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IDAS E VINDAS NO MERCADO DA TECNOLOGIA

Na teoria, o que cria mercados são necessidades, não desejos. Daí a gente assiste ao encerramento da fabricação de celulares LG no mundo todo e fica pensando se o mercado encolheu, se a necessidade de celular está diminuindo.

A tecnologia de consumo ainda não mudou teorias milenares, mas está acrescentando novos perfis na história dos negócios. Se antes geladeiras, vitrolas e máquinas de lavar roupas eram a resposta intuitiva para “tecnologia de consumo”, hoje são apenas eletrodomésticos. Passaram por muitos avanços, mas simplesmente fazem melhor o que sempre fizeram. As tecnologias disruptivas vendidas em massa são cada vez mais pessoais.

Quando o homem chegou à lua, o relógio de pulso era a tecnologia mais sofisticada de uso pessoal. Ou seria o rádio de pilha? Hoje os modelos mais simples de celulares têm capacidade de processamento várias vezes superior ao que os astronautas da Apollo tinham a bordo. E muito mais do que rádio ou relógio.

O fenômeno novo não é um encolhimento do mercado de celulares. Mas um nível tecnológico tão alto e tão acelerado, que apenas duas ou três fabricantes são capazes de concorrer. Tem ainda a imprevisibilidade diante do novo, do inesperado.

A Motorola foi quem “inventou” o celular, colocou no mercado o primeiro aparelho. Será que as pessoas acham muito importante ter um telefone no bolso, para fazer ou receber ligações quando quiser? A resposta foi sim. E o negócio foi crescendo, se expandindo pelo mundo, ganhando concorrentes. O grande desafio passou a ser aparelhos cada vez menores. A Motorola estava indo muito bem até que, no final dos anos 1980, resolveu assumir o projeto Iridium. A pergunta agora era: “-Será que alguns milhares de pessoas no mundo acham muito importante ligar de qualquer lugar da Terra, para quem quiser, inclusive nos locais mais remotos?” A resposta foi não. Essa tecnologia estava baseada na interligação de nada menos que 77 satélites. Os poucos milhares que viabilizariam o negócio teriam de pagar US$ 3 mil por aparelho e US$ 5,00 por minuto de conversa. O prejuízo foi de US$ 10 bilhões e a marca perdeu a expressão que tinha no mercado de celulares. O Iridium foi pensado 12 anos antes de ser lançado. E isso, no ritmo tecnológico atual, é tempo para algumas revoluções acontecerem.

No caso da LG talvez o problema tenha sido apenas uma falta de sorte. Volte algumas décadas no tempo e imagine um mundo inundado por microcomputadores, em sua grande maioria, usando sistemas operacionais Windows. Celular tinha se transformado em outra máquina, onde a função telefone é tão, ou menos importante, do que a gravação de vídeos. Os smartphones precisavam de sistemas operacionais mais robustos e o Google, uma empresa que mantinha o principal aplicativo de toda a Internet, resolve lançar um sistema operacional para celulares. Foi uma experiência nova para eles. O outro de grande performance que existia era o iOS, da Apple, que não compartilha nada com outras marcas. Pouco depois, a criadora do sistema operacional hegemônico no mundo resolve lançar um para celulares. A LG aderiu ao sistema da Microsoft. Isso não lhe parece lógico? Porém, nos celulares, a Microsoft não conseguia convencer. A LG apostou que isso iria mudar, só que não. Mudou a Microsoft.

Os modelos da empresa, que tinha chegado na posição de terceira maior fabricante de celulares do mundo – segundo o site da BBC Brasil – foram perdendo espaço. E nesta semana, depois de seis anos acumulando prejuízos, que teriam chegado a US$ 4,5 bilhões, a LG sai do mercado de celulares. Talvez, daqui a alguns anos, faça como a Motorola e retorne.

Até lá, quantas outras perguntas capciosas terão de ser feitas para o mercado? A Apple achou que todos adorariam ter emogis que falassem com a voz do dono e que articulassem a boca como quem pronuncia cada palavra da mensagem. Quem se lembra disso agora? A definição de som e imagem aumentaram progressivamente, as câmeras por aparelho foram se multiplicando. Até que resolveram colocar o zoom dos periscópios e isso passou a ser um diferencial mais importante do que muitos recursos já instalados.

É um mundo novo sendo inventado em tempo real. Onde tendências piram antes de expirar. São invertidas, subvertidas, a ponto de tornar cada novo negócio uma aposta. E a resposta, será sempre surpreendente. É o que exige investimentos pesados, em um espaço de tempo comprimido, e um esforço de marketing para obter retorno no curto prazo. É até onde alguma visão do futuro alcança. O mercado? Talvez seja feito de desejos, talvez de necessidades. Tanto faz, depende do rótulo que vão colocar. Um, como outro, hoje nascem nos laboratórios.

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