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CRIADOR E CRIATURA

O efeito da indústria do cinema na sociedade é algo que ainda vai demorar um tempo pra ser aquilatado. Pense no efeito que ele teve na sua vida. Filme inesquecível, cena, atitude, talvez até na escolha da profissão, da namorada, na decisão de se casar. O cinema é tudo isso e é também o criador da TV. Foi a produção da telona que preencheu e trouxe vigor para a telinha virar companhia íntima do mundo todo.

Outro sério efeito na sociedade! A TV acabou com a mesa do jantar, com as cadeiras nas calçadas, trocou o voyerismo das janelas pelos reality shows e assumiu uma vida própria. Nesse meio tempo foi acusada de ameaça contra o próprio cinema, quando inventaram os vídeo cassetes. Mas as salas só mudaram para os shoppings e se multiplicaram. Os arautos dos fins dos tempos também previram o fim dos shoppings. Foi quando inventaram o comércio eletrônico. Desde então os lançamentos de novos shoppings cresceram consideravelmente. Agora é o fim da TV aberta que está em pauta, portanto, para sorte de quem investe nas emissoras.

A TV, com a outra metade do DNA, além da que herdou do cinema, criou a “plataforma audiovisual doméstica”, desta vez, por vontade dos japoneses. Eles inventaram as TVs LCD e a transmissão HD, que chegou a trafegar até em sinal analógico, com uma banda 3 vezes maior. A meta era levar para dentro dos lares o máximo possível da qualidade de som e imagem que o cinema oferece. Acabou levando mais que isso.

O QUE UM LORD PENSARIA A RESPEITO

A nobreza inglesa tem um padrão de exigência elevado. E é daí que vieram rasgados elogios à televisão na última edição da IBC, em Amsterdã. Lord Michael Dobbs, autor do livro que deu origem à série “House of Cards”, do Netflix, se disse encantado com o que a plataforma audiovisual doméstica está propiciando aos lares mundo afora. Enredos e protagonistas que só se via nas grandes salas, estrelando produções que tiveram estréia na TV. Foi além do sonho japonês. “-Mas isso foi pelo Netflix”, dirão os tendenciosos. Ora, e isso não fortalece a mesma “plataforma”, ainda chamada TV? É por onde chega também a TV por assinatura, a gravação do aniversário, a TV aberta, etc. Ou será que o Netflix vai destruir a indústria de games?

Pensar a TV de hoje é algo maior. Ela criou um lugar cativo, um jeito de ser feliz que é só dela. Assim como o cinema, é um tipo de lazer que tem um público de todas as gerações. A TV aberta deu um sentido especial ao ato de ficar em casa. E é neste hábito, no mesmo aparelho, que os investimentos estão crescendo assustadoramente.

A INCONTORNÁVEL LINHA DO TEMPO

A grande plataforma audiovisual está levando grandes empresas, como a Apple, a desenvolverem alternativas quase completas. Um sistema operacional próprio, o TV OS, vai tentar integrar os domínios do sofá ao Ipad, ao IPhone e ao notebook ou PC, desde que da dinastia Apple. O “quase” completo da alternativa fica por conta dos cord cutters, que também aumentam na ponta de lá. Justamente, por conta da TV aberta, agora com a mesma qualidade de som e imagem da TV por assinatura.

Lá do luxo da nobreza, o Lord Dobbs acredita que não há mais sentido em assistir à TV linear. Aqui no mundo real, onde as descendências da plebe tem uma mesma rotina semanal, é importante estar em dia não apenas com a cotação da libra esterlina,  mas também do euro, do dólar e até do yuan. Aliás, as lições da história nos últimos séculos apontam que o que está sumindo do planeta são as monarquias, a plebe só aumenta. Tendências! Nesse rumo, a academia de Hollywood que se cuide. O célebre Oscar vai ter que reconhecer as conquistas de outros gêneros, descendentes do cinema. Os grandes investimentos na “PAD”, a “plataforma audiovisual doméstica” inventada pelos japoneses, vão continuar levando grandes produções a estrearem mais vezes nas salas familiares. Naquele mesmo lugar onde a vida não deixa, nem por um instante, de ser linear.

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