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EM BUSCA DO MELHOR JORNALISMO

Tudo indica que vai ser um duelo histórico. Lembra quando todo mundo ficava boquiaberto ao saber o tanto de coisas “grátis” que tinha na internet? Pois é, hoje você sabe que paga, mesmo sem assinar nada nem pôr a mão no bolso.

O duelo vai ser em cima dessa conta aí. De um lado, as poderosas big techs, do outro, a Associação Internacional de Radiodifusão – AIR. A entidade surgiu depois da segunda grande guerra, em defesa da liberdade de expressão. Tornou-se um espaço de debates relacionados às então recentes tecnologias de radiodifusão, o rádio e a TV. Passou a ter também o papel de um fórum para padronizações no setor. Hoje, na prática, a entidade tem presença só nas Américas.

Numa avaliação do que acontece com a mídia nos últimos anos é fácil constatar que há uma significativa perda de receitas. Um dinheiro que está saindo da mídia tradicional do mundo todo em direção a meia dúzia de big techs. Elas operam redes sociais, motores de buscas e outras ferramentas da internet. Então um cidadão quer saber quando e onde vai ser a final de um determinado campeonato, em algum lugar do mundo. Entra no site e, frações de segundo depois aparece na tela uma coleção de matérias, produzidas por empresas jornalísticas daquele país, com todas as informações. De graça… Não mesmo! Se logo de cara não rodar um vídeo com alguma propaganda, vai ter alguns banners anunciando isso e aquilo. Quando o internauta clicar num dos links vai abrir o layout que a empresa jornalística criou, uma diagramação agradável, a fonte da informação (a empresa), o profissional que apurou (o jornalista pago pela empresa), tudo bonitinho, com credibilidade. Ao lado vai ter várias propagandas. Mas todas são de clientes da página de busca.

Os anunciantes acham que as páginas de buscas, as redes sociais, cobram barato pelos anúncios. Com certeza, afinal elas estão vendendo informações que outros produziram, não pagam nada por isso. É verdade que essas big techs inventaram sistemas que aproximam muito mais os anunciantes dos potenciais clientes. Parabéns! Mas, sem conteúdo, tudo aquilo não serve para nada.

As redações da Austrália levaram essa situação à justiça e tiveram ganho de causa. Num acordo, as bigh techs estão pagando pelo uso das informações. Não é difícil perceber que as chances de ganho de causa para quem reclamar seus direitos é grande. Só faltava alguém se habilitar para exigir compensações. Não falta mais. No mês passado o comando da AIR passou para as mãos de Paulo Tonet, vice-presidente de assuntos institucionais e regulatórios da Globo. Ele disse ao site TelaViva que os grupos técnicos da entidade já trabalham na preparação de um documento sobre essa situação. Deve conter também referências ao fato de que essas ferramentas não têm qualquer orientação editorial. O que as torna um espaço privilegiado para quem quer propagar mentiras sobre os mais diversos temas, empresas e pessoas.

A estratégia anunciada é contundente. Em abril de 2024 vai acontecer, em Las Vegas, mais uma edição da NAB Show. É o maior evento da radiodifusão no mundo. Paulo Tonet vai convocar uma reunião extraordinária da AIR no recinto da NAB Show e espera aprovar uma sugestão de legislação para regular plataformas digitais em todas as Américas. Isso inclui o pagamento pelo conteúdo que elas utilizam. A sugestão estará baseada no documento que já está sendo produzido na entidade, voltado a princípios como responsabilidade e transparência na produção e veiculação da publicidade. Ele lembra que os anunciantes e as agências de publicidade precisam estar atentos às tradições e normas gerais de cada nação. No Brasil, o Conar – Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária, é a entidade encarregada de zelar pela qualidade e o respeito aos valores locais. Ele tem poder para tirar do ar uma propaganda que julgue inadequada. A não ser que a propaganda seja veiculada numa dessas big techs. Elas não dão a mínima para entidades nacionais que têm esse tipo de atuação.

Em plena Era das Incertezas a imprensa, enquanto instituição voltada a informar o povo, se consolida como um dos pilares da democracia. Há um reconhecimento universal quanto a esse papel. Por outro lado, as tentativas de criação de veículos jornalísticos, mantidos por governos ou instituições fechadas, se demonstraram equivocadas. É enquanto inciativa privada, com perfil empresarial, que o Jornalismo de todas as mídias está mantendo o povo informado. Há erros e vícios, mas nenhum outro modelo conseguiu sequer equiparar-se às empresas privadas de comunicação. E a sobrevivência delas faz parte de um “acordo” tácito com a iniciativa privada, que não envolve compromissos em torno do conteúdo, da expressão e da verdade. Os jornais produzem informativos de interesse objetivo da população. E as empresas usam esse espaço de exposição para divulgarem seus produtos. Além do uso indevido de conteúdo, o que as redes sociais e sites de busca fazem pode comprometer a sustentabilidade da oferta de informações de qualidade para a população.

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