o acesso aos filmes. Os conversores vão ser custeados pelas empresas de telefonia móvel que assumiram esse e outros custos, como “compensação”, num negócio com o Governo Federal. Elas tomaram a iniciativa de pedir a antecipação do desligamento do sinal analógico de emissoras de TV que ocupavam aquela banda. O Governo concordou, desde que pagassem as tais compensações. E realizou o leilão para vender as faixas de frequência (dentro da banda). O destino acabou tornando tudo isso um presente! Porque a operadora Oi desistiu na última hora, sobraram faixas de frequência e as outras concorrentes só pagaram o lance mínimo. As compensações já tinham sido assumidas no edital. Se o Governo tivesse exigido o valor das compensações no leilão, provavelmente não iria faturar mais, porque houve sobra de oferta e isso baixa o preço.

Finalmente, há que se considerar que, de fato não houve paternalismo. Em todas as nações capitalistas onde já aconteceu a mudança de sistema, os governos subsidiaram os conversores para as camadas de baixa renda. Inclusive nos Estados Unidos, que não pode ser chamado de país pobre. A televisão presta um serviço público essencial nos dias atuais. Não é sensato simplesmente desligar o sinal analógico e deixar que a população se vire. Tudo isso pra dizer que a “Netflix brasileira”, ou a “Netflix social” pode ser criticada. Mas, que se leve em conta todas as circunstâncias.

ARQUIVO DE POSTAGENS

Bitnami