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DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Quando a sociedade tem uma dívida de justiça que não vai ser resgatada, ela cria um dia comemorativo. Dia do Índio, do Trabalhador, Meio Ambiente, Dia da Consciência Negra. É mais ou menos como um precatório moral, papel podre que certifica publicamente aquele direito inquestionável… e a parte que se vire para conseguir alguém que dê algum valor para aquilo.

O 8 de março é o caso mais didático. Todos os outros “dias” passam por ele, ou melhor, contornam a mulher negra, desviam da trabalhadora, minimizam o gênero predominante da espécie. Por fim, toma aí, um dia pra chamar de seu.

Hoje vai ter rosas nos escritórios, mimos nas linhas de produção. As faxineiras não ganham nada. Elas são terceirizadas, o patrão é economizador contratado. A mídia vai trazer números atualizados do mercado de trabalho e histórias de vida para, mais uma vez, redescobrir que a mulher existe. E lembrar também daquelas que não existem mais, por decisão monocrática masculina.

Os poetas, esses sim! Vão trazer contribuições interessantes, porque falam direto aos sentimentos mais nobres. Vão sensibilizar a todos. Mas isso não é para qualquer um, então muitos vão recitar frases piegas, exaltar a beleza, vão pôr a mãe no meio, falar da professora e de “ternura”. Valores que elas deveras têm! E daí?

A mulher já cansou das bajulações, de exaltações e agora prefere a “parte dela em dólares”. É o que conta nesse inverno permanente, de um mundo que até hoje está nas mãos de homens. Onde todos os valores tendem a ser convertidos numa escala representativa de poder. É o traço ancestral que não evoluiu, que resistiu à inteligência, o império da lei do mais forte. É o ponto final da espécie que precisa ser removido, para que a racionalidade possa persistir.

O mundo já tem todos os espaços ocupados, todo o território do planeta está dividido entre nações, não há mais Terra devoluta. O bicho humano contaminou cada canto, como uma grande infecção que acometeu toda a biota. Na lógica evolutiva, ou a espécie se modera ou é extinta.

O que falta então é o entendimento, a harmonia entre as nações, para uma coexistência ética e segura. O humano, enquanto espécie, tem o destino de ser a primeira a “revogar” a lei do mais forte. A outra opção é desaparecer do mundo. O primeiro passo – e também o definitivo – para conquistar a permanência é o reconhecimento da mulher como sujeito dotado de todos os direitos e capacidades próprias da espécie. Uma mulher e um homem, unidos por um sentimento mútuo, formam o microcosmo das relações humanas. Enquanto a força física persistir como recurso moderador dentro dessa relação, todos os outros níveis de convivência serão instabilidades ameaçadoras. Entre a mulher e o homem se estabelecem os valores, os haveres e deveres, o poder de interferir nos rumos do relacionamento. Se não houver solução desde esse nível, também será improvável a paz entre as nações.

Neste Dia Internacional da Mulher a EiTV não vai apenas reiterar a homenagem, que rendemos todos os dias. Mais do que a formalidade, o dia é de compromisso. Estamos comprometidos em manter a absoluta igualdade de condições entre todos os indivíduos, no ambiente competitivo em que vivemos. O mesmo respeito, os mesmos valores de convivência entre todos os humanos.

Que os poetas encontrem as mais belas palavras, as mais justas considerações! Da nossa parte, o “devo, não nego, pago quando quiser” (querer não é poder?) está terminantemente abolido. À Mulher, a confissão de nossa grande admiração, se materializa no compromisso de plena igualdade.

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