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A DISPUTA POR MAIS ESPAÇO NO MUNDO CIBERNÉTICO

“Pelo menos 2,7 bilhões (de pessoas) nunca tiveram acesso à rede (Internet).” O dado foi divulgado pela ONU no ano passado, por meio da UIT – União Internacional de Telecomunicações, o órgão das nações unidas para o setor. Isso significa que, em média, para cada 3 habitantes da Terra, um não está conectado. Esse é o olhar que identifica “o copo um terço vazio”. O que permite dizer que, pelo olhar otimista, temos dois terços de pessoas conectadas. Antes da pandemia era só metade da população.

Deixando de lado os otimistas – e também eventuais pessimistas – o mundo real indica que uma outra demanda tende a passar na frente desse terço da humanidade que está desconectado. Esse alerta é mais recente e veio por meio de pesquisas contratadas por grandes empresas relacionadas ao novo nicho das telecomunicações. É um mercado estimado pela Juniper Research em US$ 3,6 bilhões para as provedoras de sinal. A nova demanda são os carros conectados. Os estudos a respeito foram apresentados primeiramente pela Siemens e agora pela IBM, numa parceria com a Jaguar Land Rover e a GSMA, a associação internacional de telefonia móvel.

Os dados considerados são de que no mundo existem cerca de 1,5 bilhão de carros. O risco de colapso no tráfego de dados para carros conectados surgirá quando 20% desse total estiverem conectados, ou algo em torno de 300 milhões de unidades. De acordo com o site TeleSíntese, a preocupação vem do fato de que o número de carros conectados cresce muito rapidamente. Em 2022, pela primeira vez, a quantidade de carros conectados vendidos no mundo foi maior do que as vendas de não conectados. Essa proporção está crescendo a uma taxa de 17% ao ano. Se continuar assim os 300 milhões devem ser facilmente ultrapassados daqui a 4 anos. A estimativa é da Counterpoint Research.

Quando a ONU divulgou o relatório há um ano havia um certo pessimismo. O ritmo de crescimento das conexões tinha acelerado durante a pandemia. Mas ficou mais lento quando o povo voltou para as ruas. O chinês Houlin Zhao, atual secretário da UIT, disse que a meta prevista para 2030, de conectar o mundo todo, corria o risco de não ser cumprida. Agora, com o surgimento do alerta quanto à conexão dos carros, será que aquela parcela da população vai demorar mais ainda para conseguir acesso?

Mesmo sem otimismo dá para supor que não. Os carros em geral representam um mercado importante para os provedores. E eles vão para todos os lugares. As montadoras, provedores, fabricantes de equipamentos, desenvolvedores de sistemas de tráfego inteligente, gestores da nuvem e de satélites vão acabar formando parcerias para garantir esse acesso. E vão repassar esses custos para os clientes proprietários de veículos. É assim que a rede vai ser arrastada pelos carros para todos os lugares. Com uma infraestrutura segura e confiável para a troca de dados dos carros, fica muito mais fácil providenciar o que ainda faltar para acesso das populações. A propósito, o próprio relatório da UIT aponta que “aqueles que ainda vivem sem acesso à internet moram em áreas remotas e de difícil acesso”. É nesses locais onde os proprietários vão sentir mais firmeza num carro que está conectado. Por outro lado, se o sinal não chegar, ficará a impressão, para o proprietário, de que pagou por recursos que não chegaram quando ele mais precisou.

O crescimento da quantidade de carros conectados no mundo, por outro lado, está sendo visto com algumas ressalvas. O problema seria o uso de muitos componentes chineses nessas conexões automotivas. Na Inglaterra, políticos conservadores se dizem preocupados. O portal UOL informou que Alicia Kearns, do comitê de relações exteriores da Câmara dos Comuns, acredita que o partido comunista chinês “está tentando construir um estado tecnológico totalitário”. Uma consultoria advertiu que os sensores dos carros conectados podem permitir o mapeamento de prédios governamentais. A preocupação cresce porque a Inglaterra quer trocar toda a frota por veículos elétricos até 2030. Esses veículos são conectados de origem e a China é o maior fabricante no momento, como também das baterias que eles usam.

Entre os conservadores ingleses há quem desconfie de que os chineses iriam usar os carros conectados até para ouvir conversas das pessoas. A criatividade em torno desses “riscos” faz a conversa ficar até divertida. Porém, o que pode acontecer de concreto com relação a essas hipóteses, só vamos saber daqui a alguns anos.

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