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TECNOLOGIAS DISRUPTIVAS, OU SOMENTE ROMPIDAS

Há pouco tempo “convergência” era a palavra da moda. Indicava a tendência de produtos eletrônicos, com origens diferentes, passarem a funcionar sobre uma plataforma muito semelhante, digital. Foi assim com o telefone, o televisor, computador. Em alguns casos não se tratava mais de similaridade entre as máquinas, mas uma quase identidade, disfarçada apenas pelo design e pelo software.

A convergência, no entanto, não deixou de acontecer, pelo contrário, ficou apenas mais discreta comercialmente. Agora tem grandes chances de começar a se revelar na transmutação de muitos produtos, tradicionalmente classificados em segmentos de mercado muito diferentes. Por exemplo, carros, computadores, smartphones e até aviões (ou aeronaves). Os sinais mais evidentes, curiosamente, aparecem nas animosidades entre marcas.

Ford, Chevrolet, Toyota, Mercedes Benz e tantas outras marcas parecem fazer de conta que não sabem do interesse de Apple, Google e outras marcas cibernéticas na produção de carros. Novos conceitos, novas aplicações. Mas, carros. No meio desse tabuleiro, Ellon Musk, o famoso sul-africano radicado nos Estados Unidos, começou a produzir carros elétricos. Foi muito bem por um bom tempo, deu uma encalhada no Model 3, que seria um elétrico mais acessível para novas faixas de mercado. Depois começou a criar polêmicas.

Primeiro hostilizando a imprensa, depois fazendo acusações sérias e descabidas contra a equipe de salvamento dos meninos que ficaram presos numa caverna inundada na Tailândia. Mais recentemente, foi alvo de denúncias por uso de drogas, como maconha e cocaína, nas instalações da empresa, em Hawthorne, Califórnia. Porém, depois de tanto desperdício de energia, ele parece ter escolhido uma briga, digamos, saudável, que pode lhe render algo.

Na semana passada, depois de lançar o CyberTruck, um veículo comercial médio, resolveu provocar a Ford. Esperou o final de semana e postou um vídeo no twitter com o CyberTruck Tesla e uma picape F-150 num “cabo de guerra”. Os dois veículos, unidos por um cabo de aço preso às traseiras, aceleraram, um para cada lado. No vídeo, o CyberTruck arrasta a picape da Ford.

A tradicional fabricante de carros e caminhões aceitou a provocação. Sunny Madra, VP da Ford-X, convidou Musk para trazer a CyberTruck para um outro teste, sob condições de igualdade previamente estabelecidas.

A provocação de Musk, dias depois do lançamento do seu mais novo modelo, deu mais visibilidade a um vexame que ele mesmo promoveu durante o evento. Num paradigma semelhante a outras marcas de tecnologia de consumo, Musk quis destacar detalhes surpreendentes de seu veículo. Deu marretadas na porta para demonstrar a resistência do material. A carroceria é de aço inoxidável laminado a frio. Algo tão resistente que influiu no design do carro, uma vez que não pode ser moldado com formas suaves. A engenharia do veículo usou essa resistência para dar mais funções à carroceria na estrutura do carro.

Mas os engenheiros dos vidros não tiveram a mesma sorte. Criaram o “inquebrável” Tesla Armour Glass, tecnologia que inflou o orgulho da marca a ponto de ser batizado como filha legítima. E que quebrou no primeiro teste, ao vivo, fazendo o rei Musk se dar conta da imediata nudez. Pior foi a desculpa que ele mesmo arrumou, novamente via redes sociais. “Explicou” que as batidas da marreta na porta abalaram o vidro. Ahã! Deve vai sair de fábrica com um adesivo do tipo “vidro inquebrável – desde que feche a porta com delicadeza”.

Enrubescimentos à parte, o lançamento pode, sim, revelar-se um bom golpe de marketing. Tanto para o CyberTruck, que mostrou qualidades inegáveis, como para a Ford, que já não é mais aquela Ford toda, e anda precisando de holofotes. Momentos como esse despertam para os novos rumos da indústria. Faz tempo que não se vende mais carro falando do motor. O que faz a diferença é o computador de bordo, comandos de voz, manobras autônomas e outras peripécias digitais. Carros tendem à motorização elétrica, assim como aeronaves, pelo menos as do tipo que o Uber vem anunciando para as grandes cidades. Com o desenvolvimento de novos materiais, as perspectivas de uma nova “convergência” tecnológica tende a se acentuar. Quem sabe, até chegar a “transformers” pacíficos, funcionais.

O CyberTruck terá opções de dois ou três motores e as baterias podem ter autonomia de 400 a 800Km, dependendo da escolha do cliente. Vai de zero a 100Km/h em 6,5 segundos e pode carregar até 1,6 tonelada de carga. Só vai chegar ao mercado em 2021, a partir do preço de US$ 40 mil porém, segundo a empresa, já foram encomendadas 200 mil unidades. Como a encomenda custa US$ 100,00, nem é tão difícil colocar o nome na lista. Vai ser interessante saber, daqui a dois anos, quem de fato vai completar os US$ 40 mil para retirar o carro.

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