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ENTRE ALGORITMOS E HORMÔNIOS

De repente o mundo não tem mais máquina de escrever. Pouco depois os carros não têm mais carburadores e logo é o fax que já era. Quanta coisa mudou ao redor de cada uma dessas tecnologias! É como se o mundo passasse por sucessivas puberdades. Momentos de intensa transformação, instabilidade, rebeldia, inseguranças e quase nada de prudência. Um período crítico que nos leva de um tempo a outro, transforma nosso modo de vida em algo irreconhecível, se comparado ao passado recente.

É nesse turbilhão de transformações que nosso modelo de sociedade deve mergulhar mais uma vez, em função de uma nova tecnologia. O 5G, a quinta geração de serviços móveis, entra na praça oficialmente em pouco mais de dez dias. Nesta semana, durante o MWC Américas 2018, em Los Angeles, a Verizon começou a vender o 5G para clientes da cidade sede do evento e também de Indianápolis, Sacramento e Houston. A promessa é colocar o serviço no ar a partir de primeiro de outubro. Até o final deste ano também a AT&T deve lançar a própria rede 5G em outras 5 cidades americanas.

A primeira grande transformação no mercado já mostrou a cara. Com o sloganCut the cord. Go to 5G Home” a Verizon indica que vai ser na rede fixa onde ela vai disputar o mercado. Nos celulares, a aposta é que a superconexão chegue por volta de 2020. A latência do novo serviço é para ser menor do que a troca de canal na TV pelo controle remoto, a largura da banda 20 vezes maior que a do 4G. Potencialidades que não vão apenas tornar mais agradável a conexão nossa de cada dia, mas também viabilizam a expansão de novos serviços, de novos conceitos entre os produtos de TI.

A combinação com a inteligência artificial (AI) e a Internet das Coisas (IoT) são os horizontes mais visíveis desde já. E o mundo passará a nos prover, de forma autônoma, outras condições para o nosso conforto, como a noite que chega para um bom sono ou a chuva que cai para distribuir água às diversas formas de vida. Na “natureza 2.0” a geladeira vai “avisar” o supermercado e o leite vai ser reposto na sua casa, o portão da garagem vai abrir quando você chegar e o ar condicionado vai ligar quando a temperatura subir muito.

CHEGOU CHEGANDO?

O 5G colocou numa disputa frenética os parques tecnológicos da China, Japão e Coreia do Sul, além dos Estados Unidos. O Tio Sam já cumpriu seu protocolo de praxe, ao sair em primeiro lugar. Tem sido assim desde a chegada à lua até a TV digital. Afinal, o maior mercado do mundo é o berço natural de produtos disruptivos, cujo desenvolvimento envolve gastos astronômicos, e o destino é replicar mundo afora.

Porém, isso não significa que o 5G já é uma realidade. A saga do pioneirismo americano às vezes arrasta problemas típicos de atos precipitados, como aconteceu com o ATSC 1.0 na TV Digital. As primeiras cidades escolhidas para o 5G devem ter apresentado condições favoráveis para a implantação da nova rede. No entanto, trata-se de uma tecnologia mais sofisticada, para a qual não há mão de obra preparada em grande escala. A quantidade de antenas deve aumentar, principalmente em países como o Brasil, onde a infraestrutura de telecomunicações é sub dimensionada. Vai ser necessário investir ainda em novos equipamentos, mais caros, e novos espaços no espectro eletromagnético.

Por isso, nesse primeiro momento, os 4 bilhões de usuários de redes móveis no mundo não devem representar um horizonte de mercado. É possível que seja necessário mais um tempo, até que o planeta se prepare melhor, e a tecnologia 5G também tenha tempo para evoluir.

O que pode puxar mais rapidamente esses avanços são as teles, as grandes empresas provedoras de sinal. Depois do fenômeno WhatsApp elas caíram na realidade das empresas em geral, precisaram rever preços e projetos de expansão. Em artigo de Samuel Possebom, publicado no site Teletime, ele fala das perspectivas de agregação de novos serviços a partir do 5G. As teles não querem ser apenas uma infraestrutura de telecomunicações, mas sim provedoras de novos serviços, mais rentáveis e customizáveis.

E AGORA, JOSÉ?

A conversa em torno do 5G tende a ser outra a partir de agora. Pois esse é o tipo de tecnologia que não é um fim em si mesma. Se um celular vai precisar de apenas 30 segundos para baixar um longa metragem em 8K, isso significa que esse poder de comunicação deve viabilizar muitas outras aplicações, verdadeiramente disruptivas. São investidas sobre os mais diversos mercados, impossíveis de serem imaginadas de imediato.

É como se inventassem um superalimento, capaz de suprir todas as necessidades nutricionais e, ao mesmo tempo, agradar o paladar de todas as pessoas. A utilidade que isso teria é tão ampla que todo o mercado sentiria transformações, não apenas o de alimentação. Mas ninguém saberia em que direção essas mudanças iriam seguir.

Por isso o 5G passa a ser um desafio maior para o mercado, do que foi para a engenharia até a semana passada: “-Não era isso que vocês queriam?”, dirão os engenheiros. Agora, falta mostrar o que vai justificar tantos investimentos e sinapses ao longo de anos.

A inovação, muitas vezes, é traiçoeira. Está ali, diante de nós, e mesmo assim deixamos passar. Como foi a onda OTT. A ideia de usar a Internet para streaming de vídeo acumulava cada vez mais dólares e anos de cadeia para os operadores piratas. Até que o Netflix resolveu amarrar as pontas para que esse tráfego acontecesse nos termos da lei. A ideia do aplicativo que emula hardwares agitou as garagens nerds e agora ninguém aguenta mais apps.

Já a tecnologia de computação em nuvem teve uma história diferente. Foi algo que não poderia ter surgido por acaso, numa sacada comercial. Em termos de complexidade está numa escala muito distante, envolveu batalhões de especialistas de várias áreas. E agora é um coringa poderoso no carteado tecnológico.

Os exemplos servem para pensar como vai ficar a cabeça dos profissionais da área de desenvolvimento de produtos. Estarão procurando problemas como nunca, uma vez que agora têm em mãos uma poderosa ferramenta para soluções. E você? Já pensou o que pode melhorar na sua área, no seu trabalho, com uma conexão tão poderosa? É bom dedicar um tempo para essas reflexões, porque ninguém vai ficar fora desse grande desafio.

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