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A FRONTEIRA MAIS CONFIÁVEL É A TECNOLÓGICA

O seguro obrigatório do carro, ou DPVAT, é útil para a sociedade brasileira? Ou a extinção daquele seguro foi apenas uma forma de atingir um desafeto político do presidente? É o que dizem vários analistas políticos.

E a Amazon? Estaria sendo “queimada” por Trump apenas para atingir Jeff Bezos, desafeto do presidente americano? É o que está escrito num processo que corre em segredo de justiça numa corte americana.

Está cada vez mais difícil dizer “só poderia ser no Brasil”. Lamentável que a coisa esteja se nivelando por baixo mas, o que se vê claramente, é que os adornos éticos que contornavam fronteiras estão sumindo. Quem critica Bolsonaro pela indelicadeza com a primeira dama da França, tem que lembrar de Trump dando as costas e saindo na frente de uma senhora quase centenária. Uma grossura, inaceitável em qualquer ponto de ônibus da periferia paulistana. Só que a velhinha que Trump ignorou era Elisabeth II, rainha da Inglaterra.

Se quiser culpar a tecnologia pela falta de educação, até dá. Pessoas mais esclarecidas vão discordar, no entanto, abaixo da linha do bom senso há teses que, suficientemente deturpadas, serviriam de base. Poderia começar pela ideia de “aldeia global”, famosa nas palavras do filósofo canadense Marshall McLuhan. Estávamos na segunda metade do século passado e McLuhan, no livro “A Galáxia de Gutenberg”, refletia no que o mundo se transformava a partir da tecnologia dos meios de comunicação de massa, principalmente a TV, e dos meios de transporte, principalmente aéreo. Caminhávamos, segundo ele, para uma cultura mais ou menos universalizada, onde a facilidade de transporte físico ou virtual aproximaria tanto as diversas culturas, que traria de volta hábitos do provincianismo das aldeias. Culpa da TV, do avião a jato, dos carros e caminhões modernos? Só se for a mesma culpa impingida ao relógio, pelas rugas que nos aparecem na cara.

Tecnologia sempre foi a chave do poder. Se fosse diferente, o poder econômico teria garantido a vitória dos estados do sul na guerra da secessão americana. Hoje, nem o poder econômico escapa do domínio tecnológico. Depois que Bill Gates se tornou o homem mais rico do mundo, nunca mais um grande produtor de petróleo voltou a liderar a lista. Eventuais trocas, sempre acontecem entre empresários do setor de tecnologia.

O efeito que tem se agravado é a distância extrema de poder entre as nações capazes de desenvolver inovações e as que simplesmente compram os últimos lançamentos. Num passado remoto, valentia até superou a tecnologia dos exércitos de então. Hoje, não mais. Muitos testemunharam o que foi o conflito entre argentinos e ingleses pelo domínio das ilhas Malvinas. E hoje, a iminência de uma guerra entre Irã e Estados Unidos, nos faz raciocinar sobre os estreitos limites de possibilidades para quem queira atacar solo americano.

A convivência virtual que a Internet nos permite com todo tipo de gente, a grande circulação de maus exemplos pelas redes sociais, trazem uma toxidade que nenhuma tecnologia produziu. As máquinas e algoritmos simplesmente multiplicam, seja lá o que for carregado – por nós – na memória eletrônica.

Para os mais esperançosos, o Brasil ainda vive um momento de escolha. No ano passado, a balança comercial brasileira voltou a formar superávit com base nas vendas de commodities, produtos de baixíssimo valor agregado. Itens como minério de ferro, soja, carnes, café, suco de laranja. Será esse o caminho?

Com ou sem guerra, em 2020 precisa nascer novamente a convicção de que o país precisa, antes de mais nada, investir em ciência e tecnologia. Commodities e mão de obra barata, pouco qualificada, precisam reduzir muito o lugar na pauta de exportações. Não pela redução de oferta desses bens, mas por um crescimento muito maior de produtos exportados com maior valor agregado.

O Brasil é o oitavo maior fabricante de veículos do mundo e, nesse quadro, é o único país que não tem uma marca própria. O país também está entre os 10 maiores mercados mundiais de automóveis. Num momento em que a tecnologia de motores está migrando para a tração elétrica, diferenciais como disponibilidade de muitos minerais para produção desses motores, energia elétrica sustentável e abundante, podem representar uma vantagem competitiva para o Brasil. Falta saber em que direção aponta a política industrial, para que planos de investimentos possam ser projetados.

Uma piada antiga diz que, a cada espirro de um país rico, o Brasil pega uma pneumonia. O “elixir” capaz de nos permitir respirar aliviados em momentos de tensão no planeta, só vai existir quando as universidades e instituições de pesquisas estiverem trabalhando muito no desenvolvimento de tecnologias próprias. Até que isso aconteça, a neve do Hemisfério Norte vai continuar trazendo calafrios para o nosso Brasil, tão tropical.

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