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QUE SACANAGEM! QUE SACANAGEM!?

Tem coisas que a gente aprende a achar errado, sem pensar antes a respeito. É um dos fenômenos da rede social humana, chama-se cultura. Por exemplo, há 50 anos, uma mulher que tivesse relações sexuais antes do casamento, cometia uma grande sacanagem. Para os homens podia, desde que fosse com as mulheres confinadas na zona do meretrício. Durante séculos, foi assim que todos aprenderam na sociedade ocidental. Precisou muito tempo para pensar, a mídia expandiu as redes sociais, muito mais opiniões foram compartilhadas.

Há alguns anos começaram a divulgar uma grande sacanagem, o Facebook estaria divulgando nossos dados pessoais para direcionar publicidade. Bem antes disso, ainda nos tempos da virgindade, as principais revistas traziam cupons para quem quisesse se tornar assinante. Vinha com selo pago, era só preencher e pôr no correio. As edições chegavam com a fatura, mas demorava três meses para cortarem a entrega para quem não pagasse.

Era a alegria das repúblicas de estudantes: ”-Haha, enganamos a editora!” Em termos. A editora vendia como mailing aquela massa de endereços e nomes, para empresas que faziam publicidade enviando a chamada “mala direta”.

Pouco depois foram os cartões de crédito. Mais informados a seu respeito, vendiam recortes de dados para planejamento mercadológico. Além de nome e endereço, tinham uma razoável ideia das preferencias de consumo dos clientes, com base nos gastos com cartão. E tá tudo bem…

Um dia a Internet, que já morava em nossas casas, começa a criar redes sociais onde podemos postar fotos, conhecer pessoas, divulgar opiniões, namorar à distância, vender ovos de Páscoa, fazer rolo com carros, tudo de graça. Seus dados registrados na rede começaram a ser vendidos para marqueteiros. Que grande sacanagem, decretou a mídia!

Peraí!! Ninguém aqui está dizendo que é correta a venda dos seus dados, por empresas que administram redes sociais. O que se pretende é atiçar uma reflexão mais profunda sobre a questão da privacidade, num mundo conectado e “big datado”. Pode até haver muito mais sacanagem do que imaginamos. Afinal o oligopolista mundial de redes sociais jura que vai mudar por completo seus aplicativos. Sabe como vai ficar? “O futuro é privado”, garante Zuckerberg.

O FUTURO DO FACEBOOK

Começa por tornar Facebook, Instagram, Messenger e WhatsApp cômodos de acesso de uma mesma casa. As plataformas vão ser integradas e esse já é um primeiro desafio para a equipe de arquitetos de software. Dependendo de como ficar, pode tornar a navegação cansativa, demorada, confusa.

A “casa” deve passar a ter grades nas janelas, alarmes, etc. Quer dizer, as redes devem ser mais seguras, com mensagens criptografadas de ponta a ponta, para impedir qualquer acesso que o usuário não tenha escolhido. Além da vigilância, para impedir roubo de perfis. O mais importante, quanto aos seus dados pessoais, sabe como vai ficar? Eu também não, talvez só Zuckerberg já tenha a resposta. Se for o caso, ele fez questão de manter em sigilo.

Por enquanto, nas palavras dele, Facebook e Instagram, que eram grandes “praças públicas” virtuais, devem se tornar “salas de estar”. Quanto tempo faz que você não para na sua sala de estar para fazer outra coisa que não seja assistir ao futebol ou a alguma novela, seria a próxima pergunta. Sim, a questão é se o Facebook não vai se tornar uma chatice. Destino para o qual tem caminhado a passos largos de uns tempos para cá. Ou porque não soubemos nos comportar mais polidamente nos debates sobre política, times e outras preferências, ou porque simplesmente está enchendo o saco.

As redes sociais, as físicas, nos primórdios já tiveram footing nas principais praças, onde os rapazes andavam num sentido e as moças na mão contrária. Um dia mudou, como todas as outras configurações foram mudando, até que atingimos a escala mundial. É só o começo do que pode se tornar, em breve, uma experiência cosmopolita, com tradutores automáticos. Mas, com certeza, seja como for, mudará de novo em breve. É isso que o Facebook teme agora.

A questão da privacidade foi apenas o principal holofote da marca nos últimos anos. Possivelmente Zuckerberg esteja apenas tentando capitalizar toda essa exposição, ao citar a notável palavra. Afinal, ninguém ia para o footing se esconder. Assim como ninguém entra numa rede social, publica as próprias fotos e seus dados básicos, para resguardar a privacidade. Muito pelo contrário. Publicidade pessoal por puro interesse de auto-exposição tem feito surgir novas identidades. Ou você nunca ouviu falar nada sobre algum “ex-BBB”?

MUITO ALÉM DAS REDES SOCIAIS

O que parece mais valorizar informações pessoais são os macro sistemas de armazenamento e gestão de dados, os big datas conectados às várias plataformas alimentadoras. Se o valor real dos dados pessoais comercializados estivesse disponível para cada uma das pessoas, possivelmente poucos iriam se dar ao trabalho de ir buscar. Só vira um bom negócio quando a quantidade de cadastrados é imensa e o sistema muito eficiente, operado por pouquíssimos trabalhadores.

O Facebook parece estar em destaque por ser o mais popular na ordem do dia. O Google criou o Gmail para chafurdar palavras chave nos e-mails dos cadastrados e assim inferir hábitos e oportunidades de consumo. O Facebook simplesmente foi na cola de uma estratégia que já funcionava antes.

O uso dos seus likes para saber como influenciar seu voto foi uma experiência desenvolvida fora do Facebook. Quem sabia disso antes? E mais, mesmo verdade, que esses cliques despretensiosos revelam tanto a nosso respeito?

Num mundo onde mais e mais “trabalhadores” atuam na velocidade da luz, circulando pelas artérias binárias do planeta, é claro que defesa pessoal vai passar mais pelos escritórios de advocacia do que pelas academias de Kung Fu. Cada um deverá se orientar mais, novos aplicativos e plataformas devem ser criados para você gerir a sua própria segurança cibernética. E muito cuidado com as suas amizades, como já ouvimos antes. Agora, também as virtuais.

A compreensão dos riscos associados às novas tecnologias vai muito além do Facebook e outros “termos de uso” capciosos. Passa por nações que usam desse assombro para cercearem o acesso de seus cidadãos e controlarem suas vidas por mecanismos de estado. A Rússia acaba de aprovar uma lei para obrigar a população a utilizar uma Internet só deles. O mesmo já acontece na China e em muitos outros países, de maneira mais impositiva ainda.

No ano passado Trump se recusou a implantar mecanismos de maior compartilhamento da gestão da Internet. O que demonstra que a grande rede não é, nem de longe, a coisa mais democrática do mundo. No entanto, os avanços tecnológicos como um todo, costumam chegar com novas ameaças. Por exemplo, a câmera com zoom de 50x. Ela permite fazer um close a quase 100 metros de distância. E está a venda no Brasil, embarcada num modelo de celular chinês. Há mais de um ano, outro celular oferece uma câmera capaz de memorizar as linhas originais de um rosto para fazer fotos automáticas quando esse rosto passar pelo campo da objetiva.

É hora de cair na real e concluir que a privacidade, da forma como conhecemos, está sendo “descontinuada” no mundo atual.

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