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DESOCUPANDO A MOITA

No início de julho o Ministério das Comunicações publicou uma portaria antecipando o desligamento do sinal de TV analógica para algumas cidades brasileiras. É o “switch off”, significa que nessas cidades não vai ter mais TV analógica. Na mesma portaria, também adiamentos, para outras cidades, mas no saldo, a antecipação foi bem maior. Ainda não temos motivo para comemorar. Afinal, cerca de um mês antes, em 17 de junho, venceu o prazo em que mais de cem países haviam prometido o desligamento do sinal analógico. O compromisso foi firmado em 2006 junto à UIT – União Internacional de Telecomunicações, num acordo que envolveu 119 países, que a UIT chama de Região 1. Estão distribuídos entre Américas, Europa, África, Oriente Médio e Ásia Central.

Quando esses países estavam assinando o acordo o Grão Ducado de Luxemburgo, uma nação européia com menos de meio milhão de habitantes, concluiu o primeiro switch off da TV analógica no mundo. Grande coisa… Em compensação eles ainda são o único grão ducado existente, uma espécie de monarquia, algo um tanto arcaico do ponto de vista político. Brincadeiras a parte, Luxemburgo é uma democracia avançada, com renda per capta entre as mais altas em nível global. Mas o desligamento do sinal analógico não é uma proeza, nem uma medida concreta de eficiência. Tanto que, até agora, apenas 48 países já desligaram completamente a TV analógica e outros 58 estão fazendo a transição, assim como o Brasil. Dos que assinaram o acordo, 20 ainda nem começaram a transição.

Afinal, por que a pressa? Por que não deixar o desligamento por conta de cada um? Quem explica são as operadoras de telefonia móvel, as famosas “teles”. O interesse é abrir espaço no espectro eletromagnético para trafegar a transmissão de dados, tipo Internet 4G. A TV digital ocupa um espaço menor no espectro e novas tecnologias ainda podem reduzir mais.

AH, SE EU PUDESSE!

A teles são instituições poderosas no mundo todo. Essa força tem o lado bom, quando é usada para empreender nessa tecnologia muito importante para o desenvolvimento. Mas, no Brasil, excede o que seria sensato. Não só apenas por parte das teles, mas de empresas em geral que vendem serviços difíceis de serem medidos e contados. Você está vendo um filme ou um documentário e, do nada, o sinal da TV a cabo cai. Ninguém quer saber se era o único horário disponível para isso, se tem visitas na sua casa, nada. “Você pode ver depois”, deixa pra lá.

O poder que essas empresas tem no Brasil, para fazer o que quiser com o cliente, é algo que vem do estado. Porque a regulação a qual respondem permite que seja assim. A lei é tão complicada que dá pra vencer o cliente pelo cansaço. Quem constatou foi a CVA Solutions, uma empresa de pesquisas que ouviu 5.500 clientes de serviços desse tipo. Dentre os clientes de provedores de Internet 68,5% mudariam de fornecedor “se fosse fácil e descomplicado”. Nessa mesma condição – facilidade, que fica impossível por causa da regulamentação oficial – 64,2% assinariam com outra operadora de TV e 68,7% sairiam fora da empresa de telefonia fixa. Ou seja, muito mais da metade dos clientes insatisfeitos, mas pagando! Na mesma pesquisa, a empresa avaliou a satisfação dos consumidores com 42 tipos de indústrias e esses três serviços estiveram entre as piores avaliações. Abaixo deles, somente a telefonia móvel – sem novidade, tá em casa – os planos de saúde e títulos de capitalização.

A PRIMEIRA INTERFACE A GENTE NUNCA ESQUECE

Voltando ao esforço mundial pelo “switch off”, é curioso observar que, para enaltecer a tecnologia digital, na tentativa de pressionar governos a mudarem o sinal, sempre se fala na interatividade. De fato, uma possibilidade. Porém, na prática, uma possibilidade que o mundo todo está deixando de lado. Interagir com um programa de TV através do tablet ou celular – como acontece no chamado Primeiro Mundo – é algo que dá pra fazer até se você estiver assistindo ao programa numa TV analógica. A interatividade na TV pela TV é uma possibilidade que está surgindo aqui no Brasil.

Nesse caso, o Governo Federal merece elogios! Tomou uma posição clara de valorização da tecnologia nacional e abriu espaço para o “middleware” Ginga, 100% verde e amarelo. Há quem aposte que isso vai resultar numa plataforma altamente competitiva.

Com o Ginga nas “caixas” – os set-top box, conhecidos como conversores digitais – uma série de aplicativos ficariam a disposição dos usuários de TV. E por que alguém preferiria, por exemplo, consultar o saldo bancário pela TV e não pelo celular? Primeiro porque a tendência é que essa plataforma seja mais segura, que está surgindo após muitas experiências, e que roda sobre uma versão específica do Linux. E segundo, porque o controle remoto é uma interface mais confortável para uma imensidão de usuários.

O controle remoto foi a primeira interface eletrônica pessoal de massa, de uso doméstico. Há mais de 30 anos até a vovó já está acostumada ao controle remoto. Já os smartphones, que trouxeram a Internet para um padrão portátil, na prática surgiram a partir de 2007, com o primeiro iPhone. Os modelos anteriores eram muito pouco utilizados. É quase uma geração de diferença em relação ao “controle”. Tanto os celulares como os tablets, ainda sofrem alta resistência por grande parte do público. A TV digital pode se transformar na principal plataforma interativa em vários segmentos de negócio.

Com aplicativos bem intuitivos, com telas simples, nos próximos anos a vovó na sala de TV vai ficar assim: controle remoto na mão, “poupança” na cadeira de balanço e o saldo, na telinha da TV.

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