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CADA AVANÇO TEM SEU PRÓPRIO GALOPE

Palestra interessante! Um geógrafo austríaco, radicado no Brasil há mais de 20 anos, falava sobre exclusão social. O exemplo que estava comentando vinha de um fato ocorrido há poucas semanas. Ele é professor numa conceituada universidade brasileira, conhece bem a realidade por aqui. Mesmo assim, estava surpreso.

Contou que, passando por uma grande padaria do bairro da Lapa, em São Paulo, observou o que conversavam duas atendentes. Estavam do lado de dentro do balcão, enquanto ele aguardava a chegada do lanche. Era mês de verão e uma delas falava que, há um ano em São Paulo, ainda não tinha ido a uma praia. Guardava o “sonho de conhecer o mar”. A colega lhe perguntou de onde tinha vindo e a resposta foi surpreendente: São Luís do Maranhão. “-Você nasceu e cresceu em São Luís e nunca viu o mar?”, retrucou a outra. A resposta foi afirmativa, sob um visível constrangimento.

Mais tarde, debruçando sobre o assunto, o professor constatou que é grande o número de pessoas que moram numa grande cidade, como São Paulo, e que não conhecem um único cartão postal local. Os motivos são vários, quase todos combinados com uma crônica falta de dinheiro.

Situações desse tipo não apenas se agravam, como também ganham novos contornos, mais modernos. Relatório recente da UIT – União Internacional de Telecomunicações – constatou que o sinal 4G, de Internet móvel, cobre extensas áreas do planeta, onde habitam 85% da população mundial. Quase metade dessas pessoas ainda não têm acesso à Internet.

A grande rede de computadores há muito tempo não é mera curiosidade. É nela onde a outra metade consulta e se candidata para novas oportunidades de emprego. É o canal de vendas por onde milhões de pessoas buscam diariamente o pão de cada dia. Ambiente de trabalho, compras, negócios, lazer e muito mais, nesses tempos de pandemia. A Internet assumiu muitos outros papéis. Tornou-se a maior sala de aula do Brasil, o maior restaurante, talvez o principal mercado brasileiro. Com espaço para tipificar o “mercado” com qualquer palavra que se coloque em seguida. Essa é a Internet, que está sobre as cabeças de quase todos nós porém, sob os olhos e ouvidos de apenas metade.

Os dados apontam que uma banda larga móvel de até 1,5 gigabytes custa quatro vezes mais aqui, se comparada com países desenvolvidos. Uma relação que, em média, se mantem entre os desenvolvidos e os países ditos em desenvolvimento. O Secretário Geral Houlin Zhao, da UIT, lembra que a pandemia estimulou a transformação digital, mas “construímos a infraestrutura para um futuro melhor, não apenas para tempos difíceis”. Razão pela qual ele afirma que “… temos a obrigação de conectar todas as pessoas aos serviços de educação, trabalho, saúde, negócios e governo.”

A Comissão de Banda Larga das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável para 2025, em sua Meta 2, prevê um custo máximo de 2% da Renda Nacional Bruta per capita, para o serviço de banda larga de nível básico. Isso nos países em desenvolvimento. Em 2020 o preço médio global para serviços básicos de banda larga móvel ficou em 1,7%, portanto, dentro da meta. Para a banda larga fixa de nível básico (5 GB) ficou 0,9% além da meta, um aumento substancial. Dos 190 países que constam no relatório de 2020, 84 estavam com os preços da banda larga acima da média. A diretora da entidade, Doreen Bogdan-Martin, disse que na maioria dos países pobres “os serviços de TIC … permanecem proibitivamente caros”, mesmo com a queda dos preços no ano passado.

Outro problema a ser enfrentado é a qualidade do serviço. Fora dos países desenvolvidos a velocidade média das conexões básicas aumentou de 30 para 40 megabits no ano passado. Praticamente numa razão de 10 vezes, os países em desenvolvimento viram o crescimento da velocidade média das conexões passar de 3 para 5 Mbits.

Entre esses intervalos, de preço e qualidade, cabem muitos dos indicadores fundamentais da qualidade de vida nos níveis estudados. Cidadãos de países desenvolvidos tendem a ter oportunidades de emprego, renda, qualificação e ascensão social, algumas vezes superior ao número de oportunidades dos cidadãos de países em desenvolvimento. Caberia estudar agora o quanto isso é influenciado pela qualidade das lideranças nos dois casos. Não é apenas entre os microchips que as coisas acontecem de acordo com a lógica.

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