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ALGORITMOS E A DISCIPLINA PARA BONS NEGÓCIOS

O “bug do Milênio” será um marco da tecnologia da informação. Ainda não é, mas será. Nas escolas de TI, em todos os níveis, praticamente ninguém fala sobre isso. Muitos jovens profissionais podem nem saber do que se trata. Pelo sim, pelo não, vale recordar.

Na década de 90 do século passado houve, no Brasil, a grande explosão comercial da informática doméstica. Nos computadores as datas eram informadas com seis números. Quer dizer, o ano era indicado de acordo com a década. Assim, os números 92, 93, por exemplo, se referiam respectivamente aos anos de 1992, 1993. O ano 2000 passaria a ser o ano 00. Como assim? Como o computador vai “entender” isso?

Em pouco tempo criaram uma solução. Por meio de protocolos simples, especialistas em informática puderam adaptar os sistemas, de forma que as datas fossem anotadas por completo, com oito dígitos. Porém, certeza mesmo, só no momento em que o relógio de cada computador virasse o 01/01/2000. Se até hoje a informática é cercada de um certo fetiche, imagine como era naquela época. Sem contar o fato de que havia muito menos pessoas que conheciam da matéria. Tudo contribuiu para as teorias conspiratórias. Um colapso das telecomunicações, dos bancos de dados, estavam no horizonte. Será que os mísseis podem ser disparados pela falta de referências? Telefones ficarão mudos? E os instrumentos de aviação? Alertas de todo tipo circularam.

Depois do “fiasco” da plena normalidade, tudo pareceu em vão. No entanto, até hoje vários problemas acontecem pelo desprezo das lições daquele episódio. Por exemplo, o fato de que os sistemas digitais precisam de regras muito precisas para servirem adequadamente a sociedade. Eles têm uma capacidade imensurável de absorver e processar os mais variados tipos de dados e procedimentos. Desde que o detalhamento de cada passo seja matematicamente minucioso, exato. Nesses detalhes, o algoritmo precisa conter também as normas de interesse público. A burocracia das leis precisa ser resolvida antes, para que a máquina receba os códigos com a máxima funcionalidade. Só assim é possível elevar a qualidade e a confiabilidade no que diz respeito ao que é oferecido para a sociedade. Um exemplo concreto está na chamada Lei das Fake News que o Congresso tenta aprovar. A ideia é que a grande capacidade dos sistemas digitais não seja posta a serviço de interesses escusos.

Hoje, quando computadores pessoais mais funcionam como instrumentos de comunicação, a sigla da área praticamente mudou para TIC – Tecnologia de Informação e Telecomunicações. Equipamentos de telecomunicações, em geral, são totalmente digitalizados. Mesmo assim, milhões de unidades de um equipamento muito importante, funcionam há décadas no Brasil sem que “existam” em qualquer registro oficial. Desde antes da digitalização, já atendiam muitos lares. Uma “clandestinidade branca”, pois a existência deles não é nada secreta e o serviço que prestam serve a um grande contingente de pessoas. Segundo o IBGE, em 2021 o Brasil tinha 16 milhões de residências com antenas parabólicas. Pouco mais da metade estavam na zona rural porém, em muitos pontos de áreas urbanas, só parabólicas conseguem trazer o sinal da TV aberta. Ou seja, para cada cinco lares brasileiros onde se assiste à TV aberta, um recebe o sinal por antena parabólica. É um percentual expressivo.

Com a chegada do 5G no Brasil as grandes operadoras perceberam que iriam precisar da faixa de frequência da chamada banda C, usada para descer o sinal da TV aberta do satélite até as parabólicas. E para que não houvesse um apagão televisivo em pouco mais de 20% dos domicílios, decidiram remanejar o sinal de TV aberta por satélite para a banda Ku. As famílias carentes teriam de contar com apoio do governo para a troca dos kits de recepção. Algo embaraçoso, pois se trata de dinheiro público para um sistema de comunicação oficialmente invisível.

Agora o Ministério das Comunicações decidiu regulamentar o uso das redes de satélite, como serviço complementar da radiodifusão aberta, segundo informa o site TelaViva. Sem nenhum controle, como está atualmente, qualquer empresa, sendo radiodifusora ou não, pode subir sinais de TV nos satélites e transmitir para qualquer receptor. A nova regulamentação deverá incluir uma alternativa no “algoritmo” dos negócios de comunicação. A ideia é que os satélites passem a formar uma rede auxiliar de retransmissão (RTV-SAT). Os canais pagos que utilizarem a rede serão categorizados como serviço de telecomunicações e as transmissões abertas, como radiodifusão. Para quem já está transmitindo por satélite vai ser necessária uma permissão de funcionamento. Para quem quiser entrar agora deverá passar por um processo mais amplo. No caso de quem já tem concessão de radiodifusão a rede de satélites continua disponível. A regulamentação chega para dar a disciplina necessária ao bom funcionamento de qualquer negócio.

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