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A TOSSE PREOCUPANTE DA INDÚSTRIA DE TI

Como acontece com a imensa maioria dos atingidos pelo coronavírus – agora batizado oficialmente de covid-19 – a MWC também vai se salvar. Mas neste ano a cidade de Barcelona não vai ter o maior congresso e a maior exposição de tecnologia móvel do mundo, organizado pela GSMA. O Mobile World Congress foi suspenso depois que as grandes empresas anunciaram desistência de suas participações.

No entanto, a salvação do MWC está sendo “prescrita” por alguns especialistas. Eles usaram a oportunidade para apresentar suas receitas para futuras edições do evento. A Strand Consult, que publica relatórios anuais, antes e depois do evento, decidiu preencher o vazio deste ano com algumas sugestões. Segundo informações da Telecom Review, com sede nos Emirados Árabes, a consultoria entende que a organização do evento está se envolvendo mais com o lado glamouroso da tecnologia mobile, ao invés de tratar da essência dessa indústria tão abrangente.

O relatório da consultoria encaminha a questão para a representação política, para uma mobilização de interesses do setor. “O MWC pode ser um evento fantástico, mas a GSMA precisa restaurar uma discussão política robusta na agenda. Deve ser o local onde empresas e nações descrevem e defendem sua abordagem à sociedade digital, onde se pode ouvir um debate animado sobre diferentes visões do mundo.”, diz o documento. Ou ainda, “O evento se transformou em um hype para novas tecnologias, com pouca ou nenhuma discussão sobre as dificuldades que as operadoras móveis enfrentam nas frentes regulatória e financeira.”

A tecnologia digital interfere de forma crescente nas decisões de governos e grandes empresas pelo mundo. Às vezes, de forma inesperada, como o lapso atual, totalmente relacionado à uma fatalidade de saúde pública. Há alguns anos foi um grande incêndio. Mas a roupa suja que Estados Unidos e China estão lavando agora, expõe detalhes sinistros de uma hegemonia.

É roupa suja, sim. Edward Snowden exibiu o primeiro episódio da trama que envolve a espionagem tecnológica. O desespero que Trump demonstra com relação ao 5G chinês, parece confirmar que ele sabe o que pode ser feito usando essas tecnologias. Quase evidencia uma certa “experiência” na prática.

Vamos convir que a ciência que envolve toda a cadeia de TI é americana nativa. Os grandes sistemas operacionais, os aplicativos mais usados, os principais lançamentos nas primeiras décadas, tudo tem a marca da águia. Parabéns, mérito deles! Porém, quando resolveram mandar suas plantas industriais para a China, onde suga-se a mão de obra mais barata do mundo, também foram sugados em seus segredos tecnológicos. A China se valeu do embalo e largou bem na frente. Hoje, já se aproximou muito dos americanos, em alguns casos, ultrapassou. Em outras nações há muito conhecimento, mas não há protagonismo empresarial em TI.

Nessa semana, em Brasília, surgiram alguns sinais de como o governo federal vai atuar em relação à implantação do 5G. Segundo o site Teletime, o comandante de Defesa Cibernética do Ministério da Defesa, gen. Guido Amin Naves, durante evento na capital federal, falou sobre cuidados que espera ver na licitação do espectro: “-Uma medida seria, por exemplo, não permitir que uma mesma empresa domine toda a infraestrutura de backbone.” É um sinal de que a Huawei, atual detentora da melhor tecnologia 5G do mundo, não vai estar em todos os caminhos do principal tronco da rede nacional (backbone). O governo não estará impedindo a empresa no Brasil, mas reduzindo a participação dela.

Essa camaradagem com Trump pode sair cara. Guilherme Pinheiro, do IDP – Instituto Brasiliense de Direito Público, durante o mesmo evento falou sobre a efetiva competitividade da Huawei no setor. Segundo ele, ela oferece “preços até 60% mais baratos que os concorrentes”. Ao lembrar a espionagem denunciada por Snowden, Pinheiro situou a questão em outro ponto, dizendo que “o debate então não fica se a China faz ou tem capacidade de fazer, mas sim quem vai fazer mais ou menos espionagem.”

Entre os participantes em geral, a tese que pareceu predominar é sobre a importância de o Brasil investir suficientemente na segurança cibernética. O embaixador Achilles Zaluar lembrou que “o Comando de Defesa de Cibersegurança tem um orçamento que não condiz com a sua finalidade estratégica. Hoje são R$ 4 milhões. É preciso rever isso, porque é sinal de que alguma coisa não está indo bem. Precisamos levar a cibersegurança a sério. E isso envolve colocar gente qualificada, recursos e equipamento qualificados.”

Numa outra abordagem, o pesquisador José Camaro Brito, do Inatel, não demonstra preocupação quanto à marca de equipamentos utilizada na implantação do 5G. O risco estaria nas aplicações de Internet. “São as aplicações que coletam os dados e informações dos clientes”. Para ele, é necessário “criar instrumentos que regulem de maneira eficaz essas aplicações”.

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