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A INCLUSÃO E O DIREITO AO LAZER

O “cidadão padrão” brasileiro, e também americano, passam a maior parte do dia trabalhando. O segundo maior intervalo de tempo diário é dormindo, para atender outra necessidade de sobrevivência, que é o descanso. E o terceiro maior item da agenda é a televisão, o tipo de lazer mais frequente na vida dos adultos dos dois países. Pesquisas recentes indicam que, tanto aqui como nas salas do Tio Sam, a média é de 5 horas diárias de TV. Pode ser bom, pode ser ruim, mas com certeza é indispensável. Já faz anos que o IBGE confirma o aparelho de TV como segundo equipamento doméstico mais presente nos lares brasileiros, perdendo só para o fogão. Geladeira vem depois, na legítima preferência dos brasileiros.

A apologia ao aparelho nesta ocasião é unânime. O que está em questão é o direito de todos poderem optar por assistir à TV ou não. Inclusive os 9,7% de brasileiros que tem algum tipo de deficiência auditiva, também apurados pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, do Governo Federal. O Ministério das Comunicações baixou a Portaria 310, em 2006, estabelecendo a obrigatoriedade de “recursos de acessibilidade, para pessoas com deficiência, na programação veiculada nos serviços de radiodifusão de sons e imagens e de retransmissão de televisão.” Foi um ano antes do lançamento da TV Digital aberta no país. A implantação de todos os recursos de acessibilidade segue um calendário com prazos até 2020, quando tudo que é possível ser feito deverá estar disponível.

Não é apenas um prazo para escalonar investimentos. Muita tecnologia está sendo agregada a esses esforços e algumas novidades estão sendo lançadas aqui no Brasil. Além de melhorar a eficiência e reduzir custos, as tecnologias permitem regionalismos e atualizações frequentes, fazendo da acessibilidade na TV um espaço para novos negócios durante os próximos anos.

TV PARA CEGOS E SURDOS

Quem assiste à TV digital aberta no Brasil tem três opções básicas de som. A principal é a que chega pelo ar, ao ligar o aparelho. A tecla SAP, que traz o som original do filme ou série, também já é bem conhecida. A terceira opção é a audiodescrição. Trata-se da técnica de narração que inclui a descrição de ambientes, expressões faciais e outros detalhes visuais indispensáveis para a compreensão da trama. Por exemplo, num filme policial, se uma pessoa surpreende outra com um golpe pelas costas, o audiodescritor terá narrado essa aproximação do agressor, simultaneamente com o áudio principal. É a técnica para acessibilidade de deficientes visuais ao conteúdo da TV.

Para os deficientes auditivos a tecnologia de inclusão exige imagens, demandando muito mais tecnologia. Só as legendas do closed caption ainda são pouco. No mundo exterior, a comunicação mais comum entre esse público é através da Libras – Língua Brasileira de Sinais. Aquela “janela”, onde às vezes aparece o tradutor de libras, vai passar a ser opcional, acionada pelo controle remoto. A novidade principal é que, até 2020, grande parte da programação que for ao ar vai ter tradução disponível na janela de libras e cada telespectador vai decidir se abre na tela ou não. Até o tamanho da janela de tradução poderá ser aumentado ou reduzido.

Uma pesquisa da Universidade Federal da Paraíba, através do LAVID – Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital, vai viabilizar a tradução em Libras a baixo custo e com máxima eficiência. A Libras, mais do que um alfabeto gesticulado, é composta por sinais que representam situações, características, lugares. Esses sinais, chamados de glosas, são movimentos da mão sobre outras partes do corpo. Na pesquisa do Lavid cada glosa está sendo descrita através de animações de avatares, que são desenhos da figura humana. Até 2016 devem estar descritas 10 mil glosas. Como existem muitos regionalismos, o projeto é aberto. Quem quiser pode sugerir novas glosas, que vão ser avaliadas por um grupo de controle, para incluir definitivamente na base de regras da tradução.

É DIFÍCIL, MAS É POSSÍVEL

Mesmo quem não é do ramo já pode imaginar o trabalho que tudo isso demanda. A pesquisa foi financiada pelo Ministério do Planejamento, pela RNP – Rede Nacional de Ensino e Pesquisa e pela Hitachi Linear. A normatização para padronizar os sistemas de transmissão e recepção teve o apoio da Rede Globo e da EiTV.

De acordo com essa normatização, a memória de cada receptor deverá ter todo o dicionário de glosas gravado, incluindo os regionalismos de cada localidade. Esse conteúdo pode ser previamente enviado pelas emissoras da região ou baixado de outras fontes da Internet. O sistema traduz a partir de frases escritas em português. Dessa forma, a simples transmissão de frases escritas, pode ser traduzida em cada receptor, de acordo com os hábitos regionais no uso da Libras. A transmissão da tradução humana, gravada em vídeo, também poderá ser veiculada em todo o território nacional.

Sem a tecnologia de TV digital, nada disso seria possível. Muitas outras alternativas são possíveis e, a cada ano, essas possibilidades aumentam. A TV digital disponibiliza um conjunto de ferramentas cada vez maior, para a construção das soluções mais inusitadas. Um desafio para a criatividade dos profissionais da área e muitos benefícios a mais para agregar ao lazer mais popular do Ocidente.

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