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A HISTÓRIA DOS TRILHOS E O BONDE DA HISTÓRIA

O Brasil registra um caso raro no seu modelo de desenvolvimento: a substituição de trens por caminhões. Trocaram estradas de ferro por estradas de terra ou asfalto. No mundo todo o que se viu foi uma soma, modernizaram as estradas de ferro e os veículos ferroviários, como acontece no setor rodoviário. Aqui acabamos por constituir a prova de que o desprezo de uma das alternativas é um grande prejuízo.

Mesmo assim, há quem defenda a exclusão ferroviária. O argumento é de que a indústria automotiva puxou uma cadeia produtiva imensa, alavancando a economia. Mas se você não é fabricante de automóveis sabe que esse álibi é fraco. Há vários indicadores de que as ferrovias teriam trazido tanto desenvolvimento que hoje, as indústrias brasileiras em geral, estariam maiores e mais fortes, até as de carros.

A via que se quer extinguir agora é a radiodifusão. Interessados no que seria o espólio da TV aberta, já divulgam até a data do “switch off apocalíptico”: o ano de 2030! Isso porque estão falando do mais eficiente canal publicitário, tanto comercial como institucional, para vender e convencer com produtos públicos e privados. A via da radiodifusão, inteiramente construída e mantida sem gastar dinheiro público, une o Brasil de Norte a Sul, através de uma infraestrutura de alta qualidade. Reúne profissionais altamente especializados e articula importantes cadeias tecnológicas. Será que é só isso?

GRANDE NEGÓCIO

Se não fosse um grande negócio, a TV aberta não teria formado um hábito mais doméstico e familiar do que macarrão com frango aos domingos. Criou assentos cativos na sala, horários da chegada em casa, ou de saída para a balada. No Brasil, em função do sucesso da TV aberta, o hábito é nacional. Por isso, mesmo em meio a muita coisa inútil, tem campanhas importantes, difusão cultural e mobilizações sociais que acontecem pela TV. É o que está levando agora um setor do governo a lutar por uma causa que deveria ser também de todos os radiodifusores. A EBC – Empresa Brasileira de Comunicação, do Governo Federal, está propondo a criação de um grande sistema de integração nacional a partir da TV digital aberta. André Barbosa, Superintendente da EBC, acha que o momento nunca foi tão oportuno.

Com a antecipação do leilão da banda de 700 MHz, que vai ser liberada para a Internet 4G, as empresas de telefonia assumiram compromissos com o governo. A banda é ocupada por algumas emissoras analógicas, que precisarão antecipar obrigatoriamente a mudança para o sinal digital. Isso significa que o “apagão analógico” vai acontecer mais cedo em algumas regiões do Brasil. O custo dessa pressa das teles vai ser a doação de equipamentos para emissoras e de set-top boxes, os chamados “conversores”, para famílias de baixa renda. No caso, cerca de 14 milhões de lares atendidos pelo Bolsa Família. Os set-top boxes precisam ter o programa Ginga, o middleware desenvolvido no Brasil que permite interatividade.

A questão é que existem vários perfis do Ginga. O Fórum da TV Digital optou por desenvolver inicialmente um perfil que não suporta a execução de vídeos pelas aplicações interativas, limitando as possibilidades de aplicações que atualmente devem ser baseadas apenas em conteúdo de texto e imagens estáticas. Por isso, André Barbosa quer que seja padronizado o perfil utilizado no programa “Brasil 4D” (aqui não é 4G!). Segundo ele, trata-se de um perfil avançado do Ginga que possibilita aplicações mais ricas em conteúdo audiovisual e que funciona com uma banda de celular de baixo tráfego de Internet – que tem em qualquer lugar – e o sinal da TV. Aí sim, daria para universalizar o acesso a Internet através da TV digital.

“PREST’ATENÇÃO!”

A segunda tela é um acessório que está sendo incluído muito rapidamente no hábito de assistir à TV. Uma tela é broadband (banda larga de Internet, normalmente via tablet) e a principal é broadcast (via radiodifusão, que é o sinal de TV aberta). Pelo que se ouve, a briga entre as duas telas já começou. Por que não “turbinar” o sinal de TV aberta onde ainda vale a pena?

Nos testes que estão sendo feitos com famílias da Paraíba e do Distrito Federal, o Ginga 4D permite consultas bancárias na Caixa Econômica Federal e no Banco do Brasil, confirmação de consultas médicas na rede pública, consulta de vagas de emprego e outros serviços. Quando esse potencial estiver em 14 milhões de lares, a tendência é que muitos outros tele-serviços públicos sejam criados, inclusive em níveis municipal e estadual. Isso sem contar as redes privadas de vários serviços, como os bancos, consultórios médicos, salões de beleza. Daí sim, o público que já tem banda larga em casa, poderia voltar a olhar a interatividade da TV aberta com outros olhos.

O salto do analógico para o digital na TV aberta foi enorme. Porém, até agora, por falta de interesse dos radiodifusores, um potencial gigantesco continua desprezado, sem uso. Enquanto isso, a Internet banda larga tenta comer pelas beiradas o espaço comercial da TV aberta. Se em outros países do mundo isso é muito fácil, no Brasil, onde a TV digital aberta ainda lidera, pode ser diferente. Funcionando aqui o Ginga 4D, pode ser exportado para toda a América do Sul. É um “carro extra” do bonde da história que está passando em frente aos radiodifusores e produtores de softwares brasileiros. Interessa!?

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