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O PODER QUE NÃO PODEMOS TER

Quando ficção científica e terror começaram a se misturar no cinema e na TV, dois temas estiveram presentes em grande parte dos filmes: invasões da Terra por extraterrestres e o domínio da máquina sobre o homem.

Um pouco de cada coisa já começa a aterrorizar setores do poder no mundo todo. Os alienígenas da vez seriam “avatares humanos”, como podem ser chamados os perfis falsos espalhados pela Internet – o outro mundo, ainda que virtual. E as máquinas dominadoras podem ser, por exemplo, os robôs dotados de inteligência artificial, já apelidados de social bots.

Aqui no mundo real esses robôs também encarnam perfis falsos e discutem, com pessoas reais, temas para os quais são programados. Provocam, armam confusões e incitam práticas abomináveis como racismo e xenofobia.

Como amostra de poder, o último feito dos invasores pode ter sido a escolha do homem mais poderoso da Terra. O congresso americano está juntando provas de que eles foram decisivos na eleição de Donald Trump. Depois da confirmação por parte do Facebook e do microblog Twitter, agora foi o Google que revelou a ação russa pela Rede para favorecer Trump na eleição.

Por enquanto, o que esses gigantes da Internet confirmam taxativamente é o uso comercial de suas páginas por clientes russos ocultos, favorecendo o candidato republicano. Eles teriam gasto pelo menos US$ 100 mil em anúncios no Facebook e outros US$ 100 mil em endereços do Google, como o Youtube, Gmail e a rede de publicidade DoubleClick. No Twitter a conta foi mais alta. Já identificaram cerca de US$ 274,1 mil em publicidade durante o ano passado.

Em todos esses casos os anúncios exaltavam principalmente Trump e outros candidatos, à exceção de Hillary Clinton. Ela era a candidata favorita e que, de fato, teve a maior votação pelo país. Só não levou o cargo porque teve votação mais concentrada em alguns colégios eleitorais e isso não é aceito no sistema americano.

O maior empenho nesses anúncios era a desinformação. Notícias mentirosas para minar a candidatura democrata.

A GEOPOLÍTICA DO ABSURDO

Enquanto o congresso pressiona as gigantes da Internet para fazerem varreduras em suas contas, o governo Trump pouco apoia o esforço de investigação. Desde o ano passado a CIA e o FBI já confirmaram os indícios de ações do Kremlim nas eleições. E a única consequência disso foi a demissão de James Comey, então Diretor do FBI, que conduzia as investigações sobre o caso.

Os anúncios podem ser apenas a ponta do iceberg que Moscou deslocou contra os planos de Hillary. O Facebook afirmou que fechou 470 páginas associadas aos anúncios de origem russa. Elas não teriam se ajustado à política da rede social. No Twitter foram 210 contas fechadas pelo mesmo motivo, com as mesmas características. Como centros difusores, em todos esses casos, estariam o site noticioso RT e a Internet Research Agency. No Google, os contratantes “laranjas” seriam outros, o que aponta para uma rede maior ainda.

Se os anúncios já têm origem clara, a ação underground ainda não foi dimensionada. Entre os casos mais rumorosos estaria o vazamento de e-mails de Hillary que estavam na conta do Partido Democrata. A divulgação foi do WikiLeaks, mas a obtenção das mensagens teria sido obra de hackers russos. Eles estariam atuando até hoje, fomentando embates em questões sensíveis como o controle na venda de armas e a permanência de imigrantes nos EUA. Temas que podem promover instabilidades políticas em função de recentes posicionamentos de Trump. A ingerência começou na eleição, agora que “passou boi, passa a boiada”.

Enquanto tragédias como a do atirador de Las Vegas não conseguem mobilizar a política americana para mudar leis, o front da Internet amedronta muito mais alguns segmentos do poder. No mundo virtual a geopolítica é completamente outra. Governos russo e americano derrubam funcionários chave em órgãos de segurança dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo em que, na diplomacia real, os dois países vivem o pior momento depois do fim da guerra fria, por causa de um bombardeio americano contra instalações militares sírias.

Nesse diapasão, quem faria sucesso por lá seria o deputado brasileiro Áureo Lídio Moreira Ribeiro, do partido Solidariedade, do Rio de Janeiro. Ele conseguiu aprovar emenda na reforma política para submeter provedores e redes sociais às ordens de candidatos citados em publicações. A denúncia de “discurso de ódio” por parte de qualquer candidato seria suficiente para que o gestor fosse obrigado a retirar a publicação do ar. O conteúdo só voltaria depois de confirmada a identidade do autor. O motivo seria barrar a ação dos que se escondem por trás de perfis falsos.

Aqui no Brasil a reação à emenda do deputado foi tão contundente que ele próprio foi ao Presidente Temer pedir o veto ao dispositivo, aprovado pelos seus pares.

O HALTER EGO MAIS PERIGOSO

O poder que a Internet entrega nas mãos de qualquer internauta é muito maior do que a maioria das pessoas é capaz de administrar. A ameaça começa pelo potencial de disseminação de vírus, passa pela campanha falsa que repercutimos ingenuamente e chega aos ataques contra empresas cujos dados são sequestrados.

O perfil que temos na rede nem sempre é exatamente o nosso, mas dos nossos sentimentos mais reprimidos. Começa por uma foto onde muitos “editam” uma beleza surpreendente. Ali se acumulam histórias de vaidades, de conquistas fúteis, frases de grande altivez, outras de puro ódio. É nessa confusão de halter egos que surge o perfil falso, livre de toda a vigilância do politicamente correto. A identidade de cada um tende a uma “pátria moral”, cujos símbolos apontam os valores que verdadeiramente prezamos. É onde Trump e Putin parecem ter mais em comum, são concidadãos.

Criar um mundo talvez não fosse uma missão apropriada para a Humanidade. Mas ele está aí, na rede, e é irreversível. Aliás, com todos os defeitos que possa ter, ele oferece muito mais soluções do que problemas. É uma questão de saber organiza-lo da melhor forma. Vamos torcer para que o congresso americano avance nesse objetivo. Da nossa parte, se não servir a ideia do deputado Áureo Lídio Ribeiro, quem sabe a solução seja mandar o Sergio Moro pra eles.

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