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QUANDO O CARRO VAI PARA A FRENTE DOS BOIS

Um dia a gente chega lá! Mas será que vai demorar muito? Tem gente apostando que a condição de “país desenvolvido” para o Brasil pode estar mais perto do que sonhamos. Aqueles índices mais significativos como crescimento econômico, empregos, investimentos, desenvolvimento tecnológico, estariam num horizonte próximo. A dúvida é por onde essa prosperidade vai chegar, quais seriam as vias preferenciais. Seria principalmente pela agricultura? Ou seria pela indústria automotiva? Quem sabe pelas TICs, as tecnologias de informação e comunicação. Afinal o 5G está aí, e é uma das principais infraestruturas para a retomada da industrialização.

A cara do 5G foi passada como uma tecnologia disruptiva, imprescindível para a indústria 4.0, com potencial de geração de novos modelos de negócio, capaz até de mudar a comunicação e a forma como vivemos. Parece até algo profético. Imagine tudo isso acontecendo no Brasil… Ah, só um adendo. Tudo isso vale para o 5G mesmo, aquele que é o 5G raiz, tecnicamente referenciado como stand alone ou release 16. O 5G baseado no LTE é outra coisa. Usa boa parte dessa tecnologia legada do 4G. Esse é o 4.5G, tem bom desempenho, mas está muito aquém do s.a. (stand alone).

Pois a grande maioria das redes 5G do mundo, na verdade, estão baseadas na estrutura LTE, que veio do 4G. E tem muita gente chamando esse que é o 4.5G, de 5G. Isso é um engano. A maior rede 5G s.a. do mundo (fora a China) tem mais de 12 mil estações instaladas, segundo afirmou Moisés Moreira, conselheiro da Anatel e presidente do GAISPI, o grupo técnico que está implantando o 5G no Brasil. Essa rede passa por 1.610 cidades, onde vivem mais de 140 milhões de pessoas. Aí sim, dá para falar numa grande rede 5G. Dá pra conferir se de fato houve mudança de patamar de desenvolvimento, de renda, mudança para uma outra realidade. Essa “rede 5G dos sonhos” fica exatamente aqui no Brasil. Sim, aquele 5G s.a., “transformador, essencial para os novos tempos”, está mais disponível no Brasil do que em qualquer outra nação. Praticamente toda essa rede foi paga pelo governo brasileiro. O povo também investiu muito na compra de celulares 5G e pagamento de operadoras. O ritmo de crescimento da base foi bem maior do que no primeiro ano do 4G.

E agora? Onde está tudo aquilo que o 5G traria para o Brasil? Grandes corporações industriais estariam fazendo planos para virem para cá? Máquinas e equipamentos para indústrias de última geração estão chegando? Centenas de milhares de jovens estão sendo formados para atuar em plantas industriais 4.0? As vendas de sensores “estão bombando” para implantação em sistemas  IoTs em todo o Brasil? Afinal, o futuro prometido chegou. Fizemos a “lição de casa”, estamos aguardando o retorno prometido.

A eventual vantagem do pioneirismo num investimento precisa ser bem calculada e com muita antecedência. Se essa vantagem não for muito evidente, é melhor esperar. Daí os preços caem, já tem mais mão de obra na praça, o mercado está mais abastecido de peças de reposição. Mas precisa ter paciência. O Brasil fez do 5G uma panaceia, algo capaz de grandes transformações. Foi o suficiente para convencer muita gente – principalmente nos altos escalões da política – a direcionar mais de R$ 40 bilhões para construir redes para o 5G s.a.. A tecnologia está aí, mas as vantagens prometidas ainda não apareceram. 

Falando ao site Teletime, Moisés Moreira insistiu em manter o foco mais adiante: “O futuro está à nossa frente e o 5G será um catalizador para uma sociedade mais conectada, inteligente e próspera”. Novamente, a ênfase ficou no tom profético. Mas desta vez não teve como escapar da realidade. Moreira precisou falar também das circunstâncias indispensáveis para alcançar esses sonhos: “Com um planejamento estratégico adequado, parcerias público-privadas sólidas e investimentos em pesquisa e inovação, o país pode se tornar um líder na adoção e na exploração dessa nova era de conectividade”. A pergunta, então, é por que não se investiu antes nessas pré-condições?

Durante o MWC Shanghai 2023, realizado nesta semana, Daniel Zhou, da Huawei, fez declarações que servem como um aval para o caminho escolhido pelo Brasil: “Ter a infraestrutura preparada é o mais importante”. A questão é que ele é o presidente da empresa para a América Latina e Caribe. Está no papel dele vender os equipamentos que a empresa dele fabrica. Ainda não se pode dizer que o Brasil errou em investir primeiro na importação de equipamentos, aos invés de preparar um planejamento estratégico adequado e investir em pesquisa e inovação. Mas já dá para perceber que, cumprir esses requisitos iniciais não iria atrapalhar e seria bem mais barato. Agora que o carro já está na frente dos bois, vamos observar para tirar as melhores lições.

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