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O CÉU DO BRASIL COMEÇOU A MUDAR

Se aquele famoso ET resolvesse pousar de novo no Brasil, desta vez não iria para Varginha. A afirmação tem base científica. Ninguém questiona que seria impossível fazer viagens intergalácteas sem utilizar ondas eletromagnéticas, pelo menos na navegação. E, quando chegasse ao Brasil, haveria um único lugar onde o imenso fluxo de sinal analógico não circula. Esse ponto do mapa fica na cidade de Rio Verde, em Goiás. Menos mal, nosso ilustre invasor nem se sentiria tão surpreso, afinal mineiros e goianos são muito parecidos, desde a moda de viola até a culinária.

A mensagem mais importante, porém, que vem de Rio Verde, é bem clara e para todo o Brasil. Quem fizer de conta que não entendeu, pode se dar mal. Ao desligar o sinal analógico o Ministro das Comunicações, André Figueiredo, deu um “rapa” na primeira pedalada que tentaram na frente dele. Com isso, entre os vários critérios que definem o desligamento, um boiou sobre os outros, ficou prioritário: a data combinada. Um critério concorrente, que estava deixando muita gente em dúvida, ficou para trás. Trata-se da adesão mínima de 93% da audiência da cidade, ligada ao sinal digital. Mesmo com apenas 85%, o Ministro mandou desligar o analógico e estamos conversados.

Na hora da entrevista André Figueiredo pegou leve. Político de carreira não chuta o balde. Classificou como uma “exceção” e garantiu que, na próxima cidade – que será Brasília, exatamente onde ele mora – a experiência de Rio Verde permitirá que os 93% sejam respeitados. É a palavra do Ministro. Mesmo assim, melhor não arriscar. Se você olhar os interesses que estão em jogo, vai entender.

DAVID NA FRENTE DO GIGANTE, SEM ESTILINGUE

Esse mínimo de 93% da audiência em condições de acessar a transmissão digital é meio que uma “cláusula social”, marca que este governo gosta de imprimir em todos seus atos de repercussão pública. Porém, distribuir os conversores digitais de graça para todas as famílias carentes, já é suficientemente “social”. Esperar a vontade das pessoas instalarem é um exagero, talvez até anti social. Mas as emissoras de TV também são solidárias nesta causa. Elas vendem audiência. Em Rio Verde, que tem cerca de 200 mil habitantes, os 8% que ficaram de fora, teoricamente, representam 16 mil pessoas sem TV aberta. Em Brasília, se repetir a tal exceção, serão cerca de 500 mil pessoas, incluindo as cidades satélites. Os anunciantes vão sentir.

Do outro lado, lá no extremo, estão as “teles” (operadoras de telefonia celular). Em 2014 elas pagaram ao Governo Federal uma fortuna para ficarem com a banda de frequência onde atualmente trafega parte do sinal analógico de TV. E ainda assumiram altos custos por conta de “compensações”, uma vez que o Governo disse que teria que antecipar o desligamento do sinal. Somando tudo, passou dos R$ 8 bilhões. Agora, não querem nem ouvir falar em adiamento.

As teles estão “por cima”, no Planalto, ultimamente. A lambança fiscal da Condecine pôs outra faca na mão das teles sobre o queijo oficial. Foi uma contribuição, um imposto que o Governo inventou há alguns anos, para elas pagarem. A Condecine passou a representar 80% do orçamento da Ancine e de todo o apoio federal ao audiovisual. Estava tão fácil que a entidade resolveu aumentar a contribuição bem acima da inflação, a partir deste ano. As teles ficaram injuriadas, foram para a Justiça e já ganharam liminar. Pareceres de todos os juristas consultados afirmam que o imposto todo está errado, mesmo sem aumento, as teles é que estão certas. Diante das consequências desastrosas para a Cultura Brasileira, as teles falam em conversar. O Governo vai muito manso, porque está “queimado” com as teles. A última coisa que o Planalto quer agora é criar mais problemas com as teles, por exemplo, no desligamento do sinal analógico.

AÇÃO SOCIAL SÓ SERÁ VIÁVEL COM A INTERATIVIDADE

Há quem diga que a decisão do Ministro em Rio Verde foi um afago nas teles. Teve ainda o peso político de poder dizer “enfim, desligamos”, uma etapa concluída na Era Digital. Mas, com certeza, o peso psicológico da medida foi o mais importante. Antonio Martelleto disse que na primeira pesquisa, quando a data do desligamento foi anunciada, 80% das pessoas acreditavam que o “switch off” aconteceria. Veio o primeiro adiamento, depois outro e uma nova pesquisa constatou que apenas 40% ainda acreditavam no desligamento. Martelleto é Diretor Geral da EAD – Entidade Administradora da Digitalização, criada pelas teles para pagar todas as compensações.

A experiência de Rio Verde mostrou também as falhas que atrapalharam o atingimento de 93% da audiência digitalizada. Tanto que, em Brasília, a meta é distribuir todos os conversores digitais para famílias carentes até o mês de julho, para não repetir os atrasos de Rio Verde. O desligamento da transmissão analógica na Capital Federal está marcado para outubro. Até a forma de anunciar a mudança para a população também deve ser diferente.

Enquanto medida de alcance social, a melhor notícia veio da própria EAD. Nas próximas pesquisas vão perguntar se as pessoas utilizam ou não os recursos de interatividade da TV Digital. O acesso a esses recursos se faz principalmente pelos conversores digitais que o governo está distribuindo para famílias carentes. Eles tem capacidade técnica para acessar cursos profissionalizantes, vagas atualizadas de empregos, serviços públicos e outros recursos disponibilizados pelo canal educativo de TV do Governo Federal. O Ministério do Desenvolvimento Social e muitos outros órgãos públicos planejam utilizar a interatividade para programas sociais de peso, que sequer vão exigir grandes dotações orçamentárias. Sem considerar as reais intenções da EAD com esse tipo de pesquisa, deve-se valorizar muito os dados a serem obtidos. Eles vão, de fato, permitir que muitas ações sociais contemplem a população brasileira.

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