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MODELOS DE NEGÓCIOS CONCORREM CONTRA TECNOLOGIAS

Não faz muito tempo que você ouviu algum especialista dizer – ou reiterar – que a TV aberta não tem futuro. E, mais ou menos nesse mesmo tempo, também deve ter ouvido alguém falar que a TV por assinatura vai naufragar na onda dos cord cutters. Isso valeria tanto para operadoras a cabo como por satélite (DTH), que estariam mais arriscadas ainda, por não levarem a conexão à Internet juntamente com o sinal da TV via satélite.

Finalmente há quem entenda que existe espaço para todos e, com o crescimento da geração de conteúdo, em qualidade e diversidade, a tendência é de crescimento para todos os setores. A vantagem é toda do consumidor. É o que se confirma cada vez mais, com o amadurecimento empresarial das alternativas de acesso ao audiovisual. Pelo menos por enquanto, neste mundo de tecnologia fugazes.

O Brasil é destaque em todas as plataformas de comunicação. “País continental, mais de 200 milhões de habitantes” e outros chavões de palanque se confirmam nos balanços de empresas provedoras. Na modalidade DTH (aquela da pequena parabólica que fica na sacada, conectada ao satélite) os brasileiros são o terceiro maior grupo de clientes do mundo. Rendemos quase US$ 5 bilhões ao ano descendo conteúdo. Eis a forte inspiração para o investimento de R$ 1,5 bilhão no Sky B1, um grande satélite lançado no primeiro semestre. A mesma empresa também montou um centro de transmissões em Jaguariúna – SP para dar suporte à inclusão de mais de uma centena de canais nos pacotes.

Flagrante a prioridade da empresa em manter o satélite como base do negócio. Nem por isso vai ignorar a alternativa OTT. O Sky Media Center, oferecido num pacote premium, é uma caixa inteligente que acrescenta canais online e serviço VoD, tudo por streaming. Ela pode gravar conteúdos de até 5 canais automaticamente, com base nos hábitos do cliente, e disponibilizar como opção. Quando programada, tem espaço para gravar 400 horas de vídeo em HD ou 800 horas em SD.

Para as opções via streaming é necessário uma conexão Internet com pelo menos 4 Mbps de velocidade. Por enquanto, porque a partir do ano que vem a empresa vai oferecer Internet banda larga 4G, dentro do pacote, para conectar também o desktop, notebook, tablet, além da TV.

QUEM DISSE QUE NÃO PODEM SER AMIGOS?

A estratégia da Oi TV é bem semelhante, mas prevalece da vantagem de já ter uma base consolidada de Internet banda larga. Um extenso conteúdo é distribuído via OTT, por meio do serviço Oi Total Play, para clientes conectados acima de 5 Mbps. Você se lembra da briga entre teles e OTTs? Parece que estão se entendendo. Esse serviço da Oi chegou a 100 mil ativações em um mês, o dobro das ativações líquidas da TV via satélite (DTH) que a empresa oferece. Enquanto isso, no mercado brasileiro como um todo, o momento da TV por assinatura tende à retração. Sinal de que a estratégia da empresa está funcionando.

A base dos serviços fixos da operadora nacional estaria sendo mantida por conta de uma boa combinação dos planos banda larga, celular e TV. A afirmação é de uma fonte da empresa que, durante a semana passada, participou do Congresso Latino Americano de Satélites, realizado no Rio de Janeiro, pela Teletime.

Para não parecer contraditório, o encolhimento da TV por assinatura no Brasil, em boa parte, está sendo associado à crise econômica. Em condições normais poderia tender ao crescimento. Além disso, há um outro fator que interfere de várias formas na análise desse mercado. Um fator que não é monitorado de perto, por causa da distância dos indicadores formais. É o mercado da pirataria. Esse contingente, só na tecnologia DTH, seria suficiente para sustentar a terceira posição no ranking nacional de operadoras. As estimativas indicam 4 milhões de piratas desse sinal só no Brasil.

SE SOBRAR NA MINHA FRENTE, TOMA

O equilíbrio entre as várias telas – via terrestre, cabo, DTH ou OTT – tende a se alterar de acordo com o movimento das inovações. Mas não há indicadores concretos de que algum deles deva ficar abaixo da linha do viável. Eles estão aprendendo a conviver em harmonia, compondo pacotes para atender aos mais diversos gostos. No caso da Sky, por exemplo, o aumento na capacidade de transmissão abriu espaço para 36 praças da TV Globo, 18 em HD. O cliente passa a ter acesso à programação local, que antes ele só sintonizava no canal aberto. Era uma carência da tecnologia DTH. Olha só TV paga e aberta se completando!

O OTT, que também estaria fragilizando a TV paga, está sendo habilmente agregado pelas operadoras do setor. Elas não podem controla-lo, porém, enquanto tecnologia universalizada, o OTT não vê inimigos no espectro. Embarca em qualquer frequência. Vai depender da eficiência de cada aplicativo, para cada finalidade específica.

A propósito, no dia 18 deste mês, o OTT é tema de reunião em Genebra, na sede da UIT – União Internacional de Telecomunicações. A entidade internacional precisou abrir uma consulta pública sobre o tema, tal é a polêmica pelo impacto nos mercados de aplicativos como Netflix e WhatsApp. Os aplicativos de vídeo balançaram a TV por assinatura. Principalmente das operadoras via satélite, que não proveem sinal de Internet. E os de voz estão mudando completamente o mercado das chamadas teles, provedoras de telefonia e Internet móveis.

O Brasil enviou 6 contribuições, onde fica nítido o confronto entre os setores citados. De um lado aparecem propostas semelhantes da Abrint (Associação dos Provedores de Internet), Abranet (pequenos provedores), Brasscom (entidades de software) e o Idec – Instituto de Defesa do Consumidor. Basicamente propõem que os órgãos reguladores das várias nações não interfiram na questão, uma vez que existem para defender interesses do consumidor e não o mercado de determinados segmentos empresariais.

Do outro lado estão o Sinditelebrasil (operadoras de telefonia móvel) e a Claro, que enviou uma contribuição em particular. Elas querem incluir as aplicações de conteúdo na mesma regulamentação que elas seguem. Ou, no mínimo, querem reduzir a discrepância tributária que observam, entre elas e os titulares de aplicações cujos serviços “se confundem” com os prestados pelas empresas que proveem o sinal. Só não se referem ao fato de que as aplicações pagam pelo acesso.

O prazo para envio de contribuições encerrou no final do mês passado. No dia 18 a UIT começa a analisar o que foi alegado por entidades e empresas do mundo todo. A expectativa é de que a mesma polarização seja observada nos diversos países.

No Brasil, os planos anunciados no mercado da telefonia móvel já refletem o efeito OTT. A tendência é ofertar planos com preço único, com todos os serviços de telefonia liberados, independentemente de ligações entre diferentes áreas ou operadoras. Incluem também pacotes de dados robustos, para navegar à vontade pelas aplicações via Internet. Já dizia o ditado: “se não é capaz de enfrentar um adversário, alie-se a ele.”

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