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EI, VOCÊ AÍ, MANDA UM DINHEIRO AQUI

Quem previa que o mundo acabaria em papel, a essa altura já deve ter percebido que o risco passou. A explicação deve estar no tipo de uso que tornou o papel algo tão importante. Ou seja, o papel do papel. Quem nasceu há poucos anos e já sabe falar, ao ver vários documentos diferentes, todos em papel, lá no fundo deve pensar: “- Que telas diferentes são essas…?”

Isso mesmo, ele é o ancestral mais antigo da tela. Um lugar para se gravar inscrições e transportar facilmente, guardar, enviar. Lá se grava a certidão de nascimento, de casamento, a escritura da casa, o RG, a licença para dirigir e até o dinheiro. O papel sempre foi uma tela adaptada para exibir determinadas utilidades. Leve e fácil de dobrar, tornou-se tão prático que formou fardos pesadíssimos. Prédios construídos para estocagem de papéis, exigem projetos especiais, para reforçar o piso, até os alicerces. Aquela infinidades de telas, gravadas com conteúdos imutáveis, vira um verdadeiro tesouro. Com as novas técnicas eletrônicas de segurança, a tela de um celular, de um computador, pode exibir arquivos mais incorruptíveis do que uma cédula de dinheiro, por exemplo.

A visão histórica do papel na sociedade ajuda a refletir por quê mudanças tão drásticas são possíveis e não vão parar de acontecer. Vão desencadear novos fenômenos, como o Pix, a plataforma digital do Banco Central para pagamentos. Os cadastros começaram a ser feitos nesta semana.

Claro que os celulares, o mais efetivo companheiro do ser humano moderno e tela onipresente, tem um papel – ou melhor, um efeito – muito importante nisso tudo. É pelo celular que vão circular as telas, dos mais variados usos. Ainda que não somente no formato de telas, mas também sinais radioelétricos inconfundíveis, para atestar a autenticidade do que está sendo apresentado.

Por isso tudo, milhões de brasileiros que não têm conta em banco, vão ter acesso a todo dinheiro que acumularem, sem precisar buscar em lugar nenhum. Vão pagar a tarifa do ônibus sem precisar de troco, também a conta de água, de luz, da TV nova que compraram no magazine. Um serviço eletrônico cidadão, gratuito – pelo menos por enquanto – para pessoas físicas e micro empreendedores individuais (MEIs). A quantidade de novos serviços que deve vir, como desdobramento do uso dessa plataforma, é imensa. A conta dos bancos com as transportadoras de valores, por exemplo, é só uma das mudanças colaterais esperadas. O transporte de dinheiro de papel hoje movimenta algo em torno de R$ 10 bilhões por ano no Brasil.

O pix vai ter riscos, afinal tudo tem algum risco. Especialistas em segurança na Internet, contratados pelo Banco Central, nos primeiros dias já identificaram 30 domínios falsos cadastrados. Eles devem ser usados para aplicar golpes. O uso correto e bem orientado vai garantir a segurança. Os riscos estimados são menores do que os já existentes em outros meios eletrônicos de pagamentos. Menor ainda do que ter dinheiro em casa ou levar no bolso. A tecnologia é bem conhecida no mundo, utilizada com segurança e eficiência em vários países. Os comandos de acesso, que chegam à plataforma, são encaminhados para outro sistema, que não está ligado à Internet. Por isso as operações não podem ser hackeadas. Fora isso tem o risco regulatório, uma vez que o governo pode alterar a regulamentação. O novo imposto sobre transações eletrônicas, previsto para o ano que vem, pode atrapalhar. Mas esses riscos são evitáveis. Qualquer pessoa que faça parte do sistema pode se desligar dele quando quiser.

Para contar com o pix, tudo começa pelo cadastro. Para ter uma “chave” precisa cadastrar o número do seu CPF, do seu celular e o seu e-mail, que ficarão associados à ela. À chave deve corresponder uma senha, até com biometria. Cada pessoa física poderá ter até cinco chaves diferentes, Quem não tiver conta em banco poderá depositar seu dinheiro em um sistema a parte, por onde vai poder receber transferências ou fazer pagamentos, dentro do saldo disponível. Por enquanto, os bancos não estão fazendo as transações, só o cadastro. A movimentação de dinheiro vai começar só a partir do dia 16 de novembro.

Os grandes bancos tentaram atrasar o lançamento do pix para agosto do ano que vem. Quase todos se cadastraram no sistema em cima da hora, quando viram que seria irreversível. Agora fazem até sorteios para os que se cadastrarem em suas agências. O próprio Presidente Bolsonaro, na última segunda-feira, não sabia sequer do que se tratava. Mas, diante das vantagens que o sistema deve trazer, com certeza vai ser lembrado pelo presidente daqui a dois anos, quando estiver disputando a já anunciada tentativa de reeleição.

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