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MUITO FÁCIL PARA SER LEGAL

Fazer uma carreira no mundo da televisão é um sonho para milhões de jovens pelo planeta. É só procurar entre os universitários que estudam publicidade, ou jornalismo, também cinema, arte dramática, informática, engenharia eletrônica… Os horizontes da tecnologia e a criação de novos conteúdos desafiam e seduzem boa parte desses aspirantes. Mas para quem quer mesmo trabalhar em empresas do ramo é mais seguro estudar bastante para ser um bom advogado.

A questão é que a indústria audiovisual está intimamente associada à tecnologia. Tecnologia está intimamente associada a inovação. E inovação sempre esteve intimamente associada à geração de facilidades. Mas, quando essas facilidades permitem até cortar caminho entre as vias regulamentadas, então começam as intimações. É o que mais está acontecendo entre empresas do ramo. São questionamentos de normas governamentais para o setor, de cláusulas contratuais entre parceiros comerciais. Tudo porque apareceram novas tecnologias que tornaram impraticáveis acordos construídos há pouco tempo atrás.

Não faz nem um mês a ESPN decidiu processar a Verizon, uma operadora americana de TV por assinatura, que colocou no mercado pacotes mais econômicos, com poucos canais. A Verizon não quer perder assinantes, que estão consumindo muito conteúdo acessado por uma tecnologia mais barata, a OTT, da Netflix, por exemplo. Os pacotes mais “magrinhos” da Verizon deixam de fora muito conteúdo da ESPN, que acaba perdendo. Mesmo a Netflix, que ultimamente anda por cima nesse mercado, poucos dias depois foi ao órgão governamental americano do setor – a FCC – reclamar de uma tentativa de fusão entre a AT&T e a Direct TV. Pôs um monte de advogados para estudar a questão.

DECISÃO TAMBÉM SE INVENTA

Em Wall Street a grande preocupação dos analistas que operam com ações de companhias do setor está voltada para as ações regulamentadoras do governo. Do governo americano, sim! A informação é do site Tela Viva. É bom lembrar que, ao regulamentar o setor, o Governo Americano pode privilegiar tecnologias que, na grande maioria, são criadas em solo americano. Sacrificar alguns setores tradicionais pode ser justificável, se abrir portas para que o país exporte novas tecnologias, trazendo mais divisas. Pode haver também interesses estratégicos de toda ordem, uma vez que se trata do governo que tem maior poder sobre a Internet no mundo todo. Essas decisões, logicamente, não são tão simples assim. Mas as hipóteses servem para exemplificar a quantidade de variáveis que a inovação vem colocando nesse jogo. Chega a tornar imprevisíveis as decisões de um governo que sempre confiou na “mão mágica do mercado” e pouco interferia no plano regulatório.

O modelo de negócio da TV americana está se tornando algo como aqueles antigos cartões de ponto: a cada dia, mais furado. Hoje, o número de assinantes que pagam só pela banda larga chega a 56 milhões, 2 milhões de clientes a mais do que os que pagam pelos canais de vídeo. Operadoras, programadoras, geradoras de conteúdo, que até há bem pouco tempo viviam uma simbiose milionária, agora parece que nem se conhecem. As principais ameaças vêm da combinação dos serviços OTT com um pacote de TV por assinatura personalizado que inclua o conteúdo linear de horário nobre como o futebol americano e o baseball, do qual o exigente cliente americano nunca abriu mão. E então, “seo” Juiz, como é que fica!? É o que resta dizer depois de tantos negócios novos surgidos em cima de novas tecnologias.

AUTORIDADE E LEGITIMIDADE

Se hoje a Netflix está preocupada com a fusão entre a AT&T e a Direct TV, que formaria a maior operadora por assinatura dos Estados Unidos, quem perde o sono são os articuladores da fusão. Afinal, a tentativa da Comcast – atual líder do segmento – de se unir à Time Warner Cable, no ano passado, não passou de uma frustração. As exigências da FCC inviabilizaram o negócio. Sinal de que o governo americano vê com bons olhos o crescimento dos negócios na linha do que a Netflix inventou. Pelo menos essa é a interpretação dos analistas, que ficam encaixando as decisões do governo na mesa de um quebra cabeças, na tentativa de entender a lógica oficial.

Mas nem todo poder emana do rei. A construção de modelos decentralizados nos negócios tem a vantagem de garantir certa precedência àqueles que tem maior responsabilidade no processo. É legítimo que os produtores de conteúdo, aqueles que “sobem no picadeiro” pra oferecer o que o público quer, tenham um papel decisivo nessas situações. É o que ficou claro na observação feita por Marci Ryvicker, analista da Wells Fargo Securities. O modelo da Netflix é mais barato para os assinantes, mas os produtores de conteúdo ganham menos. Logo, logo eles vão cobrar mais pelo que entregam, o que poder tornar o negócio OTT não tão vantajoso assim para o cliente.

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