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VAI SER ASSIM, TOTALMENTE DIFERENTE

O ambiente típico das festas de final de ano tem uma TV ligada. São eventos ditos “coletivos”, sociais, muita gente reunida, literalmente, esperando o tempo passar. No resto do ano isso pode significar preguiça, algum tédio. Mas, se o tempo que vai passar acaba no Natal ou num ano novo, o sinal se inverte, fica todo mundo alucinado.

Num caso a parte, em que a pessoa fica sozinha, por força de algum trabalho ou compromisso, entra em cena o computador. Na modalidade smartphone ou notebook, um computador desses representa um certo isolamento daquele ambiente físico, te leva pra bem longe.

Seja lá qual for a razão dessas preferências, tecnicamente elas não se explicam mais. A imensa maioria dos televisores vendidos hoje é smart, tem computador integrado, permite navegação na Internet. Computadores de todo tipo encontram alternativas para acessar canais de TV. A diferença é no tamanho da tela. A concorrência fica entre os fabricantes de hardware. E para quem produz o conteúdo, toda tela é tela, tem de ser conquistada.

O streaming, que chegou até pelo box do videogame, foi um dos principais atores dessa hibridação. Surgiram os aplicativos de emissoras. E a coisa foi parar na justiça, subiu de novo para o Congresso. Sob muitos aplausos, e algumas vaias, o caminho é em direção à integração mais transparente possível entre o broadcast e o broadband, no popular, entre a TV e a banda larga. Quem fica ali pelo meio, como TVs por assinatura, está vaiando. Elas vendiam os diferenciais que melhoravam muito a experiência de ver TV: muito mais canais, melhor qualidade de som e imagem, conteúdos exclusivos. Nada que hoje não se possa obter de maneira mais simples e barata.

O que se pode supor, por enquanto, dessa trama imprevisível é que 2020 vai ser o ano da TV 2.5, a DTVPLAY. Ela deve ser a resposta tecnológica para aquilo que deve ser a solução mais aguardada no setor: a maior aproximação possível entre produtores de conteúdo e público, com se diz na roça, direto do produtor para o consumidor, sem atravessadores. A Globo, que já domina essa tecnologia, e ainda não conseguiu decolar com o Globo Play, tem tudo para apostar na DTVPLAY.

Os reguladores vão ter que aceitar a redução do papel deles no mundo da tecnologia de consumo. Nada de tentar produzir uma lei exemplar, “modelo no mundo todo”, como tentaram no SeAC. Em poucos anos se tornou uma dor de cabeça para o judiciário. A lei, sim, foi muito bem feita. Mas, para um mundo que deixou de existir em poucos anos. Na próxima semana pode aparecer um outro modelo de negócio tecnológico que vai mudar tudo de novo. Não dá para criar leis sobre o imprevisível, muito menos limitar o imprevisível às leis vigentes.

São vários os imbróglios criados por causa da regulação no audiovisual. Por exemplo, na briga entre a Fox e a Claro. A Fox+ disponibilizou a programação linear diretamente para o assinante, via streaming, sem passar por operadora de TV. A Claro, que também é dona da Net, reclamou do by-pass na Anatel: “se é assim, a Fox que se enquadre na lei do SeAC.” A Anatel achou justo e mandou a Fox tirar o canal linear do streaming. A briga está nos tribunais.

As grandes ligas esportivas, que arrastam centenas de milhões de clientes para operadoras e emissoras, estão criando serviços próprios de streaming. Tudo via Internet, mas para exibir preferencialmente numa grande tela, ou seja, num televisor. Tecnologias de imagem como 4K e HDR, ou som imersivo tipo MPEG-H, não dependem mais de cabo para chegar ao público. O que de mais importante essas operadoras de TV podem oferecer nesse novo contexto são a banda larga e o cadastro de clientes, com respectivos hábitos.

Voltando à “integração transparente”, a ideia é que o consumidor simplesmente assista à TV. Ele não vai perceber se o sinal vem da Internet ou da radiofrequência comum (antena). A TV 2.5 tem uma certa “inteligência”, que vai apresentar na tela algumas opções. Depois de avaliar a capacidade da conexão e de processamento instalados e a qualidade do sinal que está chegando, pode aparecer uma caixa de diálogo: “Quer assistir à novela em 4K?” A radiofrequência comum ainda não comporta essa qualidade, mas se a conexão de Internet for suficiente, o próprio sistema oferece o streaming, sem que ninguém precise procurar a opção. Ou ainda, no meio da programação, vem o aviso de que vai começar determinado jogo, que está incluído no seu pacote. “Deseja assistir?” E o mais importante para os exibidores, os anúncios vão acompanhar cada telespectador. O sistema permite personalizar os anúncios exibidos, de acordo com as informações de hábitos de cada cliente. É aí que o caixa fica cheio.

A conclusão é de que ninguém sabe o que vai acontecer, mas já sabemos muitas das coisas que podem acontecer. Se continuar assim, tudo vai ser muito diferente, sempre, sempre.

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